segunda-feira, 17 de julho de 2017

Classicismo


Resultado de imagem para homem vitruviano                Estamos falando agora de um dos períodos mais sensacionais da cultura humana. O Renascimento.
                Para ser bem direto é possível dizer que o Classicismo é a literatura do Renascimento, mas isso é limitar muito o que seria um período espetacular do engenho humano.
É claro que não há espaço neste ensaio pra se aprofundar em tudo, encerrar o assunto impossível, mas pra ser bem objetivo neste aspecto: no Renascimento surgem gênios do calibre de Dante, Montaigne, Maquiavel, Petrarca, Erasmo de Roterdã, Camões, Michelangelo, Donatelo, Boticcelli, Rafael, Da Vinci, Shakespeare, Cervantes, Galileu, Copérnico...
                Foram três séculos que revolucionaram a história humana, dos mil e trezentos aos mil e quinhentos. E com certeza você já ouviu falar de algum dos nomes do parágrafo anterior. Deles ou de alguns dos objetos inventados, utilizados ou desenvolvidos para uso prático como a bússola, o astrolábio, as caravelas, os mapas.
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                Nos mapas, na minha opinião, há a principal diferença entre o homem do Renascimento e o medieval. Nos mapas anteriores a 1200 quando o cartógrafo não conhecia algum lugar inventava um desenho, e o trabalho do geógrafo se aproximava muito do de um artista: inventando imagens, criando coisas, abismos, monstros.
Como quem tem... tem medo, os primeiros navegadores aos utilizarem esses desenhos não se atreviam a navegar nestes locais.
Já os cartógrafos dos séculos imediatamente posteriores deixavam lacunas a serem preenchidas por aqueles que por acaso se atrevessem a por lá navegar, ou se por terra, caminhar.  
Resultado de imagem para homem na lua                Isto representa um dos maiores triunfos da mente humana que significa tão simplesmente reconhecer que não se sabe. E reconhecer não saber é o primeiro passo para qualquer indivíduo buscar aprender. A partir desta premissa os mapas foram desenvolvidos, cruzamos a América, inventamos submarinos, chegamos à Lua.
                No meu humilde ponto de vista o Renascimento foi o momento histórico em que as pessoas começaram a reconhecer que não sabiam, fundando assim algo que no futuro seria conhecido como “método científico”. Que significa que algo para ser tido como verdade deve ser testado, analisado, comprovado, refutado, questionado até que não haja dúvidas a respeito. Mais ou menos como faziam os gregos na antiguidade.
                Sim, o vocábulo Renascimento vem da união da palavra nascer com o sufixo re que significa voltar a.
Se renascimento significa voltar a nascer, quando se nasceu pela primeira vez?
Resultado de imagem para camõesE a resposta está nos clássicos, os gregos. Eles foram os primeiros a questionar o conhecimento anterior fundando o que poderia ser entendido como o prenúncio do que hoje é o método científico.
                Diretamente podemos afirmar que o pensamento racional nasceu na Grécia, foi enterrado na Idade Média (embora eu discorde disso, mas tudo bem, bola pra frente) e renasceu no Renascimento dando início ao que conhecemos em história como Modernidade.
                Como o foco aqui é literatura, fica aqui o convite para que você busque conhecer um pouco de todos aqueles caras citados no terceiro parágrafo deste texto, são excelentes. Por hora ficamos com o que foi feito em Língua Portuguesa.
                E também é muito interessante esse período para nós da comunidade em língua lusitana porque Portugal, no que se refere a navegações, foi um dos protagonistas do Renascimento. Vasco da Gama (o navegador, não o clube... piada péssima) foi o sujeito histórico que descobriu uma forma de navegar ao sul da África e chegar às Índias por um novo caminho, ajudando a preencher uma das maiores lacunas daquele tipo de mapa citado acima. Pedro Álvares Cabral aportou por aqui preenchendo com mais terra o mapa mundi, ajudando-o a tornar-se o que é hoje.
                Da viagem de Cabral ficamos nós, da de Vasco da Gama ficou um livro conhecido como o maior exemplo de epopeia em língua portuguesa: Os Lusíadas. Livro que conta a história real da descoberta do novo caminho para as índias, mas de forma a engrandecer o povo português de tal modo que até os erros históricos soassem como acertos divinos.
O grande herói d’Os Lusíadas não é Vasco da Gama, mas o povo português, sua história, seus grandes feitos, sua fundação, seus amores (como o episódio de Inês de Castro) ou sua força ante os deuses (como no episódio do Gigante Adamastor).  
Resultado de imagem para teoria heliocentricaTudo muito grandioso e entediante aos olhos de um rapaz do século XXI. E deixa eu confessar: aos olhos de um rapaz do século XVI também. Sim, este livro não foi feito para ser popular, nem admirado no mundo inteiro. Ele se utiliza de uma história já contada: A Odisseia, de Homero, que também narra aventuras no mar e adapta a algo grandioso feito pelo povo português. Nada que algum dia tenha seduzido um jovem leitor de aventuras marinhas, ou não?
Não me levem a mal professores de literatura e acadêmicos fãs de Camões, reconheço que os Lusíadas foram um marco espetacular para uma nação que vinha a toque de caixa a tornar-se o país mais poderoso do mundo e que, a história nos prova, deu o passo maior que as pernas. Portugal teve seu rei Dom Sebastião morto buscando ampliar os domínios territoriais lusitanos, e sem deixar herdeiros passa para as mãos do Reino Espanhol.
Camões estava ciente disto até mesmo em sua obra prima. Há um episódio conhecido como O velho do Restelo, em que um velhinho, ao ver os barcos saindo para alcançarem novas terras, espalharem o domínio português buscando riquezas alega que estão esquecendo-se do povo português em Portugal e que aquilo não vai acabar muito bem. Vale como registro histórico maravilhoso porque é percebido neste momento que nem todos concordam com os caminhos ditados pela corte portuguesa aos rumos do reino. Também é importante ressaltar que o velhinho chato que parece estar ali apenas para mostrar a inveja dos invejosos tinha razão. E como tinha razão.
Tanto foi que no século posterior, dominado pelo movimento Barroco. A literatura em língua portuguesa dá a tônica do que apequenamento de Portugal pois nenhum escritor de calibre ousou escrever em Língua Portuguesa, tanto que os maiores escritores barrocos portugueses estavam no Brasil: Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira. Dois assuntos para outro momento, inclusive se este parágrafo é verídico ou não.
Resultado de imagem para busque amor novas artesVoltando ao Classicismo em Portugal vale ressaltar que o soneto, uma composição poética formada por quatorze versos decassílabos, divididos em quatro estrofes: dois quartetos e dois tercetos; foi introduzida e desenvolvida à náusea. Os sonetos de Camões são em grande medida uma parte menor de sua obra, tidas assim até pelo próprio. Apesar da grande popularidade e beleza de alguns, vale ressaltar que muitos são simples versões de sonetos do italiano Petrarca, outros inclusive com trechos todos copiados. Alguns maravilhosos, é claro, mas ainda assim falta à sua lírica (os poemas) o que tem em sua épica (os Lusíadas).
Mas originalidade era algo menor neste período. Note como ao longo da história anterior ao renascimento o conceito de autoria era muito relativo. Não era dado a conhecer o nome do autor de muitas obras pelo simples fato de que ninguém se importava muito com isso. Era como se fosse pedido para alguém da gráfica fazer um convite de casamento e virem todos assinados pelo José da Silva, responsável pela sua formatação. Os quadros anteriores a este tempo não valorizavam a individualidade, o trabalho humano por trás de si. Outro grande mérito desta época: sabemos quem criou o que criou, como criou e porque criou. Ou, ao menos, podemos atribuir autoria. As obras começaram a ser assinadas.
Resultado de imagem para sapiens yuvalValorizar a racionalidade é dizer pouco porque as lacunas ainda estão sendo preenchidas: o homem pôs satélites em órbitas, e quando falo o homem falo de você e eu também. Porque quando um indivíduo de uma espécie é capaz de realizar algo significa que todos são. Portanto todos pisamos na lua com o pé de Armstrong, pilotamos remotamente o Mars Rover em Marte, pousamos uma espaçonave num cometa, enxergamos através de galáxias com o telescópio Hubble, estamos viajando nos confins do Sistema Solar com a sonda espacial Voyager, aumentamos a expectativa de vida em décadas, curamos doenças milenares como a varíola e a sífilis, desmontamos a cilada malthusiana através do abastecimento maciço de alimentos ao redor do mundo e é claro temos todos os problemas referentes a isso porque, mesmo hoje, ainda há pessoas vivendo como se o Renascimento e suas conquistas posteriores jamais tivessem existido.
A Modernidade não chegou para todos, para alguns ainda nem os sentimentos de igualdade, liberdade e fraternidade da Revolução Francesa que veio séculos depois não se anunciaram. Isto é uma questão urgente em que se deve trabalhar: utilizar da racionalidade para desenvolver mecanismos para que todos tenham acesso aos benefícios do preenchimento das lacunas através do conhecimento que apenas o método científico pode trazer.
E para ler mais um pouco a respeito recomendo um livro maravilhoso de um cara chamado Carl Sagan, chamado “O mundo povoado pelos demônios”. Nele Sagan nos diz da importância da utilização do método científico para o benefício da humanidade.
Sobre arte recomendo “A história da Arte” de Gombrich. Que é profundo e leve ao mesmo tempo.
Resultado de imagem para quadro autópsia“Sapiens – Uma breve história da humanidade” é um livro fundamental para entender tudo o que se passa por nossas cabeças. Vale ler e reler.
“Breve história de quase tudo” de Bill Bryson é um livro elegante que não pode deixar de ser lido por ninguém.
Dito isto, apenas espero que o equilíbrio entre fé cega e racionalidade absurda esteja em dia na sua vida, porque no século XVI a igreja cobrou a conta destes quase trezentos anos de liberdade e razão. Que venha o Barroco!

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