sexta-feira, 14 de maio de 2021

Laranja mecânica: um filme impossível.

Fã de música clássica, Alex tem uma liderança natural, é carismático. Mas você conhece essa história, foi um filme do Kubrick muito popular em seu tempo, que muita gente diz bem, e para o bem da verdade preciso dizer que poucos assistiram e dos que viram, quem pensou sobre?

Depois de cometer um assassinato Alex é preso, depois de outra morte é levado para o “Tratamento Ludovico” que visa, não a sua reabilitação, mas o esvaziamento dos presídios, já que na Londres apresentada por Anthony Burgess a criminalidade é tão desenfreada que não deixa outra alternativa para o poder constituído senão alterar a mente dos presos com uma solução drástica: “Retirar a liberdade de escolha dos criminosos, causando um trauma tal que ao simples desejo do mal, sensações horríveis vêm ao corpo como enjoos, dores, tonturas, inutilizando assim qualquer possibilidade de maldade”.

Então temos um problema: se para a sociedade tudo bem, para o indivíduo eis a questão a se desenvolver: “O ser humano ainda é um ser humano se não tem a possibilidade de escolha entre o bem e o mal?” Ou seja: se você, querido leitor de Laranja Mecânica”, não pode escolher e for simplesmente programado para realizar um comportamento pré-determinado, que mérito há na bondade que faz?

Há na obra, inclusive, a personagem de um padre que levanta o questionamento, o mais grave, talvez, de todo o romance.

“Laranja mecânica” é duro, implacável, uma narrativa que deve ser lida como livro, com a sua linguagem estranha, sua maldade atroz. E é um filme impossível porque os assassinatos, os estupros, enfim, as maldades realizadas por Alex acontecem quando o jovem conta com seus treze anos de idade. Na literatura é possível mostrar uma criança em pleno delírio púbere realizando as maiores barbaridades e não incorrendo em crime contra o Estatuto da Criança e do Adolescente ou o que for a lei que proteja as crianças mundo afora. 

Se você foi um dos poucos que assistiu ao filme, leia o livro, impossível deixar de comentar que muito daquela Londres distópica já era real na época, em Londres e hoje se configura mais que pura realidade nas grandes cidades do mundo, no Brasil inclusive, com um pequeno porém: nossa realidade é muito pior que a do jovem Alex. Falta alguém levantar-se e criar, outros defender e alguém aplicar o Tratamento Ludovico. 

Como você se posicionará?

Mauro Marcel

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