Era ela.
O sonho dela, o sono dela, o riso cada
vez mais riso e nítido o riso dela.
O tráfego era ela. O caminho era ela.
O desejo por uma nova solução, a solução dela. A infância dela.
Todos queriam um beijo e a boca
pertencia a ela.
Um pensamento não pensado, uma estrela
a iluminar o caminho dela. Tudo ela.
E foi ela e ele. No princípio ele por
ela. Ela por ele. Um par perfeito, um dueto invejado, plagiado, amantes,
sorrisos e abraços. O braço dele nela e o braço dela nele.
Eram eles. Os sonhos deles. Deles o
sono. O riso grandioso, grandioso riso deles.
E cada vez mais ele que ela e ela
cansando dele. O medo de perdê-lo. O medo de não tê-lo sem saber que a ele já
não tinha.
O dia dela?
O dia dele?
A mãe dela? O pai dele.
O dinheiro dele separado do dinheiro
dela. A família dele no natal deles e a dela numa eventual celebração sem ela.
Cada vez menos eles. Ela esquecia-se
dos sonhos. Os sonhos dela. Ele ignorando o que vinha daquela boca, o beijo
dela, os risos, a voz suave e rouca, de seu coração os sonhos que antes tinha
“os sonhos que ora eram ela e ele, dela e dele”.
E foi ela pela rua. E foi o trânsito.
Foi a curva. Foi o carro. Foi bolsa de um lado. Foi ela de outro. Foram graves
feridas e foi muito triste a morte dela.
O sonho dela?
Onde está ele?
O riso dela: parca lembrança no
passado dele.
(Conto vencedor do Concurso Palavra em Prisma - 2009)
Publicado no livro do concurso e a ser publicado no livro Cabeça do objeto e outras pedradas.
Deliciosa história que não canso de reler...
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