Dizem que o amor existe. Eu também já disse isso — em
voz alta, inclusive, pra ver se convencia o espelho. Mas hoje, se me perguntarem,
eu hesito. O amor está aqui em algum lugar no mundo, dizem. E eu reviro as
gavetas, os bolsos da alma, os restos de fé esquecidos debaixo do tapete.
Encontro de tudo: recibo de ex, boleto de saudade vencida, cartão-postal do
“quase” com carimbo borrado. Mas o amor? O amor está sempre saindo pela porta
de emergência.
Já acreditei nele como quem acredita em disco voador:
não vi, mas jurei que era real só porque queria muito. Aí vieram os amassos, os
jantares à luz de vela (com conta dividida e silêncios longos), as promessas
feitas em noites bêbadas e desfeitas nas manhãs de ressaca emocional. O amor
estava lá? Talvez. Mas era tímido. Tão tímido que só se deixava ver de relance,
como aquele fantasma que atravessa a sala quando a gente está sozinho e cansado
demais pra gritar.
No colégio, disseram que o amor era coisa de príncipe
e princesas da Disney. Depois, na vida real, descobri que príncipes e pricesas
andavam de Uber, sumiam no dia seguinte e às vezes pediam pra “ver onde isso
vai dar” — e o “isso” geralmente dava num abismo chamado “não é bem o que eu tô
procurando agora”. Eu? Tava procurando o amor. Elas? Um wi-fi emocional pra se
conectar quando a solidão dava sinal fraco.
Todo mundo insiste: “O amor está aqui em algum lugar
no mundo”. Mas e se ele tiver mudado de nome, feito harmonização facial, virado
coach de relacionamentos tóxicos? Às vezes acho que o amor foi demitido,
terceirizado por carência, substituído por like, cafuné com data de validade e
sexo que começa com Tinder e termina em terapia.
Você me diz pra acreditar. Eu sorrio com os dentes,
mas não com os olhos. Acreditar é bonito — mas também é cansativo. Já queimei a
língua em sopa fria de paixão, já construí castelo com areia movediça, já
plantei carinho e colhi cacto. Ainda assim, sigo tentando, como quem joga moeda
no poço achando que é fonte dos desejos, mas o único desejo que se realiza é o
do poço com mais uma moeda.
Às vezes penso que o amor é um bicho em extinção. Está
lá, escondido em alguma floresta emocional, esperando que a humanidade pare de
gritar. Quieto, ferido, desconfiado. Eu entendo. Eu também ando assim.
O amor está aqui em algum lugar no mundo, eu sei.
Talvez esteja dormindo, cansado de tanto ser confundido com carência. Talvez
esteja perdido num ponto de ônibus, sem sinal no celular. Ou então, o mais
provável: talvez o amor seja esse lugar que nunca cheguei, mas continuo
tentando alcançar mesmo sem saber a direção — só pra não morrer parado.
Afinal, acreditar dói. Mas desaprender a crer... ah, isso mata por dentro, devagarzinho. Feito amor não correspondido.
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