O que fazer
depois das leituras obrigatórias?
Depois de
discutir filosofia e escutar todas as músicas?
Foi às festas
Compareceu às
reuniões sociais
Alegrou-se ao
pôr-do-sol
E
embebedou-se de todas as formas de felicidade.
O que você
faz depois que o paraíso resulta inútil?
Quando não há
mais lugares inéditos
Pessoas
inéditas
Poemas e
poetas.
Quando os
navios naufragam sem partir
E não precisa
mais voltar ou se iludir.
O que fazer
quando o amor não é mais Amor?
Sua cidade
não é a mesma?
Sua casa não
é a mesma,
Você não é o
mesmo.
O que você
faz quando todos os lados da cama são o mesmo lado
E todas as
camas a mesma cama.
O que fazer
depois que a calma e a pressa resultam inúteis?
Como agir
quando os ídolos se quebram,
Os mitos
descobrem-se mitos,
E não há
religião alguma em que confiar?
Quando a arte
não os abre mais.
Quando tudo é
ópio ou dor,
Quando nem se
é espinho nem flor.
Quando é
tempo de pedras, musgo, atrofiação.
O que você
faz depois de tudo isso?
Depois de
olhar no espelho e descobrir outra pessoa.
De ir ao
jardim e não ver flores.
Ler seus
poemas e não ver poesia.
Encarar sua
vida e não ver vida.
Depois de
pular e não encontrar o teto.
Procurar e
não ter ninguém por perto.
Fazer o
errado sabendo o que é certo.
Depois de ir
torto num caminho reto.
Todas as
janelas estão fechadas
E não há
portas por onde passar.
Você procura
a claustrofobia, mas ela o abandonou.
Você jogou e
perdeu
Perdeu, mas
jogou.
O que fazer
depois do desespero?
Da esperança
– que é o desespero sem nenhuma esperança.
O que você
faz depois do parto?
Depois de
estar farto de falsas lembranças.
Depois de
beber os artificiais
Provar dos
corantes, no seu paladar os acidulantes
Esvaziar os
instantes.
Decorar sua
casa com duendes,
Bruxos,
pirâmides.
Queimar
velas, incensos,
Untar-se com
unguentos,
Beber água
benta.
E ainda ser o
mesmo
Depois de
descobrir as mentiras das verdades
As verdades
nas mentiras
E de desistir
de entender o mundo nessas condições.
Depois de ver
discos voadores falsificados
O Walt Disney
congelado
Tocar em
sangue alheio coagulado
Ouvir tiros
no quarto ao lado
Um filho
abortado
Ser abduzido
E logo após
esquecido
Ser lembrado.
O que você
faz depois de cessarem os abraços?
Romperem-se
os laços
Secarem os
lagos,
E naufragarem
os barcos?
Você leu
Goethe
E entre
Fausto e Mefistófeles se viu neste.
Em
Shakespeare foi Iago.
Em Jó o
Diabo.
Suas asas
estão mortas para a vida
Como voará
agora?
Com os dentes
espalhados já não pode morder
Seu dedo
amputado já não acusa.
¿O coração
ainda pulsa?
O que fazer
depois de beijar viúvas?
Constituir
família
Educar os
filhos
Resumir-se
Prostituir-se.
Agora que
sabe ser
O resumo do
resumo do resumo de uma frase.
O que fazer
depois daquele porre?
Sempre estará
vivo?
Um dia morre?
Vê a chuva
cair
O avião
passar
O filme
entreter
E ainda é
você.
Acreditando
em anjos
Entrevistando
espíritos
E sem casa só
quer onde encostar.
Depois de
dormir...
Sonha?
Acorda?
Desperta.
E ainda é o
mesmo.
Morrendo
pelas ruas em um dia chuvoso
Marcando o
tempo no pulso.
No seu
coração bate o mundo
Aos olhos:
tudo.
O que fazer
agora que sabe e é impossível esquecer?
Busca um
sentido
Um amigo
Num peito
aberto em flor.
Procura um
mundo em tudo
E em tudo o
encontro com a dor.
Grande escritor Mauro Marcel, que bom que "A Divina Tragicomédia Humana" se reitera em blog, verso e prosa...Abraço!
ResponderExcluirMuito obrigado pelos elogios carinhosos e pelo comentário.
ResponderExcluirEspero sempre a visita. Abraços!