Fazia muito tempo que não acompanhava ficção na TV, as opções são fraquíssimas e não adianta tentar valorizar o produto nacional quando o fadado produto se limita a novelas mal escritas, mal produzidas, atores que me matam de vergonha alheia.
É preciso muito boa vontade pra ignorar tantos defeitos.
Sou do tempo de novelas antiquadas, todos se sentavam ao redor do aparelho e a TV era PB, o que significava preto e branco, mas a imagem era cinza. Era muito bom assistir televisão naquela época, não tínhamos Full HD, mas tínhamos Dias Gomes escrevendo Pagador de promessas, Roque Santeiro, O bem amado e seus etc.
Não me permito ataques de saudosismo, mas voltei ao youtube, (nós agora temos este mecanismo maravilhoso que por si acaba com qualquer ataque passadista), fui até o youtube pra comprovar que a TV da minha infância era péssima também e me frustrei, ou antes, comprovei o que já sabia instintivamente: a TV vem piorando com o passar dos anos e olha que já criticavam o baixo nível das programações desde há muito, desde o início.
Como posso ficar feliz assistindo o que quer que esteja passando hoje no horário "nobre" sendo que havia Beto Rockfeller, Pecado Capital, Vale tudo na TV PB de antigamente.
Quem quiser que compare, está tudo muito ruim e o ruim é considerado de nível elevadíssimo, pois não vejo ninguém reclamando, mudando de canal, ou mesmo fazendo o absurdo de desligar a TV.
Há tantos recursos hoje: DVD, CD, vídeo game, cinemas, teatro, TV a cabo, nem lembrava que havia novelas.
Não lembrava até ouvir falar que haveria uma minissérie na globo baseada num livro do Nelson Mota, que não é conhecido por sua literatura, mas que, por ser tão sólido crítico musical, me levou a assistir o produto global feito com sua obra: "O canto da sereia".
Se Nelson Motta for tão bom crítico de TV como é musical provavelmente deve estar com a cabeça enterrada na areia como um avestruz de pernas muito longas e esquisitas. O canto da sereia só não foi uma série pior porque foi de tiro curto, apenas quatro episódios. Mas quanta ruindade em apenas quatro momentos.
Mas não é daquele ruim bom de assistir, às vezes uma produção é tão ruim que dá gosto de ver, a produção sabe o que está fazendo e não têm medo de parecer ridículos, porque é assim que tem que ser. O que não é o caso da Íris Valverde com sotaque baiano, um elo perdido entre Ivete Sangalo e Cláudia Leite.
O Marcos Palmeira como detetive particular sonhando com a protagonista e sua melhor amiga na cama agarrando-o, numa cena que causou ereções na platéia, mas que não tinha nenhuma função à narrativa, assim como o fato de haver uma caso de amor entre Sereia e sua produtora, ou o detetive Gustavão (Marcos Palmeira) transar com a produtora logo após ela se declarar lésbica: deve ter sido pra tirar a prova pra si mesma. Ou pra atender a cláusula que exigia que em cada episódio apareceria certo tempo de nudez, tanto da protagonista, quanto de qualquer mulher que aparecesse ao redor da Sereia.
Chegaram ao cúmulo de mostrar a Mãe de Santo transando com o ex-namorado da Sereia, que transou com o marido da mãe de santo, quase uma suruba, mas sem gosto, sem enredo, sem sexo, sem nexo.
A coragem da produção está no fato de a protagonista levar um tiro logo no primeiro episódio, raro uma história em flashback pelas paragens brasileiras, mas o que se segue é tão ruim que não dá nem vontade de descobrir quem matou, se assisti aos quatro dias foi pela esperança de que algo aconteceria e pelo mesmo motivo que todo marmanjo assistiu, ver a Íris Valverde pelada, dupla frustração. Essas atrizes de hoje têm de aprender a ficar peladas em novelas com a Vera Fischer, a Isadora ribeiro, até a mel Lisboa.
E nada acontece. Quem mata a Sereia é o gay da história (todo enredo global tem que ter um gay - nada contra, mas cotas têm limite, mesmo o gay tendo sido feito pelo competentíssimo João Miguel de filmes maravilhosos como "Estômago" e "Cinema, aspirinas e urubus").
O auge da ineficácia da construção do enredo foi o fato do marqueteiro do Governador da Bahia, que era o mesmo da cantora (esqueci de mencionar que ela era cantora), o marqueteiro foi assassinado e o crime fica em suspenso, possibilidades se abrem e são abandonadas.
E pouco importa se no livro foi assim, a mídia é outra, outras necessidades se abrem, por isso ninguém me chame de pedante quando eu falar que não gosto de novela, odeio Rede Globo e não perco meu tempo com TV aberta.
Se você não entendeu o que eu descrevi acima, não se preocupe, não me dei ao luxo de revisar o texto, assim como os produtores desta bomba narrativa não se deram ao trabalho de fazer uma produção com um mínimo de qualidade estética. São capazes de fazer algo ainda hoje, me lembro da adaptação do "Dom Casmurro" feito há alguns anos, primoroso. Se bem que esse não assisti, ainda bem que existe youtube: pra eu assistir ao Dom Casmurro após tê-lo perdido, assim como trechos das novelas que citei acima, filmes do mundo inteiro, curtas metragens, até filmecos produzidos por mim. Tudo competindo com o Canto da Sereia, que está lá com certeza, on line, quiçá para sempre.
Sem querer parecer mais pedante, deixa eu voltar para o meu Philip Roth. Não sabe quem é? Joga no google.
Ah tá... Por que escrevi esse texto? Pra que não tenha sido um simples exercício de futilidade assistir a tamanha porcaria. Pelo menos isso...
Por Mauro Marcel
Por Mauro Marcel
É Isis ou Íris Valverde? Pouco importa, a interpretação foi caricata e tosca. Nem o peitinho que ela pagou salvou a minissérie...
ResponderExcluirOlha quem está reclamando do fato de toda novela da globo ter um gay... Eu conheço um escritor/ator/diretor/demagogo que vive fazendo isso e nunguém reclama. E o Nelson Motta envergonhado??? Ele que obriga todo mundo ouvir o que ele acha bom deve éstar simplesmente um pouco mais rico... pra mim ele não representa absolutamente nada. Mas tudo bem, eu tentei assistir a série e não consegui... é ruim demais
ResponderExcluirEngraçado eu nunca vi o Nelson Motta obrigando ninguém ouvir nada.
ResponderExcluirAcho que perdi algo...
E tu tá mais ranzinza que eu... caraca!!!!