terça-feira, 30 de abril de 2013

balada rasteira

culpa desta água morna
que temos que engolir
deste jogo zero a zero
pra aplaudir

nem de um lado
nem do outro
tudo meio a meio

nem grande ou pequeno
nem médio
rasteiro

este feto natimorto
não vive, não morre
esta meia maratona
não anda, não corre

nem se veste, nem se despe
o que você quer agora?
não fica, não parte
vai logo embora


sábado, 27 de abril de 2013

Haikai 5720




como já tinha dito
um passo atrás o poema
um passo à frente o conflito

Haikai 0001




a gasolina escorre no asfalto
um cigarro aceso acende
ascende ascende

o preço

jura
que o preço do feijão
não cabe na fatura

que o ovo frito
estralando no óleo
indica outra fervura

e o ponto nevrálgico
é que o meu salário de fome
já não dá nem pra mistura

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A lei da meia entrada - professores, estudantes e idosos perdendo direitos


             O que é:

              Há o projeto de lei para "organizar" a meia entrada em eventos artísticos, culturais e esportivos.
              Segundo esta lei haverá uma cota de 40% dos lugares disponíveis, que serão divididos por todos os que fazem uso desse direito: estudantes, jovens carentes (entre 15 e 29 anos), idosos e deficientes físicos.
               Também regulamenta que apenas as entidades "oficiais" poderão emitir as carteirinhas. São elas: UNE, UBES e ANPG.
                Problemas:
                 -se você entrar numa faculdade não poderá mais utilizar a carteirinha do seu curso, terá que pagar 20 reais para uma das instituições acima, e no ano seguinte renovar a carteirinha, no ano seguinte a mesma coisa;
                 -se você é aluno de escola pública, não poderá mais utilizar o RG escolar, nem documento oficial emitido pela escola, terá que pagar 20 reais para a UBES, e no ano seguinte renová-la, e no outro, no outro, no outro;
                  -os professores estão excluídos da discussão porque as leis que garantem a meia entrada para os docentes são estaduais. Mas com certeza será um direito perdido, porque todos sabem que as leis federais sobressaem-se às leis estaduais. Não haverá carteirinha da UNE, UBES ou ANPG para professores;
               

              Problema maior ainda:
              As instituições que emitirão as carteirinhas não estão representando os estudantes neste debate, que não está sendo feito. Ninguém perguntou o que os estudantes pensam sobre o assunto, perguntaram pra  UNE, UBES e ANPG se eles querem ganhar dinheiro e, é claro, eles querem. E muito. Imaginam todos os estudantes tendo que fazer as carteirinhas pagando vinte reais cada um. Imagine um milhão, dois milhões, dez milhões de carteirinhas a vinte reais cada uma!!!
               Por que será que estas instituições estão bem quietinhas no canto delas?
           


             Problema ainda maior:

             Dizem que o preço dos ingresso é alto por conta do grande número de meia entrada. O que é uma mentira deslavada.
             O preço do cinema e dos shows é alto porque em cada esquina há DVDs e CDs piratas. 
              Estão pondo a culpa da extorsão dos autos preços na carteirinha, mas a questão é que a culpa é muito mais complexa e envolve download ilegal, contrabando e muito mais.
              Vão exterminar com a meia entrada, os preços não vão diminuir e vão agir como se nada houvesse acontecido.
               Sem contar o fato de muitos produtos culturais terem financiamento governamental.
               Em suma:
               Agora que pobre faz faculdade e paga meia no cinema, show e teatro, querem limitar este direito, sem contar os professores que perdem esta porta de acesso a eventos culturais.


               POR QUE NINGUÉM ESTÁ FALANDO NADA A RESPEITO? EM PAÍSES "DESENVOLVIDOS" COISAS MENOS IMPORTANTES QUE ISSO CAUSARIAM PANELAÇO, PASSEATAS, PROTESTOS E AFINS.
             

Drops rock 31 - Heavy metal

Esse drops até me emociona, porque o heavy metal foi a minha porta de entrada para o movimento roqueiro.
Nos meus primórdios heavy metal era, para mim, sinônimo de rock. Depois fui me apurando, me aprofundando, renegando algumas coisas, o deus metal sempre ficou.
Eu era uma daqueles que falava que música tinha que ter guitarra, cabelo e caveira. mas são outros tempos hoje, pero nadie me fuerza escuchar lo que escuchan ahora!!!! Nadie!!!!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Meia entrada, enrabada e quarenta por cento

               O Brasil é um país sui generis. Diferente de muita coisa que acontece por aí. 
              No mundo sempre há alguém enrabando alguém, nos países capitalistas o capital sempre enraba o povo, no socialismo é o estado o enrabador. 
            Nos Estados Unidos a saúde é privada, funcionando ou não, eles sabem a quem reclamar quando algo não está certo; em Cuba a saúde é pública e quando não funciona sabe-se a quem recorrer. 
              E nem precisa o Estado ser socialista para a saúde ser pública, como no caso da Inglaterra, em que há o sistema de saúde universal: com problemas se recorre às ouvidorias.
              Então a escolha: o capitalismo puro, ou o socialismo (mesmo que nunca puro, mas com vistas ao social).
              No Brasil a saúde (que reza a constituição, deve ser um direito de todos) o acesso à medicina nem é público nem é privado. Pagamos impostos para ter médicos quando precisarmos, e pagamos convênios para não precisarmos dos médicos públicos.
         O caso é que somos enrabados pelos convênios particulares que nos deixam na mão quando precisamos e pela saúde pública que no Brasil é sinônimo de ineficácia. 
          E isto acontece com tudo por estas bandas: bancos, estradas, transporte, educação.
        É sabido que no Brasil a educação é melhor nas escolas particulares, mas pagamos impostos que financiariam uma educação de qualidade. 
      Em nossa nação temos os problemas do descaso com que o governo trata tudo, inclusive a educação. Os governantes são donos ou lobistas de emaranhados particulares. Desta forma você não pode esperar que um vereador queira instaurar creches e escolas públicas de qualidade na sua cidade se ele é dono de creches e escolas particulares. 
     O cara é votado pra defender os direitos do povo, mas no caso os interesses particulares, seus interesses, vão de encontro aos interesses mais urgentes da população. 
       Assim temos o nosso capitalismo de araque: um tremendo gang bang em que nos passam a mão na bunda, voltamos monotetos pra casa e sem comer ninguém.
          A população acredita que os caras se elegem pra roubar, mas nem é preciso. Se elegem pra defender interesses próprios. Interesses que nem são escusos, são óbvios e claros e abertos a todos. 
        No Brasil tudo funciona, engana-se quem pensa o contrário. Há uma política de organização do estado para servir a interesses particulares, e de controle ideológico para fazer a população não se incomodar com isso.
          Por isso ficamos tão entretidos com os espelhinhos e bugigangas que nos trouxe Cabral, assim como ficamos entretidos com os celulares que nos trouxeram Steve Jobs e coreanos, chineses e o camelô da Santa Ifigênia. 
          A próxima enrabada será com o sagrado direito do estudante à meia entrada em eventos culturais e artísticos.
           Uma lei que tramita no congresso e está pra ser aprovada limita o acesso a apenas 40% dos acentos para a meia entrada, e apenas carteirinhas de instituições oficiais, como a União Nacional dos Estudantes, por exemplo. 
         Este é o maior crime do estado brasileiro desde o Ato Institucional Número 5. 
       Apenas duas ou três instituições poderão emitir carteirinhas de estudantes, quem quiser ter a sua terá que pagar (o preço que eles estipularem, cobrado de estudantes, muitos deles carentes). Os professores estão excluídos dessa história, haverá uma lei federal que passará por cima de qualquer lei municipal ou estadual.
       O pobre professor tentará pagar meia entrada apresentando seu holerite e os caras do cinema, teatro, shows e concertos se recusarão, alegarão que respondem a uma lei federal que apenas permite venda de meia entrada aos portadores de Carteirinha de Estudante da UNE. 
          Os salafrários que propõem esta lei servem a vários lobbies. 

        Entre eles o dos cinemas que se dizem prejudicados com o excessivo número de carteirinhas falsas, que a regularização das carteirinhas reduziria os preços dos ingressos, porque assim somente estudantes  de verdade pagariam a meia entrada. O que é uma lavagem cerebral descabida.
          O preço de shows aumentou porque os cantores não vendem mais discos.
          O preço do cinema aumentou porque há DVDs piratas.
          Tudo isso mais os downlados ilegais.
          O preço do teatro está o mesmo, consigo assistir uma peça pagando 15 reais na praça Roosevelt, 7,50 se eu pagar meia. Agora se você quiser assistir a um monólogo do Antônio Fagundes, pode pagar 100 reais, o dinheiro é seu.         
      Quer dizer, não dá pra piratear o teatro. Não como pirateiam o cinema e a música.  Impossível fazer download de uma experiência teatral.
        Querer tirar dinheiro da população que paga meia pra compensar a pirataria é obsceno. E pior ainda: com a desculpa de que isso vai baratear o preço. Meus amiguinhos, isso aqui é o Brasil. O maior gang bang do mundo.
          No planeta inteiro é preciso que haja qualidade na produção artística para que público se apresente. O artista vai onde o povo está, mas o povo também vai até o artista. Acho que foi numa entrevista com o 
Fernando Meireles que ouvi dele a frase: "quer liberdade artística vai escrever um poema, não fazer cinema".
          Pois é, o cinema é uma indústria. E nos Estados Unidos é tratado como tal, lá e na Índia também. O produtor investe dinheiro e quer retorno. 
       O filme tem que ter alguém assistindo, caso contrário será um fiasco. Não há espaço tão largo a aventureiros. Ou a produção é boa, ou o diretor terá muitos problemas para filmar novamente. Há a captação de recursos, há a devolutiva aos patrocinadores; que tem seu lucro e o dinheiro devolvido para investir em outro filme. Assim a indústria cinematográfica funciona. 
          No Brasil os filmes são, em sua maioria, financiados com recursos públicos. (Quantas vezes você não viu a palavra Petrobrás no início da projeção, e mesmo se ver empresas adversas, o que há é o governo abrindo mão de recolher impostos porque estas empresas investiram em cultura). 
        O que eu quero dizer é que o Brasil é o único país do mundo, ou um dos poucos, em que um filme não precisa gerar lucro. O diretor não deve nada ao produtor, que não deve nada a ninguém. O filme não precisa ser assistido por nenhuma via'alma, porque já foi pago e com dinheiro dos nossos impostos.
           Uma vez eu fui a uma exibição do filme "A hora da estrela" da Susana Amaral. Houve uma entrevista com a diretora ao final da exibição e um idiota se levantou (um idiota bem intencionado) e disse que enquanto uma diretora maravilhosa como a Susana tinha dificuldades pra gravar, o governo investia dinheiro pra filmar filme espírita. "Uma vergonha".
             Acredito sim em muito deste argumento, mas o cinema tem que passar o que o povo quer assistir e ponto. 
           Tem que haver o espaço para o cinema "cult", mas não com financiamento de dinheiro público. Que buscassem investimentos na iniciativa privada e que deem retorno, porque é muito provável que você que agora me lê não tenha assistido ao "Hotel Atlântico", último filme da Susana Amaral, mas deve ter assistido ao "Chico Xavier", ao "Nosso Lar"; senão esses algum enlatado americano ou o "Tropa de Elite". Todos  filmes que deram lucro e geraram financiamento para outros filmes. O povo foi onde o artista estava.
          Onde eu quero chegar com isso? Simples. Nós deveríamos assistir a filmes nacionais de graça. Isso mesmo, sem pagar nada. Porque já pagamos por eles em forma de impostos, também àquelas peças teatrais financiadas pelo governo federal a custo de 300 reais a entrada, também aos shows obscenamente caros.
          Dei o exemplo de filmes, mas com alguns discos é a mesma coisa, livros, espetáculos circenses. Sabiam que o Cirque de Soleil captou recursos públicos? Quanto é o  ingresso pra assistir a esse espetáculo? Quanto é a meia entrada? Quanto o governo deu pra eles? Quantas pessoas precisam assistir ao espetáculo para que ele dê lucro? Nenhuma pessoa. O espetáculo está pago. Eles poderiam fazer o show a céu aberto que não teriam prejuízo algum. 
          Isso explica um pouco, mas não tudo, é claro que arte não é apenas lucro. Mas se enganam quem pensa que tudo que é arte é cultura e que tudo em cultura é arte.
          Um escritor não é escritor quando escreve, mas quando publica e é lido; pra ser lido alguém tem que pagar pelo seu livro e este autor tem que estar preocupado sim com a recepção da sua obra. Não se moldar ao público, mas perceber se é ou não aceito. Um livro que ninguém leu não é um livro, é um objeto pra juntar poeira e alimentar o ego do autor. Filme, música, teatro, cinema, idem.
          Limitar o acesso ao direito da meia entrada é um crime. Num país que paga tão mal aos professores pagar meia entrada é uma ridícula, mas maravilhosa, compensação.
           Compensação que nem é dado, é algo que já foi pago no país com a maior taxa tributária do mundo civilizado. Quando vemos um filme no cinema produzido com financiamento público e pagamos pelo ingresso, somos enrabados duas vezes. Se pagamos meia entrada, compensamos, mesmo que de forma irrisória isso.
            Temos que nos unir para impedir que isso siga adiante. Há sim muita fraude, mas não começa pela carteirinha, começa pelo filme pirata na banca do camelô, pelo diretor que faz o filme só pra ele assistir, pelo deputado que é dono de cinema, pelo sacana que faz uma carteirinha falsa. Retirar direitos com uma caneta, é o que está por acontecer, e o pior é que a UNE, que deveria ser a defensora dos estudantes, não está nem um pouco interessada em defender estudante nessa hora. Serão eles os maiores beneficiários, imaginem quanto dinheiro eles não cooptarão pra fazer um plástico com uma foto!!!
          Dinheiro suficiente pra fazer um filme, acho que até já sei um bom nome: Enraba o brasileiro, ele nem reclama.
        

vivendo a esmo

aprontamos tanto
vivendo a esmo
já nem sei mesmo
quem sabe a quantas

estamos tonto e tonta
girando meu corpo em seu corpo

me encanta!

não te busco
te encontro
me destruo
desmonto

e reconstruo-te
amo

pronto

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Perguntar não ofende - Geraldo Alckmin


Mais uma pergunta da séria série perguntar não ofende:


O que o Geraldo Alckmin tem que faz alguém acreditar que ele pode ser o governador de algum estado? O cara não tem carisma e liderança nem pra ser síndico de condomínio classe média. Por que esse encosto está aí até hoje? Acho que foi a praga do Mário Covas aos professores por causa da guardachuvada que levou nas costas de um professor em frente à Secretaria de Educação. Dois safados.

domingo, 21 de abril de 2013

Tiradentes, by Fábio Sant"Anna


Sem legenda!!!

Patonheta, by Fábio Sant'Anna




Quando tínhamos um Fanzine, "O Clandestino", algumas das tiras do Patonheta chocaram os moradores do subúrbio de Guarulhos e São Paulo. Em algumas gavetas perdidas destes rincões, ainda deve haver alguma edição do mais louco zine de todos os tempos, com o personagem mutante mais mutante que as mutações do Professor Xavier.

sábado, 20 de abril de 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Funk, Beethoven e Amado Batista

         No final do ano passado organizamos, um café filosófico na escola que trabalho com o tema: Música e funk. O texto que segue é uma tentativa de sintetizar um pouco do que foi aquele momento.
          A música começou de forma primitiva. Um cara nas cavernas bateu uma madeira na outra e bateu de novo e de novo e anoiteceu. A fogueira acesa, as madeiras batendo, as pessoas se remexendo, alguém trouxe um tambor, outro começou a fazer sons incompreensíveis com a boca, algumas meninas em cima de uma árvore começaram a bater palmas.
           Na manhã do dia seguinte só comentavam a noite do batuque, prometeram repetir a festa e repetiram, alguns trouxeram pedras, outros chifres de animais mortos, pessoas vinham de longe e aprendiam a batucar. Alguém serviu o que sobrou do javali morto do dia anterior, um rapaz trouxe uma bebida fermentada de restos de arroz, ficaram alimentados e bêbados.
            Assim inventaram a música, a festa, a confraternização, o transe hipnótico que só o ritmo é capaz de trazer. (Grosso modo, bem grosso modo, foi assim que aconteceu).
          Também grosso modo a nossa música, a escutada hoje, tem raízes europeias, africanas, indianas,  árabes, vivemos num caldeirão de sons e ritmos. 
           Hoje é tudo muito diverso, as rádios não tocam mais músicas, as canções estão agonizando (há muito e muito tempo). A extensão MP3 nos permite acumular mais de 10.000 canções em um aparelhinho do tamanho de um dedo médio.
           Talvez essa banalização é o que tenha retirado o caráter de celebração da música e explique um pouco do vazio presente nos argumentos das canções. 
           E é nisso que está o cerne da questão: o funk é vazio. E qual é o problema?
          Quero falar de um ritmo que nasceu nos morros cariocas, som de negro, de favelado. Um ritmo que era escutado de forma marginal por gente de baixa renda, não era aceito pelas grandes gravadoras, símbolo de pouca qualidade musical, de pouco nível intelectual do apreciador. 
           As festas consideradas orgias, as dançarinas chamadas de prostitutas, os compositores detratados. Até que alguns brancos descobriram o que acontecia e começaram a apreciar o ritmo, primeiro alguns brancos ricos, depois espalharam a notícia, o ritmo foi escutado, apreciado e enfim aceito como baluarte da cultura nacional. 
          Estou falando de que ritmo? Sim, dele mesmo: o samba.
          Não tenho o menor medo da comparação.
       Com o funk de Tati Quebra barraco e Claudinho e Boxexa acontece o mesmo que aconteceu com o samba de Noel, Cartola e Martinho da Vila.
          Há muita gente que deveria estar mais interessada em olhar o próprio nariz, ler um pouco de história (do Brasil, da América Latina, da arte, do mundo).
          Música não é argumento, o nome disso é livro. Música é outra coisa. 
          E nem tudo é narrativa, se música de qualidade fosse música com boa letra Beethoven seria um nada, ele e os demais clássicos, assim como os mestres do Jazz. 
          Infelizmente o Brasil é um país de memória curta, uma nação que não está habituada aos livros, com uma porção de gente com opinião, pessoas que não sabem que opinião sem argumentos é boato. 
        Dizer que o funk é uma porcaria  é semelhante ao que diziam do samba quando este começou. 
        O funk não conversa comigo, não é minha música, mas chamá-lo de barulho se equivale ao que os pais da geração beatnik  diziam do rock. 
        Arnaldo Antunes tem uma canção maravilhosa que na letra diz que há "música para ouvir no trabalho, música para jogar baralho, música para arrastar corrente, música para subir serpente" e nesse mundo de banalização da canção há até "música para ouvir". 
           Qual é a música para ouvir?
          Ouvidos preconceituosos que querem ouvir música para ouvir na hora de ouvir música para dançar. Querem música para tocar no estádio na hora da música para ninar nenê. 
             E no fim é só música.
          Demorou muito para mim e meu heavy metal aprendermos que a minha mãe evangélica tem outra história de vida e não vai ouvir comigo o "The number of the beast" do Iron Maiden. O caminho é outro.
         E que papo de velho esse de que "essa dança só ensina o que não presta". "Baile funk é lugar de sexo e drogas". 
          Infelizmente, esse papo de sexo e drogas é coisa de juventude. 
        Quem se incomoda com isso é porque não é mais jovem. Já foi Jazz, drogas e sexo. Rock, drogas e sexo. O ritmo da vez é o funk. E é sempre bom procurar informações idôneas. Há um exemplo bacana: o filme "Grease" tem um baile em que se dá uma mostra de como eram as danças em bailes dos anos 50 ao som de rock. A dança é a do funk. 
         Voltando um pouco seria o jazz. Voltando mais seria alguma outra dança mais antiga, até chegarmos naquele cara batucando as pedras, os tambores e as madeiras. Não é música para ouvir, é música para dançar.
          Nunca entendi a música eletrônica, até que aceitei o convite e fui a uma rave. Tudo fez sentido. A música eletrônica é maravilhosa, na rave, num clube noturno, numa festa, dançando com muitas luzes pipocando. Nunca na sala da minha casa, no auto falante do meu aparelho de som. 
          Há ritmos muito menos perseguidos pela mídia e senso comum, mas que são verdadeiras latrinas musicais como o lixo do sertanejo universitário, o excremento daquele negócio chamado sambô e muita merda musical criada pela mídia com a função única de vender discos, shows, modas, carros, carroças. Não há personalidade alguma num cara que veste bota, fivela, chapéu e nunca montou num cavalo. Não tem o menor direito de ser chamado de sertanejo. De que sertão?
          O Funk (assim mesmo em maiúsculo) é uma expressão legítima da população carioca, conquistou espaços, abriu caminhos e não precisa argumentar, mas argumenta: "é minha, é minha, a porra da buceta é minha" é o que grita a Tati Quebra Barraco. 
         A Rita Lee com seu rock/pop bem água com açúcar melodiava nos anos 70: "me vira de ponta cabeça, me faz de gato e sapato, me deixa de quatro no ato, me enche de amor, de amor e lança perfume". 
          Se uma filha da classe média paulista canta pra ser deixada de quatro e pedir lança perfume pode, porque uma filha dos morros não pode dizer que a buceta é dela e ela dá pra quem ela quiser?
          Falta poesia? Falta educação? Falta noção? De quem? De quem canta ou de quem escuta? 
          E eu não estou esquecendo dos idiotas que ligam o som no último volume empurrando-nos ouvido adentro o funk deles de cada dia. O problema é que há mal educados ouvindo tudo que é tipo de música: sei todas as canções do Amado Batista graças ao vizinho que morava ao lado da minha casa em minha infância, e não só ele: forró, reggae, pagode, axé. Até eu ter o suficiente pra comprar o meu aparelho e destilar o vil metal nas orelhas da vizinhança. Não sei se incomodei, acredito que sim, mais provável que não.
          E não se engane: uma coisa é música, outra é canção. 
         Canção envolve letra (voz) e melodia com instrumentos musicais.
         Música é muito mais.
         E não se engane de novo:
       Há safadeza em letras de canções desde que elas foram inventadas. O Funk não inventou isso, se assim fosse, seria até um ponto a mais a ele. Pena não ser. Há letras sacanas na França, Estados Unidos, Inglaterra, Arábia Saudita, Irã, Austrália. 
        Afinal, até as abelhas, os pássaros e os insetos transam. E foi Ella Fitzgerald quem cantava canções assim.
          Enfim, o Funk não é pra mim, nem ele, nem o sertanejo universitário, o pagode do sapato caramelo dos anos noventa, ou a perdida esfregando os ovários na boca da garrafa tentando ganhar a vida dançando  no programa dominical da rede Globo. Nada disso é pra mim, não por eu ser melhor, mas simplesmente porque não conversam comigo, com minha história, minha personalidade, meu jeito de ser. No fim é só música, apenas isso.
          Mas quando discriminamos, deixa de ser apenas e passa a ser outra coisa. Quando um cantor grita e assim conquista sua voz, a canção passa a ser muito mais. Não é meu jeito de gritar, mas não vou tampar os meus ouvidos.
          Vou escutar Reggae, Rap, Rock, Jazz e quando der vontade, por que não? Funk. O do James Brown e do Tim Maia, afinal, ainda acredito que um pouco de classe seja preciso.