Nas
últimas semanas uma lei importante surgiu dentre as tantas que nos povoam a
constituição: a que obriga os hospitais darem tratamento médico a doentes de câncer
em um prazo máximo de 60 dias após confirmação de diagnóstico.
Salvo
alguma imperfeição em meu português a informação está bem clara: se você
conhecer algum doente de câncer, ou mesmo você tiver um tumor (deus me livre), o
governo é obrigado, por lei, a te tratar no prazo de dois meses.
Justiça
seja feita, é mais que necessário o rápido atendimento, ainda mais quando se
trata de tumores malignos, as chances de cura aumentam exponencialmente quanto
menores as distâncias entre suspeita, diagnóstico e tratamento.
Exagerada
foi a visibilidade dada pela grande mídia à notícia, recebida a nova lei como
exemplo de avanço na saúde pública.
Veja
bem, não estou nem aí pra quem pensou, tramitou, aprovou esse retalho na
constituição, me interesso por haver cada vez menos hospitais pra tratar
doentes. Doentes graves, pouco graves, muito até, câncer, acidentados,
terminais.
É
muito mais fácil aprovar uma lei que construir hospitais, formar médicos,
inaugurar novos cursos de medicina, investir em saneamento básico – o que evitaria
muitas das doenças que mais matam os brasileiros.
Não
estou nem aí mesmo pra esta lei. Se algum dia eu tiver câncer, não vai adiantar
levar a fotocópia da carta magma com o referido trecho em negrito e exigir
atendimento.
Os
hospitais estarão fora da lei. Quem será preso? Quem será o culpado quando houver
metástase?
Não
quero cair na mesmice das críticas, eu sei da importância da construção de
estádios pra copa e olimpíadas, embora eu saiba que investimentos maciços em
educação sejam muito urgentes (minha consciência diz que são mais urgentes).
Quero
criticar outra característica do Brasil que vejo pouco analisada pelos “sérios”
articulistas: o Brasil quando não consegue resolver um problema, inventa uma
lei – e não a cumpre.
Em
vez de educação familiar e formação de base – lei da palmada.
Em
vez de investimento em saúde – lei que obriga o tratamento em menos tempo.
Em
vez de respeito a tudo e todos – lei Maria da Penha.
Isso
apenas citando três casos. E antes que alguma feminista me venha encher os patovás
pela citação à lei Maria da Penha,
é claro o avanço. Mas o estado deveria garantir apoio integral à mulher:
educação, proteção, respeito. Inclusive educação aos homens, para que entendam
seu lugar, sim, um ao lado do outro. Iguais. E punição severa a qualquer forma
de agressão.
Para
que não fiquem dúvidas, vou tentar me fazer entender melhor com mais exemplos:
o Estatuto do Idoso é digno de países avançados, mas o fato de existir um
estatuto não garante que os idosos serão respeitados. É um avanço enorme, inibe
maus tratos, mas não garante nada.
Ainda
existem menores abandonados décadas depois da criação do Estatuto da Criança e
do Adolescente.
O
que garantiu universalização do Ensino não foi o ECA, foi a construção de
escolas, o que vai garantir a melhoria da educação é investimento em salário e
formação e educadores d. O ECA aplaudido e fechado na estante é letra morta.
Já há uma lei que garante tratamento devido a todos, sem distinção de raça, credo, cor ou religião; chama-se Constituição Federal. Criar uma lei sobre a lei é o que meu saudoso avô Gainete dizia ser: “Chover no molhado”. Eu chamaria de pleonasmo.
Prefiro a denominação ‘propaganda ideológica’. Mas isto será assunto pra outro momento, por enquanto recomendo o livro “O que é propaganda ideológica” do Nelson Jahr Garcia, da coleção Primeiros Passos da Ed. Brasiliense. Ótimo livro.
Já há uma lei que garante tratamento devido a todos, sem distinção de raça, credo, cor ou religião; chama-se Constituição Federal. Criar uma lei sobre a lei é o que meu saudoso avô Gainete dizia ser: “Chover no molhado”. Eu chamaria de pleonasmo.
Prefiro a denominação ‘propaganda ideológica’. Mas isto será assunto pra outro momento, por enquanto recomendo o livro “O que é propaganda ideológica” do Nelson Jahr Garcia, da coleção Primeiros Passos da Ed. Brasiliense. Ótimo livro.
Celebrar leis no Brasil é tão típico quanto celebrar o carnaval. Temos que tomar cuidado com esse tipo de situação e pensar em como pôr a letra nas ruas, nas mentes, nas ações, transformando-a em políticas públicas que garanta o que propõe.
Mas esse é o meu país, um local onde levam mais a sério o Código de Defesa do Consumidor que a Lei de Diretrizes e Base da Educação. Um país tem a cara de seu povo.
Mas esse é o meu país, um local onde levam mais a sério o Código de Defesa do Consumidor que a Lei de Diretrizes e Base da Educação. Um país tem a cara de seu povo.
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