segunda-feira, 20 de julho de 2015

Coreia do Norte, neomilionários e ONGs

Resultado de imagem para para gay crucificaçãoUm aluno meu uma vez me perguntou qual era a minha ideologia. Eu que há tanto não pensava mais nisso, perguntei ao jovem do motivo da curiosidade, me respondendo que eu tinha fama, entre os meus pares e demais estudantes, de ser um direitista.
                Achei curiosa a informação. Não tinha noção de ter sido em algum momento alvo de comentários, aprovação ou reprovação, enfim, estamos no mundo e nele sujeitos ao julgamento de todos, o que me permite julgar também. Daí escrever em meu blog, gravar vídeos, fotografar, fazer teatro, cartuns, escrever livros.
                Quando deixar este mundo terei um curto espólio que ficará perdido no imediatismo da rede, sempre tão propensa a ideias fritas. Aquelas feitas para serem comidas quentes e nunca provadas depois. A internet é um grande pastel, come-se agora; sem valor algum no futuro. Vez ou outra, alguém prova-o frio, recuperando alguma imagem antiga, fatos passados, na internet seis meses é muito tempo, mas divago. Volto para o meu ponto:
                Pedi que lesse os meus escritos e me dissesse o que pensava de minha ideologia, isso e a minha postura enquanto professor.
                Sabendo que o efebo não faria o que pedi, uma semana depois separei um espaço de tempo pra conversar explicando os pontos da minha atitude enquanto pensador. E pra minha surpresa o rapaz havia pesquisado em meu blog, leu alguma coisa do meu livro e até reparou em minhas aulas. O que não o levou a tirar grandes conclusões.
                Não sou de direita, posto que também não sou de esquerda. Me achava um liberal progressista, hoje não me acho tão progressista assim. Mas fala sério, se me comparar com a maioria dos que se dizem liberais... deixa pra lá.
                Resumidamente um esquerdista é um alguém que acredita no poder controlador do Estado na economia, quanto mais influência o governo tiver nos meios de produção, mais uma economia pode ser considerada de esquerda.
Eu não acredito nisso, não mais. Um grande exemplo de onde isto acontece no mundo é a Coreia do Norte. Lá o Estado não controla apenas a economia, mas também cada aspecto da vida de cada indivíduo, isto é, o esquerdista não acredita no ser humano enquanto indivíduo, mas enquanto coletividade.
                Daí as organizações como sindicatos, movimentos sociais e ONGs serem, à priori, grupos de esquerda.
                Também resumidamente um direitista é, obviamente alguém que acredita no oposto ao que um esquerdista pensa: o Estado deve interferir o mínimo, ou nada, na economia. Deixando os meios de produção se virarem por conta própria.
Há o termo cunhado por Adam Smith “A mão invisível do mercado” que deve gerir os caminhos do capital.
Eu não acredito também nisso não. É necessário algum grau de controle para que abusos, principalmente para o lado mais fraco, ou seja, os trabalhadores, não seja prejudicado nesse processo.  
                Sem os “direitistas” não teríamos luz elétrica, celular, computador, automóveis, penicilina e tudo o que está te cercando neste momento enquanto você lê o que agora eu escrevo, pasmem roqueiro comunista, sem os direitistas não teríamos nem o rock’n roll.
                Sem os “esquerdistas” ainda trabalharíamos dezesseis horas por dia, inclusive as crianças, não haveria férias remuneradas, licença maternidade, segurança no trabalho, dissídio coletivo, e todos os direitos trabalhistas e outros como o direito do consumidor, frutos de lutas da população por uma relação mais justa com os donos dos meios de produção.
                Acho que já dá pra ver onde eu quero chegar. Mas ainda não.
                Uma confusão geralmente feita nos dias de hoje é confundir esquerdista com liberal e direitista com conservador.
                Um liberal é o fulano que acredita que o mundo deve seguir pra frente e mudar aceitando ideias novas, às vezes perigosas por falta de teste, como liberação das drogas, todas elas, ou uma proposta de meio termo como a da liberação da maconha. Também a questão do casamento gay, muito em voga entre os liberais.
                Um conservador como o nome mesmo diz, é o cara que acredita que as coisas, justamente por terem sido experimentadas, devem continuar como estão. Daí o sujeito defender o casamento tradicional entre um homem e uma mulher, às vezes, (repito: às vezes) não é por mal, o medo do novo afeta a todos, mas o conservador leva isso para sua vida. Então acredito ser normal um indivíduo que viveu seus melhores anos de vida no período da ditadura militar querer conservar o governo ditatorial brasileiro.
                Todos somos liberais em alguns aspectos e conservadores em outros.
Como a jovem toda descolada pulando a janela para aos bailinhos nos anos 1970 e transando sem usar a pílula, mas se recusando abortar por estar carregando uma nova vida em seu útero, mesmo com poucas semanas.
                Ou o grupo que se levanta a favor da liberação da maconha e se ofende com os cigarros da Souza Cruz.  
Não é hipocrisia como muitos dizem: é o ser humano. Contraditório pela própria natureza.
Ainda: o  roqueiro ávido por novidades, mas que odeia as novidades de agora: “quanto barulho meu Deus do céu, no meu tempo é que a música era boa, etc. etc.”
                Será tão difícil encontrar alguém que defenda o casamento gay (super liberal) e seja contra o aborto (conservador)?
Resultado de imagem para estados unidos bandeira                O grande problema de hoje é que o esquerdismo tem um irmão feio (horroroso aliás) chamado comunismo. Seria o esquerdismo levado às últimas consequências como na já citada Coreia, ou na extinta União Soviética, entre outros exemplos de países que deixaram tudo na mão do estado e deixou a população até sem papel higiênico.
                O problema é que o mundo não está mais divido desta forma. Sabe aquelas aulas sobre a Guerra Fria? Dois blocos aliados, muro de Berlim e coisa e tal? Pois é, o mundo não é mais daquele jeito. Mas parece que tem uns esquerdistas conservadores que insistem na mesma ideia de dividir as pessoas em alinhadas aos Estados Unidos ou à URSS, porém a URSS não existe mais, o que restam a elas?
                A resposta é bem simples: cooptar todos os movimentos sociais, as minorias, os desvalidos e se arvorarem de defensores deste público. Daí os líderes do Movimento Negro, por exemplo, serem de orientação marxista (Karl Marx o idealizador do Comunismo nas páginas de O Capital, livro que não conheço um comunista que tenha lido).
Mas gira uma confusão na minha cabeça ao perceber que a luta deste movimento não é para que haja mais intervenção do Estado na economia, mas para que haja ascensão social do povo negro, típico de um movimento burguês. (Não me levem a mal amigos do Movimento Negro, sou a favor de todas as políticas de ação afirmativa, apenas não acredito ser uma luta clássica de esquerda.)
Resultado de imagem para papa francisco bolívia cruz comunista                Há inclusive alguns equívocos, por exemplo, o de acharem todos os líderes de esquerda iluminados de Deus. Che Guevara era comprovadamente contra os homossexuais. Foi numa parada do orgulho gay que vi vários participantes com a famosa camiseta do rosto e da boina.
                Ou de que todo líder de direita seria um fascista. Se não fosse pela liderança de Winston Churchill na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial o mundo seria bem diferente do que é hoje. Também não podemos generalizar, basta estudar um pouco de história: também graças à socialista União Soviética e aos capitalistas Norte Americanos. É claro, cada um com seu interesse.
O erro é ver em um lado os mocinhos e no outro os vilões. Não há isso no mundo me querido amigo, nunca houve, nunca haverá.
                O fato: sem os investimentos, pesquisas e competição do mundo capitalista você jamais teria esse celular aí no seu bolso, talvez nem a alface cheia do agrotóxico que insultamos, mas passaríamos fome assim como nos informa Thomas Malthus em “An Essay on the Principle of Population”.
                Como dá pra ver, respondendo à pergunta do meu aluno: em questão de esquerda e direita fico com a direita pela organização, pesquisa, tecnologia, mais anos de vida. E com a esquerda pela conquista dos direitos trabalhistas, lutas sociais e busca do bem estar coletivo.
                Odeio a direita quando trata o ser humano como apenas uma máquina de produzir riquezas, um escravo moderno. Ojerizo esquerda quando esquece que todo ser humano é um indivíduo autônomo e capaz de decidir seu próprio destino, em suma, odeio ideologias coletivistas.
                Que fique bem claro: nenhum país é inteiramente socialista (esquerda) ou capitalista integralmente (direita). Há, por exemplo, nos Estados Unidos o ensino público gratuito. E em Cuba Hotéis particulares. A China com seus neomilionários, inclusive com times de futebol contratando jogadores brasileiros a peso de ouro.
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                Quanto a conservador ou liberal, como descrito acima, não acredito que haja um ser humano totalmente um ou outro. Mas de acordo com os meus posicionamentos sou mais progressista que conservador: sou a favor do casamento gay e consecutiva adoção de filhos, liberação da maconha, sou contra a redução da maioridade penal, a favor de política de ações afirmativas, mas não acho que o aborto seja uma boa.
                Fico pensando que o corpo pertence à mãe, mas o corpo do feto pertence a quem? Para um ateu é questão saúde, para um religioso é assassinato.  O Brasil é laico, mas as pessoas não.
                Porém o que me difere de uma topeira de esquerda ou direita, conservadora ou liberal, é que se me perguntarem sobre qualquer um destes assuntos daqui há uns dias posso ter mudado completamente de opinião. Isso enquanto os que pegam o discurso emprestado de professores proselitistas leitores de orelha de livros posam de libertários com suas frases prontas.
                O ser humano é muito mais que dois lados, é o que quero dizer. Como o Clarion diz num dos seus vídeos no Youtube: a ideologia é como uma caixa de bombons em que você escolhe os que te agradam e deixa para outra pessoa comer o que não é de seu gosto. Ninguém é obrigado a engolir goela abaixo todas as premissas de livro algum. Há muito de religioso na forma como muitos líderes de partido tratam sua ideologia.
                Conheço muito liberal que pensa ser de esquerda quando na realidade é apenas liberal, conservador em alguns aspectos, odeia os Estados Unidos, mas não larga o celular e não tira o All Star do pé. Assim que é o mundo assim que o mundo é.
                Tem muita gente por aí tendo que ficar pensando no que seu guru diria antes de responder a qualquer pergunta que exija um pouco mais de raciocínio. Gente que pensa por slogans e gritos de guerra. Fazem isto quando deveriam consultar as próprias convicções.
Mas é muito perigoso pensar sozinho, há de se ter muito mais argumentos, porque uma multidão faz absurdos, para um lado ou para outro. Os linchamentos físicos e morais estão espalhados por toda parte.
                Entretanto o que vejo hoje é apenas um bando de canhotos, ambidestros, pseudo intelectuais, semianalfabetos, um monte de gente que não tolera o contraste. Como o PT subindo ao poder com o discurso de que os que pensam diferentes deles são inimigos da nação, um absurdo sem tamanho e repetido ad nauseam tornando-se verdade como ensinado por Goebbels o propagandista da Alemanha Nazista.
                Ou a bancada religiosa, que não é de direita, é conservadora justamente por ser religiosa. Toda religião é à priori conservadora, os cultos liberais não se sustentam. O problema é discutir questões econômicas (direita e esquerda) em meio a questões sociais (conservadores e liberais) sabendo que em certo momento tudo isso se mistura, mas que não se pode discutir a sério pensando que basta alguém ser diferente, pensar de outra forma, olhar o mundo com outros olhos que tem aí um inimigo de morte pronto para destruir suas convicções. O mundo é mais que isso.

                Não acredito que todos estejam certos, o que equivaleria dizer que todos estão errados. Mas independentemente de qualquer coisa, é necessário haver tolerância. E quando passarmos a ensinar isto nas escolas, dentro de nossas casas, nas igrejas, templos, sindicatos, clubes, pastorais, centros espíritas ou de candomblé, quando enfim passarmos para a frente a marca da tolerância, o mundo será muito mais que uma coisa ou outra, será o local da diversidade tão sonhada.