Odeio essa gente, tipo você, eu e todo mundo que assiste a um filme inspirado em livro e saímos do cinema com o discurso pronto: “Ain… o livro é tão melhor…
É claro que o livro é melhor, como pode um filme ter tanta entrega de tempo de vida do espectador como o livro?
Geralmente o livro é um compromisso de dias, não raro meses. Alguns de impossível adaptação, como “Cem anos de solidão” ou “O grande sertão veredas”, ou ainda “O ensaio sobre a cegueira” (embora haja tentativas, frustradas tentativas), outros de recorte que desconstroem toda a obra,como “A hora da estrela”, um filme até que bom, mas que ignora o principal personagem: o narrador Rodrigo S.M.
Mas não vim aqui pra lamentar este ou aquele livro que virou filme, são linguagens diferentes, geralmente algum pequeno aspecto da obra original é privilegiado e até porque eu tenho comigo que alguns filmes se equiparam ou superam suas versões escritas.
Não acredita? Pois bem: “O poderoso chefão”, “2001, uma odisséia no espaço”, “O iluminado”, “O cemitério maldito”, entre outros tantos e sim você não precisa concordar.
Mas chamar o filme com o Will Smith de “Eu sou lenda”, a obra do genial Richard Matheson, nomeá-lo com o nome de seu conto mais popular é estupidificar quem assiste, quem assiste, porque quem apenas leu jamais se deixará estupidificar por tamanha ignomínia…
Tinha o sonho de utilizar estupidificar e ignomínia no mesmo parágrafo, me senti tão importante agora. Tanto que utilizei estupidificar duas vezes no mesmo parágrafo e duas vezes.
Agora vejam, o livro trata de um homem isolado, o último ser humano do planeta cercado por vampiros. Nele se respeita toda a mitologia vampiresca: alho, estaca, luz do sol, cruzes; não que seja obrigatório para que tenha qualidade, digo que há a qualidade apesar de respeitarem tal mitologia… tudo numa tentativa pseudocientífica, mas intrigante, apontando para o debate sobre humanidade e sim, empatia. “E se ao descobrir que todos os seres se transformaram em monstros e todos os monstros começam a caçá-lo, quem afinal é o monstro? Você?”
Esvaziado, o filme não constrói uma narrativa excelente como nas versões cinematográficas de “A hora da estrela” supracitada, ou “Apocalipse now” ainda não mencionado, mas exemplo espetacular de como é possível construir uma nova obra prima a partir de uma outra obra prima. Se não sabe, “Apocalipse now” de Francis Ford Coppola é a versão para as telonas de “O coração das trevas” de Joseph Conrad, ambos geniais. Sinal de que é possível, quando se quer e se tem talento, além de não ceder à pressão de estúdios, sim é possível transformar um livro genial em um filme também genial.
Como curiosidade li há pouco tempo este livro do filme que há muito assisti. Não senti a menor vontade de rever o filme. E como o filme foi ruim, na época não senti vontade alguma de ler o livro. Não que seja um pré-requisito de um filme extraído do livro, levar o expectador à leitura da obra original. Mas seria um leve indício de sucesso. Will Smith e companhia mandaram muito mal.
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