sábado, 30 de março de 2013

Anos 70 - Fede a petróleo (by Fábio Sant' Anna)


 Entusiasmei-me com os saudosos textos escritos pelo meu amigo Mauro Marcel versando sobre o que foram as últimas décadas, o que despertou em mim uma enorme vontade de falar da década de 1970, e lá vou eu...
 Eu estava lá, ainda que na metade dela, mas podia ouvir do ventre  Creedence Clearwater Revival cantando Have You Ever Seen the Rain... 

   O Brasil foi campão mundial no futebol já no início da década. E o Corinthians paulista sairia do jejum de títulos depois de 23 anos e alguma coisa... em 1977...
   Nem todo mundo tinha televisão ainda mais ia assistir na casa do vizinho. Se a televisão fosse colorida então... era um desbunde. As novelas que "bombaram" eram  Selva de Pedra, Saramandaia e principalmente O Bem Amado que falava de nossos políticos como se fosse hoje!
   Tem gente que diz ver fantasma do Edifício Joelma até hoje, e do Andraus idem.
   Os sambistas não usavam terno salmão nem pintavam o cabelo de amarelo, mas exaltava o verde-amarelo nas músicas como Aquarela Brasileira de Martinho da  Vila ou Charlie Brown de Benito de Paula.
   Tinha até sambista mulher, como Clara Nunes, Beth Carvalho e a "marrom" Alcione. 
   
Outras mulheres no samba eram as mulatas do Sargentelli.
   Falava-se muito da Transamazônica, do BNH, do milagre econômico, coisas saídas das bocas de políticos que ainda rondariam por muito tempo nossas vidas como Delfim Netto e Paulo Maluf.
   Militar era uma carreira promissora a se seguir. E nas escolas a gente tinha que pintar duas faixas verde e amarelo no canto da página do caderno.
    Educação Moral e Cívica era ensinada em sala de aula junto com outra matéria chamada  OSPB.

   Ninguém ouvia falar de tortura nem de gente desaparecida, coisa que se tornou muito comum três décadas depois. 
    A discoteca dominava os salões de dança, tanto que Dancin  Days, a novela, tornou-se uma coqueluche nacional, trazendo de rabeira gente como Dudu França, Sidney Magall, as Frenéticas, as Patotinhas e essa patota toda...
   Tinha muito programa de rádio que era líder de audiência na rádio AM como Gil Gomes, Barros de Alencar, Zé Betio  e a Volta do Sucesso. 
   Mesmo na televisão os programas de TV bregas eram bregas autênticos como Chacrinha, Bolinha e que tais. 

   Não existia vídeo game, mas existia muito brinquedo da Estrela.
    A gente calçava Kichute e vestia calça boca-de-sino...
    Bebia Groselha vitaminada Milani ou Crush.
     E se divertia com os inúmeros desenhos de Hanna-Barbera que se não tinham a mesma qualidade tecnica que as animações da Disney eram cem por cento mais engraçados.
      Nâo se via  nenhuma mulher de bunda de fora apresentando programa infantil, só uns bonecos de uma Vila Sésamo bem mais educativos que qualquer bunda celulítica. 
   Se nem todos tinham TV o que dizer então de TV a cabo?  Assistíamos as séries americanas com uma década de atraso pelo menos, como era com  A Feiticeira e Jeannie é um Gênio. 

   O Cinema brasileiro encolheu e ficou relegado às pornochanchadas, que foi até muito bom por outro lado. Tinha um programa na TV Record que apresentava essas pérolas chamado Sala Especial,  e fazia a cabeça dos moleques que não tinham nem dinheiro nem coragem de comprar revista pornô nas bancas. 
   Mas  um pessoalzinho  se arriscava comprando os "catecismos" de Carlos Zéfiro. 
   Ter um automóvel confortável era possuir  uma Brasília ou mesmo uma TL que mais me lembra uma barata. 

   Elvis morreu no final da década e com ela o Regime Militar, a discoteca, a crise do petróleo, mas o infame programa Semana do Presidente ficou ainda por alguns anos.
   As rádios FMs surgiram e com elas a música de elevador. 
  
É claro que ainda temos resquícios desses anos de chumbo, como A Voz do Brasil, alguns politiqueiros dinossauros, Sílvio Santos, o discurso de o Brasil ser o país do futuro e coisas do gênero. 
   Quem sabe daqui a alguns anos possamos nos orgulhar de
tentarmos congelar essas imagens... 

Drops rock - Os malas (parte 1)


Uma produção espetacular, digna de dois programas!


quinta-feira, 28 de março de 2013

Perguntar não ofende 2



Mais uma pergunta da série "perguntar não ofende":

A escola A está sempre entre as três melhores notas do ENEM na sua cidade, os alunos se preocupam, interagem, são bons, são maus, estudam, não estudam, não há violência extrema e alguns alunos entram em universidades públicas, outros em particulares. Há vários projetos e alguns até são copiados pela escola B. Quem não estuda é retido e há projetos de acompanhamento para estes.


Na escola B nunca há aula, os professores são agredidos, há tráfico de drogas nos intervalos e durante as aulas, ninguém nunca ouviu um professor falar em vestibular e quando termina a escola o aluno vai trabalhar pra ganhar salário mínimo. Ninguém é retido.



Em qual escola o professor recebe bônus por qualidade em educação?



A (   )

B ( X )

quarta-feira, 27 de março de 2013

Perguntar não ofende 1


Mais uma pergunta da série "perguntar não ofende" se alguém souber responde:
-Se o São Paulo tem o Morumbi, o Palmeiras tem seu estádio e o Corinthians está construindo o seu em Itaquera, pra que servirá o Pacaembu depois disso tudo?

Drops rock 22 - Cartas à redação


Acompanhem uma retrospectiva em forma de cartas. Se é drops...

2000 a 2010 era do digital


                  Já dá pra falar a respeito desse tempo também.
          O mundo não acabou com o bug do milênio, um asteroide não nos atingiu, os Testemunhas de Jeová erraram e feio.
          O Brasil foi penta campeão do mundo numa copa oriental que aconteceu de madrugada e não empolgou tanto quanto a de 1994.
O futebol brasileiro perdeu sua hegemonia no mundo.
          Muita criança ficou chateada porque interromperam o Dragon Ball Z pra falar de um avião que havia se chocado com um prédio em Nova York.
          Na realidade foram dois aviões, o segundo foi ao vivo e todo mundo viu, também ao vivo, as duas torres desabando com a narração de Carlos nascimento.
          Osama Bin Laden foi caçado, mas virou a década mais vivo que nunca.
          Saddam Hussein não deu a mesma sorte, foi morto enforcado e transmitido via youtube, outra novidade da década: um site que passa vídeos infinitamente.
          Começaram os hits da internet. Melhor que a década anterior quando as pessoas enviavam pelo email os horrorosos powerpoints com ursinhos fofinhos, crianças fofinhas, gatinhos fofinhos, ou piadas horrorosas e virais. Sem contar as pavorosas correntes que amaldiçoavam quem não repassasse, porque o fulano não repassou e quinze dias depois o pai, a mãe, o irmão, morreu...
          Paramos de gastar dinheiro com CDs originais e passamos a comprar CDs piratas sem nenhum remorso, paramos de comprar CDs piratas e passamos a fazer CDs em casa.
          Paramos de ouvir CDs e descobrimos a extensão MP3. Num pequeno aparelho, do dia pra noite, passaram a caber mais de mil canções.
          Todo mundo aprendeu o que é um pendrive.
          Muita gente virou fã da Apple.
          Todos esperavam o próximo escândalo da Britney Spears.
          Era moda ter Orkut e pertencer a comunidades ridículas do tipo: “cago e não limpo”, “odeio meu patrão” e “sou gostosa e daí?”...
          As imagens passaram a ser Full HD.
          Lula foi o presidente da década quase toda.
          Um negro terminou a década presidindo os Estados Unidos.
          Harry Potter assombrava os cinemas.
          South Park deixou de ser um desenho idiota e passou a ser uma série inteligentíssima.
          Bob Esponja fazia o sucesso da molecada com desenhos inéditos.
          As manhãs globais ficaram bizarras com a Ana Maria Braga e seu “acorda menina”.
          Teve um show gratuito dos Stones em Copacabana e eu não fui.
          Na retomada do Rock’n Rio o cantor Carlinhos Brown, que não tem nada a ver com rock, assim como o próprio Rock’n Rio, levou várias garrafadas do público ao se apresentar no palco principal pouco antes da péssima apresentação do Guns’n Roses.
          Era moda relembrar os anos 80 e ir a festas temáticas com decoração de Moranguinho, Smurfs, Fofão. Ouvir Sidney Magal e Reginaldo Rossi.
          Sérgio Malandro passou a ser cult.
          O ritmo Black começou a assombrar as rádios de São Paulo, só não se pode reclamar muito porque na década seguinte o assombro veio através de coisas muito piores.
          Todos cantavam com o Akon a horrorosa “lonely I'm so lonely I got nobody to call my own”. Se não lembra, não vá atrás, essa música fica na cabeça e não sei nem ferrando.
          Acompanhamos com o coração na mão o último episódio de Friends, a série mais popular de todos os tempos e icônica dos anos 90.
          Fomos apresentados a Charlie Harper e vimos que Friends era uma total perda de tempo.
          As videolocadoras deram seu último suspiro.
          A TV a cabo se popularizou.
          A internet ficou mais rápida.
          O termo Classe C foi cunhado pela mídia e a frase “nunca antes na história desse país” foi repetida à exaustão.
          A 89, rádio rock de São Paulo se transformou em 89, rádio pop de São Paulo. Meu Deus do céu.
          As novelas eram Mulheres apaixonadas, América, O clone e Celebridade.
          No cinema os filmes de heróis de quadrinhos vieram com tudo trazendo a alegria para os fãs de Homem Aranha, X-men e Homem de Ferro.
          Black eyed peas foi uma das maiores bandas da década.
          A MTV deixou de ser um canal de música.
          A Rede TV substituiu a Rede Manchete um mês antes do início da década.
          Além de assistir ao Silvio Santos, Faustão e Gugu o povo começou a assistir ao Pânico na TV e a repetir como um bando de idiotas os bordões tipo “Ronaldo!” e as ridículas perseguições ao Clodovil, Carolina Dieckmann etc. e sandálias da humildade.
          Celular deixou de ser artigo de luxo e não mais ridículo atender celular dentro de ônibus coletivo.
          Câmeras digitais entraram na moda. Alguém já comprou uma Tekpix?
          Crimes foram espetacularizados e pessoas estranhas entraram em nossa vida via meios de comunicação de massa: Isabela Nardoni, Eloá, Suzane Von Richthofen, irmãos Cravinhos, Eliza Samudio, Mércia Nakashima...
          Supla e Bárbara Paz brilharam na Casa dos Artistas no SBT, com Silvio Santos.
          Houve vários BBBs e nenhuma autocrítica por parte do Pedro Bial que de repórter brilhante passou a orador de poemas esquisitões.
          As garagens começaram a se entupir de carros.
          Os seios da Mônica cresceram.
          Heth Ledger fez o melhor Coringa de todos os tempos e morreu.
          George Harrison morreu.
          Nando Reis saiu dos Titãs.
          Chico Xavier morreu e no dia do penta.
          Finalmente os Simpsons lançaram um longa-metragem.
          Seu Jorge gravou um disco improvável com a Ana Carolina.
          Gugu saiu do SBT pra fazer a mesma merda na Record.
          As bandas e cantores internacionais decadentes começaram a aportar por aqui e cobrar uma fortuna pra assistirmos aos seus shows. E nós? Pagamos.
          O que se há mais a dizer?

domingo, 24 de março de 2013

Miojo, Palmeiras e ENEM

     
          Durante muito tempo falo para meus alunos (sou professor de Língua Portuguesa), falo pra eles sobre a importância de participarem do Exame Nacional do Ensino Médio e todo ano tenho que batalhar com o massacre que a mídia realiza contra a prova, que não valia pra nada até os primórdios dos anos 2000, mas que tornou-se de fundamental importância para qualquer brasileiro que tenha pretensões de estudar e não pagar por isso em nível superior.
         Primeiramente é fundamental ressaltar que o Estado deveria fornecer Educação (com E maiúsculo) para todas as pessoas que assim o queiram. Porque está na constituição, porque é um direito e porque um povo com acesso a educação é mais sabedor de um monte de coisas e por aí vai.
          Depois é também fundamental dizer que no mundo inteiro, não só no Brasil, apenas as melhores cabeças estão nas melhores faculdades, e não é discriminatório quando dizemos que nem todos estão interessados em aprender, algumas pessoas simplesmente não querem estudar numa universidade.
          Mas a questão não é o querer, é a oferta. Deveria ser oferecido a todos os que assim quisessem o direito a estudar, sem arcar com qualquer pagamento, em qualquer nível. Pelo menos no Brasil, país pouco afeito historicamente a livros, universidades, escolas. 
          O estado brasileiro tem uma dívida gigantesca com seu povo e isso se reflete em Tiriricas, Calheiros, ACMs, Bocas da garrafa, Zorras totais e muito mais.
          O ENEM é a prova que iguala as condições de acesso ao Ensino Superior gratuito, em universidades públicas federais ou particulares. 
      Podemos questionar todo um sistema que possibilita que faculdades fundo de quintal formem enfermeiros que injetarão café com leite na veia de senhoras doentes, ou que aceitem que os alunos hostilizem uma aluna apenas por esta usar um vestido por demais curto (mesmo que este tenha sido um bom negócio pra aluna no futuro).
          O que não podemos questionar é que através do ENEM milhões de alunos estão estudando, se graduando e se capacitando para um futuro melhor. E muitos deles em Universidades Federais (também com U e F maiúsculos). 
          Apenas quando passou a valer como acesso a universidades realmente de valor, começaram os achincalhes: 
*primeiro roubaram a prova;
*depois com cem ou cento e cinquenta cadernos de questões com problemas de impressão num universo de seis milhões; 
*mais a frente com um professor de uma escola particular roubando questões e repassando aos "seus" alunos; 
*este ano com Miojo e  hino do Palmeiras na redação.
          Tenho milhões de críticas ao governo federal, e muitas à falta de acesso à Educação de qualidade, mas acredito que o Exame Nacional do Ensino Médio é a melhor coisa que aconteceu à Educação brasileira nos últimos dez anos. 
          Muito melhor que a farsa da universalização do ensino, muito mais inclusor social que Bolsa Família ou qualquer outro projeto de distribuição de renda.
          Quem perde com o ENEM? Cursinhos particulares que cobram uma fortuna por mês para treinar alunos a passarem em uma prova que tem a função de excluir e massacrar com questões que perpetuam a decoreba, o acúmulo de entulho intelectual que será todo esquecido ao final do processo, ou até passar.
          Estes cursinhos colocam a fotinha dos aprovados em vestibulares em enormes outdoors e não noticiam que alguns ficam estudando nestes cursos bizarros por até cinco anos atrás de uma vaga de medicina. Alunos que entram em depressão porque gastam quase mil reais por mês e não conseguem fazer o impossível: decorar, decorar, decorar...
          No ENEM há fórmulas, mas estas fórmulas se esvaem quando o que existe é a valorização do aprendizado. Uma prova basicamente de leitura que tenta aproveitar todo o conhecimento adquirido do aluno como pré-requisito para o acesso a um curso superior em Federais do país inteiro. 
          É claro que quase duzentas questões mais uma redação não podem avaliar sozinhas a capacidade de um ser humano, mas é muito melhor que o sistema de indicação e entrevistas estadunidense, por exemplo. 
          Todo ano há denúncias de fraudes no sistema dos Estados Unidos, mas ninguém questiona o Estado ou a política educacional, questionam os imbecis que fraudam, que buscam privilégios, que procuram fazer da educação um balcão para seus negócios escusos.
          Engraçado que na ocasião do roubo da prova do ENEM o jornal procurado para a denúncia foi um jornal panfletário, conhecido apoiador do governo tucano paulista. Não estou insinuando nada. Ou estou?
          O fato é que participando do ENEM o aluno não precisa acertar tudo; de acordo com a avaliação ele poderá estudar até em universidades concorridas, lugares que até então de acesso restrito aos ricos. Os mesmo ricos que controlam os meios de comunicação, os mesmos meios de comunicação que dão tanta ênfase a boatos e pseudo-notícias: num universo de seis milhões de provas, três redações não são nada. E outra coisa, nos critérios de avaliação estão postos o que será considerado válido e o que excluirá a redação: 
         "Uma redação poderá ter a nota máxima mesmo tendo erros ortográficos", você que está criticando este fato, leu a apostila que o governo distribuiu com os critérios avaliativos?
         "A redação do ENEM será anulada apenas se tiver menos números de linhas que o indicado", ou "se atentar contra os direitos humanos". É claro que torcer pelo Palmeiras, hoje em dia, está além dos direitos humanos, mas isso não anula nenhuma redação do ENEM. Talvez de algum outro vestibular, não do Exame Nacional do Ensino Médio.
          Os jornalistas que pensam que têm o monopólio da opinião e nem sabem escrever um simples texto, não saberiam se posicionar em relação ao assunto, estão acostumados a cobrir o novo penteado do cachorro da Ana Maria Braga e pensam que estão fazendo uma crítica inteligente, criticando uma das poucas medidas, de fato, inteligentes, do governo federal.
          Contra os fatos não há refutação: conheço pessoas inteligentíssimas que nunca tiveram condições de frequentar a escola oficial obrigatória até o fim, fizeram o ENEM, foram aprovadas e estudam em Universidades Federais. Pessoas que jamais poderiam pagar, fizeram o ENEM e estudam em Universidades Particulares, algumas boas, algumas ruins, mas aí é onde deveria estar a crítica, no cômodo, não porta de entrada.
          Também conheço alguns riquinhos malditos que se sentem enojados com a presença de pobres ao seu lado em universidades, até então, de elite. Fazem barulho. São os alunos dos cursinhos particulares que fazem uma passeata com cem pessoas na Avenida Paulista contra o ENEM e tem a cobertura da mídia. 
          Já participei de passeatas com mais de cem mil pessoas na mesma Paulista e não houve nenhuma nota em jornal algum, quando noticiavam reduziam os cem a menos de cinco mil. Esta é a imprensa. O PIG - Partido da Imprensa Golpista. 
          Gente que jamais ficará satisfeita com a busca por igualdade social. O pobre pode estar na TV, no rádio, na cozinha fazendo a janta, na feijoada de quarta, mas nunca poderá estar sentado ao seu lado no banco da universidade.
          Daí as greves, daí o boicote à imagem do ENEM. Os meninos dos confins da periferia do fim do mundo não quererão sair de casa pra fazer uma prova que é uma fraude, mas a fraude é esta falsa opinião, que não é pública. Recomendo que leiam o livro "Chatô - o Rei do Brasil" de Fernando Morais, pra perceberem a quem compete a opinião de um jornal.
          E antes que alguém diga da minha posição petista, quero dizer que estou falando de educação, divisão de renda, revolução pelas mentes. Lembro que uma vez falei que queria fazer uma revolução na escola através de aprendizado, cultura e formação. Uma professora riu da minha cara. Pra gente assim ou pensa igual ou não é pensador. Patrulhas ideológicas.
          Difícil mudar o mundo sem as mentes, difícil mudar as mentes sem educação. O ENEM não é a solução, mas é uma das portas para esta. Destruir sua imagem, como  estão fazendo, é nocivo apenas para os jovens carentes que não tem acesso a uma segunda opinião e não tem outra forma de  entrada no Ensino Superior.
          Discorda do que digo? Faça o Exame em novembro, se inscreva no SISU, no ProUni e depois de cinco anos, formado, graduado e com um salário melhor me diga o que pensa a respeito.
          Ah é... Para ter acesso a alguns desses direitos você precisa ter estudado o Ensino Médio em escolas públicas. 
A redação do Miojo está boa, mas o desgraçado sacaneou ao final, como o ENEM avalia o todo e não a parte ela tirou 560.
       

quinta-feira, 14 de março de 2013

Conclave by Fábio Sant' Anna



Anos 90 - A era sem era

       
            Eu passei por lá também, foi uma década assim:
          O "Domingão do Faustão" começou como uma grande esperança de humor inteligente no domingo global. Poucas semanas depois percebeu-se que não seria preciso nem o sushi erótico pra acabar com essa esperança.
          A TV Colosso era soberana nas manhãs globais e fizeram até um filme com a Priscila, o Gilmar e demais integrantes.
          A TV Manchete começou a década no auge exibindo a novela Pantanal  e terminou os 90 fechando a emissora sem conseguir concluir a novela Brida inspirada no livro do Paulo Coelho.
          Aliás o mago Paulo Coelho que começou a despontar nos 80 se firmou nos 90 com "Diário de um mago", "Alquimista" e por aí vai, chegou a ser escritor da moda em alguns círculos.
          Conseguimos o tetra campeonato mundial de futebol. Eu disse conseguimos? É. Foi o que todo  mundo pensou ao lado do Galvão Bueno gritando É tetra!!!! É tetra!!!!
          Como as músicas dos 80 eram basicamente letra e teclado, o karaokê ficou na moda durante um bom tempo nos fins da década. Cantar "nem um toque e eu querendo, querendo só você nem um toque ê u u..." era o orgulho de toda menininha de óculos.
          Pararam de exibir comerciais de cigarros e bebidas durante o dia.
          O dinheiro brasileiro passou a significar uma cotação chamada URV (Unidade Real de Valor) e depois virou Real. Foi sepultada assim a hiperinflação. (Retorna?)
          Era moda presentear as pessoas com CDs. Fazer amigos secretos com CDs. Ter uma coleção enorme de CDs. Ouvir CDs. Pegar CDs emprestados de amigos e nunca mais devolver. Então inventaram o copiador de CDs e chegamos ao ano 2000.
          A Internet surgiu, mas era lenta. A melhor coisa da net eram os chats, tipo ICQ. Impossível ver um vídeo. Downloads apenas de documentos office.
          A grande banda brasileira era os "Raimundos" e no mundo o "Nirvana" foi o último suspiro do já finado rock'n roll.
          A Legião Urbana ficou uma merda, com três discos que nunca deveriam ter vindo à luz:  "O descobrimento do Brasil", "A tempestade - Ou o livro dos dias" e"Uma outra estação".
          Era delicioso ver as crônicas de Nelson Rodrigues, "A vida como ela é", no horário nobre do domingo global.
          As propagandas da Rider enchiam o saco. Era moda usar este chinelo fedorento e feio.
          Fredy Mercury moreu de aids, Renato Russo também.
        Começou nas escolas estaduais de São Paulo uma ideia inovadora chamada de progressão continuada, que devido às mas intenções da classe dominante,  a falta de preparo dos professores, família e desinteresse de alunos, se transformou em aprovação automática.
          Calçar All Star voltou à moda.
          Havia duas assombrações bizarras apavorando as rádios: Gera samba e Cia do Pagode. As rádios tocaram tanto que mudaram os nomes dos grupos para respectivamente: "É o tchan" e "Boca da garrafa". Toda época tem sua merda musical.
          O Gugu tinha um programa chamado "Domingo Legal" era uma merda, mas a molecada assistia porque naquela época não havia internet tão acessível e o Gugu mostrava  mulheres peladas, aos domingos, à tarde, em TV aberta.
          Todo mundo queria saber quem matou a popular Laura Palmer em Twin Peaks.
          Ayrton Senna morreu na curva Tamborello.
          A MTV discutia, junto com Programa Livre e outras drogas do gênero a mudança nas atitudes da geração que não queria namorar, mas ficar.
          Titanic deixou de ser sinônimo de desastre marítimo para ser sinônimo de recordista de bilheteria em filmes melosos. E naquele pedaço de pau boiando cabiam os dois.
          Os dinossauros ficaram na moda, além de Jurassic Park havia a inteligentíssima série "Família dinossauro". Mas ninguém estava aí pra isso, só queriam gritar "Não é a mamãe"...
          Todo muro vazio tinha a palavra de ordem: FORA FHC!!!
          Era descolado quem era contra a ALCA.
          Spice girls e Oasis eram o ápice da música inglesa.
          N' Sync e Five o ápice da música americana.
          Michael Jackson ficou definitivamente esquisitão.
          Esqueceram de mim atormentava as salas de cinema e quem vai culpar o Joe Pesci por participar desta bomba cinematográfica.
          Os Mamonas assassinas viraram febre, traziam audiência, faziam grana e morreram numa manhã de domingo num desastre de avião muito esquisito.
          Cavaleiros do zodíaco era o máximo.
          A 89 rádio rock era soberana entre os roqueiros paulistas, mas havia a Brasil 2000 FM que podia ser chamada de underground, com o Tatola e o Maia.

          Havia uma rádio em São Paulo chamada de Musical FM, foi a melhor rádio de todos os tempos. Tocava MPB, dava a ficha completa canção a canção. Promovia shows no Parque do Ibirapuera de cantores como Caetano, Marisa Monte, Gilberto Gil, Toquinho, Milton Nascimento, Djavan, Elba Ramalho, Carlinhos Brown e muito mais. Virou uma rádio evangélica. Triste.
          Em 1999 Ziraldo lançou a saudosa revista "Bundas". Porque quem dava as caras em bundas não daria as bundas em Caras".

          As novelas eram Renascer, Vamp e Torre de Babel. Mas todo mundo virou um pouco kardecista com o remake de "A viagem" e começou a brincar de deficiente imitando o Tonho da Lua de "Mulheres de areia".
          Um avião da Tam caiu e mostraram no horário dos desenhos, acho que algumas crianças ficaram traumatizadas.
          Ficamos durante um tempão falando de um tal de bug do milênio, que seria a pane de todos os computadores na virada do século.
          Isso virou uma espécie de paranoia coletiva e Hollywood se aproveitou com filmes catástrofes como Armagedon e Impacto Profundo.

          Mas o mundo não acabou, ou acabou e estamos vivendo no que sobrou de um mundo que queríamos fazer melhor e fomos incapazes.
          E você? Do que lembra?

segunda-feira, 11 de março de 2013

Tom em Tédio...


Sabe esses dias em que horas dizem nada?
Tédio com um T bem grande pra você.

Anos 80 - a era das ombreiras

            
            Eu estive lá e posso afirmar algumas coisas:
          Ombreiras estavam na moda eram muito sofisticadas, a maior banda do rock nacional no início dos 80 era a Blitz, no fim Legião Urbana, hoje nem uma, nem outra.
          Os jovens vestiam calças bag com a cintura quase no pescoço.
          Keep cooler era a bebida que os meninos compravam e davam pras meninas beber: tinha cara de refrigerante, gosto de refrigerante, descia fácil e deixava as meninas mais fáceis ainda.
          Houve uma coisa chamada verão da lata. Foi o sonho dos surfistas.
          Paulo Ricardo era o máximo.
          Chacrinha era o mais assistido programa de TV.
          Era moda vestir verde limão, rosa choque e azul piscina.
          Fábio Júnior, José Augusto, Rosana, Cátia, Sidney Magal, e por aí vai.
          "Não se reprima" do Menudo era hit.  
          O que falar de brazilian boy bands como Dominó e Polegar. E girl bands como Banana split?
          Havia um programa chamado "Viva a noite" na TVS (SBT atual) apresentado pelo Gugu. Todos ficavam até tarde acordados esperando pelo quadro sonho maluco.
          Não existia balada, existia salão, baile, festa... (era a mesma coisa)
          A inflação fazia todo mundo correr ao mercado pra comprar tudo no dia do pagamento, ficar com o dinheiro no bolso era perder dinheiro.
          O sonho de consumo tecnológico era um Vídeo Cassete Semp Toshiba de quatro cabeças, afinal, "os nossos japoneses são melhores que o dos outros".
          As crianças queriam um lango lango e um go go ball.
          A Mara Maravilha era a resposta do Silvio Santos frente a global Xuxa.
          Ely Correia assustava as criancinhas com o quadro radiofônico: Que saudade de você!
          Roberto Carlos desfilava as canções horríveis que deu a ele a eterna fama de cantor ruim, mesmo tendo sido espetacular nos anos 60 e muito bom nos 70. O Roberto foi assassinado pelos 80.
          Os japoneses iam embora pro Japão. 
          Se um menino fosse agredido na escola ninguém chamava a isso de bullying e se ele chorasse porque apanhou apanhava de novo em casa e os amigos o chamavam em coro de "viadinho, viadinho, viadinho".
          A hortência posou nua pra Playboy e nem existia photoshop.
          O "Perdidos na noite" programa do Faustão era, sim, muito bom. Assim como o "Matéria Prima" do Serginho Groisman.
          O dinheiro era um Cruzeiro que virou Cruzado que virou Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado Novo, Cruzeiro de novo, Cruzeiro Real...
          Acha que a vida é ruim? Nos 80 o presidente do Brasil era o Sarney e depois o Collor. Ah é, começou com o Figueiredo.
          Tinha um chiclete chamado Ploc Monster com transfer. Também a figurinha com tatuagem e o boato que dava câncer.
          Nunca ninguém achou a faca dentro do boneco do Fofão. O que era o fofão? Era um personagem de TV: um boneco feio pra caramba com testículos no lugar de bochechas. Era um personagem infantil.
          Passavam comercial de cachaça e cigarro nos intervalos de programas infantis.
          Os Trapalhões era o programa mais legal que existia. Até chegar hoje e descobrirmos que o que eles faziam era racismo e homofobia. Mas e daí? Era mesmo muito engraçado.
         Se você queria um telefone na sua casa tinha que entrar num plano de extensão da Telesp. Depois pagar uma fortuna pela linha e ter, depois, um serviço de péssima qualidade. Aliás, a linha era uma propriedade, tanto que constava como tal na declaração de Imposto de Renda.
          Os professores podiam puxar as orelhas das crianças. Depois surgiu o Estatuto da Criança e Adolescente. Aí a festa acabou.
          Jornal em banca era o Notícia Populares e na televisão  "O povo na TV".
          Você podia ligar ao vivo no programa do Bozo e mandar ele tomar no cu.
          As mães diziam pras crianças não sentarem no banco do ônibus assim que alguém levantasse ou podia pegar Aids.
          O "show de calouros" revelou Sérgio Malandro, Mara e Pedro de Lara lá lala lala lala la.
          Os Showmícios eram permitidos. Eram a balada eleitoral.
          O Atari era o Xbox da época.
          Havia uma chacina todo fim de semana e os jornais mostravam os cadáveres in loco e ao vivo (o morto).
          Se você juntasse dez tampinhas de pepsi podia trocar por um copo dos trapalhões, aí você podia beber mais pepsi e juntar mais dez tampinhas pra trocar por outro copo dos trapalhões e beber mais pepsi...
             Mano e da hora ainda eram gírias da hora.
          Os cabelos não eram lisos e usar aparelho nos dentes era coisa de criança. De criança que seria discriminada na escola, chamada de boca de lata.
          Não existia Funk, mas existia Lambada.
          Não existia Internet e tudo era mais lento, e ninguém era mais inteligente por isso. Hoje há internet e tudo é muito mais rápido e ninguém é mais burro por isso. 
          O autor da moda era Stephen King.
          O filme: Exterminador do futuro.
          Mandala, Roque Santeiro e Que rei sou eu eram as novelas.
          E pra ouvir o "Apetite for destruction" do Guns'n roses tivemos que esperar pelos anos 90.
          Acreditavam que mundo acabaria no ano 2000.
         Mas o que acabou foi o bom gosto, as perspectivas e o senso crítico em uma década chamada de perdida durante os 90. 
                 


sexta-feira, 8 de março de 2013

Drops rock - Baixas nas bandas parte 2.


Em inglês algumas bebidas são chamadas de espíritos. As pessoas bebem e uma alma fala por elas. Nesse sentido uma mesa de bar é quase uma mesa branca, mesmo que pintada, marcada, demarcada.
Muito bom o drops 20...
(Se é drops: Chupa!)


quarta-feira, 6 de março de 2013

Turma da Mônica, Harvard e Crepúsculo

       
             É comum o discurso pronto de que o brasileiro não lê, a geração ignorante que não gosta de leitura, não aprecia os clássicos e perde-se nas comunidades virtuais.
          Tudo isso é verdade, mas nada é tão simples assim. De fato, o brasileiro não lê, quando lê está distraído e quando escolhe um livro vai pelo que está na moda e nunca pelos clássicos. Mas dizer que somos um país de não leitores por isso é muito pouco.
          Lembro do meu tempo de infância, a minha história com os livros. Todo mundo tem uma história com eles, positiva ou negativa. Traumática ou não. Minhas escolhas não foram feitas por mim, foram feitas na medida do possível.
          Comecei a ler porque era fácil, sempre tive facilidade com a leitura, mas não foi isso que me aproximou dos livros: os brinquedos sempre foram raros na minha infância, senão por não poder comprá-los, talvez pelo fato de que sendo o irmão do meio, não me restava espaço para barganhas.
          Meus carrinhos quebravam, as bonecas de minha irmã e as bicicletas do meu irmão sempre eram conseguidos a muito custo, pedi um vídeo game que nunca veio, não lamento, sempre tinha um livro por perto, por mais rasgado que fosse. 
          Se eu tocasse na bicicleta do meu irmão, ele tomava, nunca me interessei pelas bonecas da minha irmã, pela velha enciclopédia do meu pai sempre tive interesse.
          Quando abria aqueles dois livros: um de geografia, outro de história, entrava num mundo diferente. Havia um esqueleto em um, um quadro que hoje sei ser do grito da independência, um desenho do sistema solar e tudo aquilo me fazia duvidar do mundo. Íamos à igreja e lá o padre dizia coisas que a enciclopédia (velha, ultrapassada e surrada) dizia outra. Aprendi a duvidar: dos mais velhos, dos religiosos, dos meus pais, dos meus irmãos.
          E o que era mais interessante, ninguém tomava aquilo de mim. Quando eu estava com um livro nas mãos - depois vieram outros - ninguém se interessava em pedir a vez. O livro era o meu brinquedo e ninguém queria brincar comigo. 
          Então fui amigo de Drummond, Veríssimo, Machado, mas também fui amigo de escritores que jamais saberei os nomes, livros eróticos que encontrava jogados em lixeiras, Sabrinas, Sexo, Heróis de quadrinho, faroestes de bolso, tantas coisas. Seria muito lindo falar que cresci lendo José Lins do Rego, mas a verdade é mais forte, lia muita porcaria, e minha mente aprendeu com isso. 
          E o que é mais interessante em tudo isso: quando tinha um livro nas mãos as pessoas passavam e elogiavam! Eis o poder que o livro tem.
          Imagino as histórias de hoje, das crianças da geração 3 ponto zero. Os herdeiros que crescem com  com ilustrações animadas, castelos saltando das páginas, livros em formato de brinquedos,  em forma de doce (comestíveis), Bienais, assinaturas da Turma da Mônica e o desespero dos pais quando os filhos dizem que sentem horror à leitura e não sabem o que fazer para que os filhos leiam.
          Pensando ainda minha história, na qual o prazer da leitura veio da facilidade, da necessidade, do proibido, dos questionamentos e do ego sendo inflado por elogios, percebo que as histórias dos leitores estão muito próximas a minha. Claro que há exceções, talvez a maioria, não sou pesquisador, tento ser articulista. 
          O prazer vem das mesmas inferências, mas o problemas não é o desprazer. Sempre na história da humanidade houve poucas pessoas lendo e o Brasil foi pensado para ser um país de não leitores. 
          Que ninguém pense que estou sendo provinciano, a primeira "impressora" veio com D. João em 1808, antes disso eram proibidas impressões de livros no Brasil.
          A primeira Universidade Norte Americana foi fundada em 1636 em Boston, se chama Harvard, a primeira brasileira, se ignorarmos a de 1792, que era uma instituição naval, foi a Faculdade de Medicina da Bahia em 1808. O Brasil começou com a chegada de D. João. 
          No país que foi o último a abolir a escravidão a leitura sempre foi significado de ócio e o ócio sinônimo de vadiagem. (Minha mãe me via lendo e dizia: -Ei Mauro, está aí sem fazer nada, vem me ajudar aqui secando essa louça!). Ócio criativo? Que é isso?
          É corrente no Brasil a ideia de que trabalho braçal é sinônimo de honestidade, desta forma seria um formador de caráter.
           Já ouvi professores repetindo barbaridades como esta: -Que bom que este menino está trabalhando, assim ele começa a valorizar o que é certo. 
          A leitura, a escola, o mundo das letras é posto em segundo plano. No Brasil o trabalho é castigo e a leitura é vadiagem. Como ficamos? Simples: buscando nos equilibrar entre uma coisa e outra. Correndo atrás do que Manuel Antonio de Almeida chamou de "Um sargento de milícias". Buscando nos dar bem.
          Bem simples explicar, um americano quer ganhar na loteria pra realizar um projeto, montar sua empresa, ser o próprio patrão. Um brasileiro quer ganhar na loteria pra se aposentar, ou seja, ser um sargento de milicias.
           A nossa cultura é a da busca pelo vazio, não porque somos piores, porque está no nosso DNA que utilizar a tarde domingo lendo um livro é uma perda de tempo imperdoável, passar sete anos na universidade e não se formar médico é absurdo, chamamos de cu de ferro os melhores alunos da escola, passamos a vida inteira sem ler um livro até o fim. 
          (Detalhe, fiz uma rápida pesquisa e só no Brasil o termo para o bom aluno é tão ofensivo, em inglês diz-se geek, nerd, etc.que se traduz como esquisito). E quem lê fica esquisito e não com o cu enlatado.
          Os resultados da pouca leitura é fácil perceber  na pouca noção de sociedade que encontramos: desrespeitos às leis de trânsito, músicas de baixíssimo nível artístico, uso extrapolado do senso comum em debates, atitudes rasas. 
          Não é à toa que dizem que o Facebook tá virando um Orkut, a culpa não é da comunidade, a culpa é dos usuários. Veja bem aquilo: este é o Brasil: muita foto, pouco texto, rimas pobres, pouco conteúdo, debates superficiais e muito mau gosto. Tudo muito fofo.
          Ler com os filhos, para os filhos, seria um bom começo, mas ao invés disso o que os pais fazem é presentear a criança com um I-phone se passa de ano e com um Samsung Galaxy se repete. 
          Acreditam que o filho é inteligente porque passa o dia inteira na frente do computador, mas não se limitam a ver quais são as companhias virtuais das crianças. 
          A TV era a babá do meu tempo, as babás de agora são outras, babás que formam babacas. Uma geração edonista e sem paciência de ler uma página inteira, guardar uma fórmula de física na cabeça, aprender com qualidade outro idioma.
          Mas todo mundo está tão bonito e feliz na internet. Assim as coisas vão.
          A boa notícia é que não é só no Brasil que as coisas estão assim assim, de onde vocês acham que vêm Crepúsculo, Facebook, Harry Potter, Percy Jackson e outras  drogas? Em compensação nós damos a eles Paulo Coelho, o que perto de J. K. Rowling chega a ser algo até que muito bom.
          Sempre se leu pouco no mundo, e nunca se leu nada no Brasil. Sempre houve best sellers e sempre haverá. E sempre haverá os que compram livros e não leem, e os que o fazem pela metade. Ainda há os que andam com os livros embaixo do braço como adorno, montam prateleiras, o livro é bonito. 
          Mas nunca antes na história desse país e desse mundo, foi tão melhor parecer bonito do que ser bonito.