quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Portas abertas


num piscar de olhos
te vejo abrir os braços
um sorriso
as celas
e cruzar olhares,

te vejo abrindo as portas
abrindo e estendendo as mãos
e sem entender
te vejo
cruzar
e cruzar e cruzar
o grande mar 

então te vejo abrir janelas
o armário, potes, latas,
pacotes e mais pacotes

te vejo cruzar e descruzar as pernas
costura um rasgo num velho vestido
acaricia uma peça íntima
e pensa em mim
em mais, em pi, em si.
Há mais alguém.

Então te vejo reabrir os olhos
o quarto, as pernas
um ai, um mais e mais:
cruza os dedos, as mãos,
os braços

palavras se abrem e se cruzam
e neste mesmo olhar o silêncio se abre
e abre novas perspectivas.

Um rasgo aberto no peito.
No leito exposto um rasgo.

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