segunda-feira, 26 de junho de 2017

Qual o movimento literário de agora, século XXI?

Resultado de imagem para maçã arte       Uma das perguntas mais recorrentes em aula de literatura é “a qual movimento literário pertencemos”. Se o Romantismo acabou, assim como Realismo, Parnasianismo, Modernismo e outros tantos ismos, para onde estamos indo e onde viemos parar?
            Este ensaio tratará disso, mas desde já poupo a leitura e dou a resposta sem a argumentação: não é possível saber a qual movimento pertencemos, podemos especular a respeito e quando tivermos distância histórica para tal, aí sim haverá uma definição de consenso entre os estudiosos de letras e outras áreas.
            Isto posto, posso começar a desenvolver meu raciocínio um tanto entre a especulação e o repertório do passado.
Resultado de imagem para pintura romantismo            É por este caminho que levarei quem se arriscar a ser meu leitor, indo e vindo, cambaleando por palavras do cotidiano, esquecendo o fato de que nada está totalmente dito e muito por se dizer mesmo a respeito de estilos literários já consolidados como o Barroco ou o Arcadismo.
            Sem mais voltas.
            Começo pela definição do que seja um movimento literário, ou escola literária, ou estilo de época.
Movimento literário é o que convencionou-se denominar de o conjunto de textos pertencentes à mesma época, que atenda às mesmas características estruturais quanto à sua forma e ou conteúdo.
Portanto para um poema ser Romântico, não basta ser escrito por Álvares de Azevedo, nem ter sido composto na primeira metade do século XIX; tem de atender às características próprias do que convencionou-se chamar Romantismo – uma série de características próprias do que é romântico, que não caberiam explicar neste ponto, mas que vale retomar num outro momento.
Logo, todos os textos escritos na primeira metade do século XIX que atendem a uma certa característica estrutural e de conteúdo pertencem ao Romantismo.
Mesmo havendo poemas que podem ser considerados românticos nos dias de hoje não são do Romantismo, porque este movimento teve seu início e fim há algum tempo.
Tanto o Romantismo quanto seu antecessor o Arcadismo, quanto o predecessor Realismo tiveram seu início e ocaso e nada impede os estudiosos do texto literário classificarem algo feito hoje como neo isso ou neo aquilo.
Resultado de imagem para pintura realismoDe fato, já houve algo chamado neo-realismo, este é um dos nomes pelo qual é conhecido o regionalismo de 1930, com livros como “Vidas secas”, de Graciliano Ramos e “Capitães da areia” de Jorge Amado. Claro, com algumas características próprias e outras semelhantes às do movimento literário de Machado de Assis.
Indo mais a fundo dá pra perceber que existe alguma regularidade entre as mudanças de uma época a outra, como num movimento pendular em que muita coisa é alterada, mas a espinha dorsal continua a mesma. Mais ou menos assim de forma cronológica: o Trovadorismo é basicamente um movimento emocional e subjetivo, o Classicismo racional e objetivo, depois o Barroco emocional e subjetivo, o arcadismo racional e objetivo, o Romantismo muito emotivo, o Realismo objetividade ao extremo e muita racionalidade, o Simbolismo subjetivo e com muita emoção como respostas para as contradições da alma humana, o Modernismo como um grito louco, mas ainda assim racional...
Depois somos nós. Sim. Restou para nós a subjetividade e a emoção.
Resultado de imagem para transformersÉ claro que nada disso é livre de erros, mas quando se estuda uma ciência humana é necessário observar as regularidades e perceber que em certos aspectos não somos muito diferentes dos amigos que lançaram velas ao mar e gritaram “Terra à vista” ao chegar na costa da Bahia. E tem mais, especular sobre o futuro tem disso: a chance de errar é enorme e não se pode temer.
Somos, segundo este movimento pendular, que ora vai para um extremo racional, ora pra outro emotivo, ora de uma objetividade ímpar, em outros momentos de uma subjetividade atroz, somos segundo isto fadados a vagar pelo campo da emoção. Não ligamos muito para as consequências objetivas de nossas atitudes. Que se dane a realidade.
Será?
Será que hoje a maioria dos livros escritos procuram tratar de assuntos que envolvem a emoção, de forma a atrair nossos sentimentos mais recônditos e não temos paciência para a leitura extensa de descrições exatas e objetivas da realidade?
Será que atualmente somos levados a pensar com nosso coração e não com o cérebro?
Sim. Exatamente assim.
Somos o suprassumo da subjetividade humana. Em nenhum outro momento da história da humanidade as pessoas estiveram tão voltadas à realização dos próprios desejos, à satisfação dos próprios prazeres. Os livros, filmes, músicas, obras de arte estão todos voltados para isso e assim o fazem porque estão engendradas neste mecanismo subjetivo e emocional chamado século XXI.
Basta reparar como os filmes de maior bilheteria são um apanhado de cenas de explosão do primeiro ao último take.
Resultado de imagem para modernismoTambém os livros envolvendo esoterismo, sexo, espiritualidade, bruxaria como os mais lidos em qualquer lista de best seller: bruxos, vampiros, doentes terminais, conversas com espíritos, teorias da conspiração, nada que resista a uma leitura criteriosa e científica. E não aplico a esta análise nenhum juízo de valor, apenas constatação simples após leitura da realidade.
E por que lemos livros assim, assistimos a filmes explosivos, ouvimos canções no mesmo molde? Resposta: somos frutos do meio.
A arte está retratando o nosso tempo e não o oposto. O rabo não está balançando o cachorro. Estupidez pensar que as pessoas estão sendo “subjetivizadas” pela mídia.
Os meios de comunicação estão dando para o público o que ele deseja.
E com o parágrafo anterior introduzi um novo coeficiente ao debate: os meios de comunicação.
Nunca na história da humanidade os veículos de comunicação estiveram tão interligados a ponto de o que acontecer neste instante numa pequena província do interior da China ter repercussões imediatas minutos depois em qualquer lugar do mundo ou no mundo inteiro.
Resultado de imagem para thomas malthusPode ter acontecido a este movimento pendular da literatura o mesmo que ocorreu à cilada Malthusiana. Explico: Thomas Malthus estabeleceu um critério de pesquisa para explicar o motivo que levava a população mundial a passar por períodos de fome seguidos por períodos de fartura. Segundo ele as pessoas se reproduziam, comiam muito e faltava comida. Depois, esgotavam os recursos alimentares por haver muita gente no mundo se alimentando e passavam fome por não ter comida para todos. Morriam de fome em meio a crises de abastecimento que eram comuns no passado. Como num círculo para lá de vicioso.
O século XX rompeu com isso quando os agrotóxicos foram inventados. A cilada malthusiana é coisa do passado, ao menos por agora.
O mesmo pode ter acontecido com a estrutura pendular da literatura em que um movimento basicamente emotivo dá a vez a outro racional. A estruturação da indústria cultural, veículos de informação de massa, pasteurização e profissionalização da produção artística, enfim, tudo isso pode e deve estar nos levando, depois de séculos, rumo a algo novo, algo desconhecido.
Resultado de imagem para literatura movimento pendularDaí então não estamos fadados à subjetividade e emoção como neorromânticos. Seríamos o rabo de alguma coisa velha ou a cabeça de outra totalmente nova. Seria a modernidade líquida descrita por Bauman. Ou alguma outra coisa citada por outro alguém.
Mas não podemos esquecer do mais importante nesse papo todo: tudo isso não passa de mera especulação.
Isso porque não sabemos ainda o nosso lugar no mundo. A nossa dimensão.
Não dá pra saber a menos que passe algum tempo e percebamos que algo novo surgiu a partir do feito anteriormente, ou sei lá.  Basicamente um dia as coisas parem de ser as mesmas e depois alguém se debruça sobre isto e zás... Eis uma nova escola literária.
E por que os estilos mudam? Como mudam?
Então acredito que esta seja a resposta mais simples.
O jeito de fazer literatura e arte se modificam porque as pessoas enjoam da mesmice, ou simplesmente desejam fazer algo diferente do já estabelecido.
Imagine o movimento Barroco, por exemplo, com seus exageros, morbidez, sangue, dor, dúvidas, sofrimento, jogos de palavras, escuridão, discurso labiríntico. Até que alguém algum dia resolve fazer algo diferente (às vezes esse diferente sempre esteve lá, mas como todos só queriam Barroco, nunca ligaram praquilo).
Até que alguém pendura na parede um quadro com folhas e plantas, flores, um rapaz sorrindo, o que dá a ideia para um poema que não envolve sangue e dor e faz tanto sucesso que alguém copia o estilo e outro e outro e outro também, e temos o Arcadismo. Assim mudamos.
Resultado de imagem para nuno ramosComo você de saco cheio de ouvir a música do seu pai procurando por uma solução, porque você adora música, mas odeia as do seu pai.
Resta a nós saber quando as pessoas ficarão esgotadas de assistirem a filmes de super heróis, cenas de explosão, músicas sensuais, quebra da quarta parede. Quando este momento chegar estaremos dentro de alguma outra coisa. Melhor? Não mesmo. A qualificação aqui não tem a menor importância, porque cada estilo de época é uma resposta para problemas, aflições, angústias próprias de cada período.
Não cabe a ninguém lamentar um ou outro momento histórico por sua forma de expressão, quanto mais o nosso. Ainda mais quando temos a oportunidade que nenhuma outra época teve: o poder de compartilhar pensamentos, criações e sonhos através do único mecanismo de publicação artístico de duas vias inventado na história da humanidade: a internet.
Com mais esse coeficiente nesta cilada pendular, impossível prever o futuro. Ainda mais porque hoje já existem pessoas querendo prever o presente, enquanto outras nem lembram que houve um passado. 

sábado, 24 de junho de 2017

Por que estudar literatura?

         
Resultado de imagem para homens das cavernas fogueira         Primeiramente literatura não é a coisa mais importante do mundo. Não vou ser capaz de enumerar quais sejam, mas posso garantir que comida, saúde, moradia e paz estão com certeza no topo de qualquer lista. Ou deveriam estar caso fôssemos contar o que realmente importa para uma vida com um mínimo de dignidade: morar com segurança e fazer três refeições diárias não deveria (e não deve) ser negado a ninguém. Dito isto sigo a outro parágrafo.
                A literatura nasceu com as pessoas de barriga cheia.
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Gosto de imaginar que depois de uma caçada, lá quando já tinham criado a fala, dominado o fogo e inventado a roda, os homens das cavernas com a barriga entupida de mamute começaram a contar um para o outro o que tinha sido feito pra que aquele jantar estivesse na mesa (vamos dizer que já houvesse algo que poderia ser chamado de mesa) pois bem: o cara de barba até o peito disse que aquele mamute estava bom, mas não era nada se comparado com aquele que eles tinham caçado há duas luas atrás, ou àquele outro que ele havia caçado sozinho, mas que todos sabiam que ele apenas havia pego os restos deixados por algum animal, este sim o verdadeiro caçador do dito mamute iguaria dos deuses.
Resultado de imagem para homens das cavernas fogueira                O outro homem das cavernas de barba até o umbigo disse que seu pai quando ele ainda era uma criancinha havia caçado um mamute que tinha asas e que o caçou montado nas costas de uma águia ainda maior que o extinto descendente dos nossos elefantes. Pois bem, surgia assim a necessidade do homem de passar suas experiências e no meio do caminho inventar um monte de mentiras.
Essas mentiras são conhecidas hoje com o nome de ficção e ao longo dos séculos a forma como eram contadas foi se alterando junto com o modo de vida das pessoas: suas crenças, o trabalho, o ócio, fome, fartura.
Não apenas o modo como também os temas foram se modificando, se solidificando, ruindo, desaparecendo, sendo retomados ao longo do tempo. Algumas destas histórias deram origens a crenças, outras ajudaram a destruir impérios.
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Nunca duvide do poder da literatura: a própria forma como imaginamos o inferno veio de um livro chamado “A divina comédia” de Dante. Antes dessa obra o inferno era apenas uma ideia abstrata. Dante teve a audácia de dar a cada pecado e pecador uma forma visível, tudo criado por sua mente, e isso foi tão revolucionário pra época que os padres quando tinham de descrever quais eram os tormentos eternos recorriam a este livro que logo passou para o imaginário coletivo como o próprio real inferno.
Mas não é este o tema deste artigo, o título não é “como surgiu a literatura”, mas “por que estudá-la”.
Sei que dei uma volta enorme, mas espere com um pouco de paciência que chego lá.
Resultado de imagem para trovadorismoO que fez o homem das cavernas inventar histórias foi o mesmo que o fez desenhar nas paredes. (Devo admitir que aqui cabe uma dose enorme de especulação, mas quero fazer ter sentido isso tudo). Afinal me diga você por que alguém pinta a parede da própria casa e coloca um quadro pendurado entre uma janela e um vaso de porcelana? Por que você conta a história do seu primeiro beijo pros seus amigos quando volta daquele encontro exagerando nos detalhes? (muitos deles mentirosos, mas que se dane, como dizer que foi mentira sendo que apenas você sabe a história real)
Como no conto de Machado de Assis “Noite de Almirante”, nele o personagem marinheiro Deolindo espera ter uma noite de amor com a amada que deixou em terra após seis meses de espera. Diz aos seus companheiros de bordo que terá uma noite espetacular, uma verdadeira noite de almirante. Ao encontrar sua amada Genoveva descobre que foi trocado e ao voltar ao barco em vez de contar sua frustrante experiência, prefere mentir. Por que diria a verdade numa situação como essas?
Então.
A literatura é uma das formas de expressão humana conhecidas como arte, assim como a pintura, arquitetura, escultura, música, teatro. Assim podemos não fazer a pergunta envolvendo apenas a literatura, mas envolvendo todas as artes. Por que se estuda arte?
Mais longe podemos ir. Podemos perguntar: por que se produz arte?
Por que um rapaz no século XIII decidiu escrever um poema com o eu lírico feminino e dizer que estava sofrendo por seu amado que partira? Por que um inteligente esquisito de óculos inventou um monte de heterônimos e deu a cada um uma personalidade e escreveu com a personalidade de cada uma porção de poemas geniais? Por que as pessoas saem de casa e gastam uma fortuna para assistirem no teatro a uma peça escrita por um maluco que muitos dizem nem ter existido?
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E por que estudar isso na escola? Sério, por que estudar isso sendo que as coisas mais importantes do mundo envolvem alimento, moradia e saúde? Não seria melhor voltar os esforços da educação mundial para soluções para os problemas práticos da humanidade, como saneamento básico?
Porque se seguirmos essa linha de raciocínio já consigo ver onde chegaremos: enquanto a gente estuda Romantismo na escola, “algo que não serve pra nada”, milhões de crianças morrem abandonadas na África. Estudar Parnasianismo não vai ajudar a conseguir um emprego melhor no futuro, simbolismo não enche o prato de ninguém, não existem fábricas contratando poetas.
Resultado de imagem para platãoTambém posso ouvir claramente os ofendidos professores de Literatura dizendo que é preciso estudar os clássicos (e eu concordo muito, afinal também sou professor de literatura), nós diremos que lendo se aprende a escrever melhor, interioriza-se a gramática, amplia-se o horizonte e um monte de frase pronta, frases com a marca do você tem de ler e pronto acabou.
Mas convenhamos, isso não convence mais ninguém: você pode ampliar muito seus horizontes lendo muita coisa que não é literatura. Platão, o gigante da filosofia, dizia que literatura era perda de tempo, pois se o mundo que vivemos não era o real e que deveríamos buscar o mundo ideal, a literatura era a representação de um mundo que nem sequer deveria existir, ou mais ou menos isso. Acho que estou ofendendo a filosofia tentando citá-la, perdoem-me amigos estudantes e professores de filosofia, mas não gosto de Platão quando ele não gosta de literatura. Vamos mudar de parágrafo, por favor.
Pois bem, também é possível estudar gramática sem literatura, basta para isto fazer o óbvio: estudar gramática.
Mas quando eu penso nos motivos que me levam a aceitar de peito aberto que a literatura deve ser ensinada na escola penso na resposta dada por Paulo Leminski, um dos meus poetas favoritos à pergunta a ele feita sobre o porquê de se fazer literatura, na verdade a pergunta foi assim: “Leminski, pra que serve um poema?”
E a resposta foi esta: “Graças a deus um poema não serve pra nada”.
E é por isso que amo o texto literário. Porque até podemos expandir os horizontes lendo um livro e é certo que o fazemos, também podemos aprender língua portuguesa e aprendemos, podemos aprender a interpretar textos e muitas outras utilidades práticas que são apenas subproduto do texto literário, porque na realidade o texto literário não deve servir para definitivamente nada.
Mas calma meu querido professor secundário, calma meu querido amigo amante de Drummond e Lispector. Também amo o Pessoa na pessoa e a rosa no Rosa. Mas vamos lá, num mundo em que temos de acordar por um motivo: descansar para trabalhar no dia seguinte. Trabalhar para conseguir dinheiro. Conseguir dinheiro para pagar as contas. Para as contas para seguir a rotina de dormir, acordar e sair para trabalhar. Tudo tem um porquê e nesse mundo de utilidades em que tudo serve pra alguma coisa, a literatura tem o mérito de nos humanizar, pois ela não serve pra nada.
Só os seres humanos fazem coisas sem motivo, contam histórias, pintam quadros, compõem canções, penduram um quadro na parede, fazem sexo. Sim. Sexo. O ser humano transa pra se relacionar, gozar, amar, sentir prazer. O prazer nos torna únicos no mundo animal. O prazer bem sentido não tem função além de um fim em si mesmo e é possível extrair prazer do sexo, e esta é a frase mais óbvia que escrevi na minha vida. Mas também é possível extrair prazer de coisas diferentes: uma piada, um bate papo com um amigo super interessante, uma garrafa de coca cola num dia de sol, um banho de mar, um livro, uma visita a um museu, um poema. Ou apenas com sexo (a vida fica tão limitada assim).
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Há pessoas que extraem prazer vendo uma velhinha caindo da escada. De fato, uma das melhores maneiras de conhecer o ser humano é descobrir o que lhe proporciona prazer: filmes de ação, jogos de guerra, companhia de pessoas escandalosas, a dor alheia, a solidão, de novo: um poema de Cecília Meireles “Canto porque o instante existe e minha vida está completa, não sou alegre nem sou triste sou poeta...”
Nesse momento acho que você já percebeu o ponto onde quero chegar, a literatura ajudou a humanizar os homens das cavernas, ela (a literatura) e todas as demais formas de arte. Ela não é mais importante que um prato cheio todo dia, mas sem ela um prato cheio pra você e para o cãozinho na coleira seriam a mesma coisa. Se você pode pensar em possibilidades para a sua vida futura e lembrando do seu passado tentar não cair nos mesmos erros e em erros que você nem cometeu, mas sabe serem errados é porque alguém escreveu sobre isso.
Já havia análise psicológica antes de Freud em Dostoievski, por exemplo. E em Vinícius de Moraes aprendemos um verdadeiro manual sobre relacionamento: a fidelidade, a separação, a mulher que passa e nos desperta desejo, desejo que não é paixão, nem amor, apenas uma vontade olhar, de continuar olhando a mulher que passa. E quanto à genial máxima “filhos melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabe-los”?
O texto literário nos leva por caminhos inexplorados pelo nosso eu, estradas percorridas por outras pessoas ao redor do mundo. Algo que nos unifica enquanto pessoas humanas, a mesma dor, a mesma agonia passada por mim também sentida por alguém há muitos séculos atrás, quem sabe no futuro, distopias que se realizam, medos tomando forma.
Na literatura há o encontro entre o possível e o imaginado. Quando se imagina se cria a possibilidade de algo novo, nós evoluímos.
Resultado de imagem para eu robot asimovAprendemos literatura porque comer, dormir e nos reproduzirmos não basta. Temos que fazer o que os seres humanos fazem: temos de transcender. E como diz Pound: “os poetas são as antenas da raça”. Estar cercado por eles é estar próximo de um mundo que está longe de ser o ideal, é estar em um mundo repleto de potencial, Júlio Verne dando a volta ao mundo em 80 dias, a dez mil léguas submarinas, ou no olhar de Capitu numa eterna dúvida... traiu ou não traiu? Descendo ao inferno com Dante, num manicômio cercado por cegos na companhia de Saramago, nos confins dos cus de judas com Antônio Lobo Antunes, isso mesmo, no mínimo, muito assunto pra discutir, não ao redor da fogueira, talvez na sala de aula, sempre abertos a novas possibilidades.
E buscando outras formas de fazer e refazer a literatura, que no fundo não passa de um monte de mentiras acumuladas nas prateleiras. Mas que nos revelam a identidade do humano demasiado humano. Do nosso profundamente nosso.
Não teríamos chegado nem perto de onde estamos sem literatura e não avançaremos sem ela. Verdadeira mola mestra da humanidade, criamos agora e criaremos mais no futuro tudo o que foi, é e será imaginado. O texto literário não é uma fábrica de sonhos, mas a melhor maneira de inventar a realidade.
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E para mais apontamentos do tipo recomendo não livros teóricos como indicação, mas muita obra gostosa de ler, imaginações férteis que sonharam o futuro que é o nosso presente:
-Eu, Robot, de Isaac Asimov
-Viagem ao centro da terra, de Júlio Verne
-A jangada de pedra, de José Saramago
-O cortiço, de Aluízio Azevedo
- O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas
-2001, uma odisseia no espaço, de Arthur Clark
-1984, de George Orwell
-O senhor das moscas, de William Golding
-A volta do parafuso, de Henry James
-Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust (se você tiver coragem e espero muito que tenha)

E qualquer outro livro que nos leve a descobrir novas possibilidades para a nossa vida tão precária aqui no maravilhoso planeta terra.
Mauro Marcel