O marido continuava
roncando. Parou em frente à cama e passou a contemplá-lo: sentou-se na poltrona
que ficava ao lado da mesma e cruzando braços e pernas, começou a pensar em
como diabos teve coragem de diante de um padre, da Santa Madre Igreja e de
Deus, jurar amar aquele desgraçado até que a morte os separasse.
Seus olhos negros
ainda não haviam acordado para o dia. Ela dormia e foi em silêncio que acordou.
Sem dizer palavra
alguma e com olhos ainda encobertos pelas nuvens dos sonhos observou o marido
que permanecia roncando na cama.
Quantas recordações a
assombravam!
Quantas esperanças
deitadas e roncando.
Lembrou-se de quando era
jovem e alegre, não que tivesse envelhecido. Definitivamente não havia
envelhecido.
Havia sonhado com o
dia de há dez anos. Com o seu casamento. E percebeu que acordar não é uma coisa
muito boa de fazer com o passar dos anos.
Até que a morte os
separasse. Até que a morte...
A frase ficou
martelando em sua cabeça.
Levantou-se. Foi à
cozinha. Colocou meio litro de água para ferver. Foi ao banheiro e olhando-se
no espelho viu que ainda era uma mulher bonita.
Saindo viu que a água
já estava fervendo. Foi ao quarto onde o marido dormia:
-Acorda, amor. Tá na
hora. Vai se atrasar pro serviço de novo. O café tá quase pronto.
Beijou-o na boca, com
a certeza de que aqueles pensamentos a atormentariam até o fim. Até que a morte
os separasse.
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