domingo, 4 de maio de 2025

Quinze segundos, skincare e influencers.

 Por Mauro Marcel

Eu achava que “influencer” era uma palavra bonita. Tinha algo de mágico. Lembrava poeta. Alguém que tocava o outro sem precisar encostar. Que movia corações, ideias, escolhas. Influenciar, no sentido mais puro, era quase uma forma de amar: você planta uma ideia em alguém, e ela brota, floresce, transforma. Mas hoje… bom, hoje “influencer” é sinônimo de alguém com um celular e tempo livre.

E antes que digam que é recalque, que é amargura, aviso: talvez seja. Tenho visto tanta gente influente que não diz nada. Gente que não cria, não pensa, não arrisca. Só repete. Dubla. Desempacota (vou chamar assim o que chamam de unboxing). Dança. Testa produto. Uma enxurrada de conteúdos em que o conteúdo é o que pouco ou nada importa. E tudo igual. Tudo. Os mesmos filtros, os mesmos fundos brancos, as mesmas legendas com emojis milimetricamente colocados para serem metodicamente espontâneos.

Não é disso que quero falar agora, embora já tenha começado. O que me assusta é que esse comportamento deixou de ser exceção. Virou referência. Modelo. Inspiração.

Os jovens — esses mesmos que um dia sonharam em ser astronautas, médicos, músicos ou, valha-me Deus, youtubers — agora querem ser apenas… famosos. Por quê? Por nada. Pela fama em si. Querem ser vistos, seguidos, adorados. Querem, valha-me Deus, “engajar”.

E aí você abre o Instagram e vê um vídeo de alguém ensinando como fingir que está vivendo bem. Sim, fingir. Como parecer saudável. Como montar uma mesa de café da manhã que ninguém vai comer. Como criar a “rotina perfeita” para os stories — que começa às 5h com meditação e termina às 22h com skincare. Não se vive assim. E se todos querem parecer assim? 

A estética venceu a verdade.

Lembro de quando influência era feita com silêncio. Com presença. Com uma conversa no portão, com um livro emprestado, um disco, um instrumento musical,  uma canção que alguém mostrava e que virava sua trilha por um mês. Hoje, influência vem com código de desconto. Ou com publi disfarçada de opinião sincera. E o pior: a gente sabe. Mas segue consumindo. Dando like. Comentando e aprovando uma vida que não existe nem pra quem posta. 

Às vezes me pergunto se existe, na internet, nos idos de hoje, espaço para o real. Para o imperfeito. Para alguém que simplesmente aparece e diz: “Não estou bem.” Ou: “Não tenho o que mostrar.” Ou ainda: “Não quero vender nada.” 

Mas a dor não viraliza. Não engaja. Não monetiza. 

O algoritmo não te quer honesto. Não quer sendo você. 

Não quer você em mim, eu em nós, e nós todos sem comprar o último lançamento da última modinha do verão.

Estamos viciados em ser vistos. Ninguém mais quer ser. Quer parecer. E nisso, perdemos algo que não sabemos nomear. Uma dignidade silenciosa, talvez. Um tipo de verdade que não se fotografa. Algo precioso justamente por não se mostrar.

O mundo dos influencers não me revolta. Me entristece: há nele um espelho do que nos tornamos: carentes, inseguros, obcecados por validação. 

Pessoas que não sabem se estão felizes ou performando felicidade. Que não sabem se gostam de algo ou apenas obedecem à programação digitada na mente, e compram, compram e compram.

No fundo, bem no fundo, a influência à moda antiga não tenha acabado. Talvez só tenha sido sequestrada por quem não tem nada a dizer. E quem tem, desistiu de tentar.

Até a próxima crônica — depois que voltar do shopping center e caso eu ainda tenha algo a dizer que não caiba num story de 15 segundos.

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