sexta-feira, 14 de junho de 2013

Tarifa do busão, playbas e Erundina

           Mais uma vez um artigo pra enfurecer a direita, enraivecer a esquerda e não fazer nenhum amigo. Mas vou dar minha opinião, quem quiser que faça o mesmo.
         Estava em São Paulo ontem, dia 13/06/2013 e presenciei parte do que aconteceu, portanto me atrevo a dizer que concordo com os protestos contra os altos preços do transporte público, mesmo tendo sido um aumento abaixo da inflação e mesmo sabendo que foi nas mãos de Maluf, Kassab e José Serra que a passagem de ônibus teve os maiores aumentos da história.
          O que fico preocupado é que não acredito que o protesto seja pelo aumento da tarifa. Vi bandeiras de partidos de esquerda, vi playboys de Nike no pé, vi a imprensa marrom levando borrachada da polícia, vi muitos bêbados, garrafas de vinho vazias, fedor de maconha. Não fiquem chocados, também vi uma grande parcela de jovens lutando por um direito básico: o de ir e vir.
         Há muito tempo que falo a meus alunos (sou professor) que uma passagem tão cara é um ataque a este direito. Mas o que me indignou de fato foi numa ocasião em que precisei pegar o metrô em São Paulo pela manhã. Me senti violentado, agredido. A lotação beirava o absurdo e a passagem a um preço pra lá de abusivo.
         A classe média (a de verdade, não "a classe C" pregada pela mídia), bom, a classe média foi às ruas. Mas as reivindicações não se resumem ao preço da tarifa. Esta faixa da sociedade foi a grande prejudicada pelas políticas do governo, ou antes, são as menos prestigiadas: é o pessoal que não recebe subsídio pra comprar casa, paga a escola do filho (nessa escola paga o lanche, o material didático, o uniforme, os passeios), a prestação dos carros, o IPTU altíssimo, não recebe bolsa família, tem que registrar a empregada doméstica, não tem cotas para entrar na faculdade, não tem direito a PROUNI.
          Mas também fazem parte do Brasil, essa classe era a queridinha da mídia até o final dos anos 90, com o advento da última década foi trocada pela falácea que é a Classe "C", os programas do governo com o apoio da mídia ajudaram a criar uma consciência coletiva de aceitação, pensávamos todos que estávamos bem, mas nunca estivemos.
          A falta de educação, o desrespeito pelo estado de direito que eu, como professor, sofro diariamente pelo meu contato com adolescentes sem respeito, sem limites, sem consciência do bem comum, que não veem nada além do próprio nariz, (é!) este desrespeito foi pra rua. Aliado a ele muitos, mas muitos jovens querendo, de fato uma passagem mais barata, ônibus gratuito: e é possível. (Quase aconteceu na época da Erundina, "velhos tempos").
          Eu sei que existem muitas nuances numa multidão e que a polícia exagera, exagerou. Mas fala sério: ver uma repórter da Folha levando um tiro de borracha da polícia não tem preço. A Folha de São Paulo, tucaníssima, o mesmo jornal que não notícia a greve dos professores, assina embaixo tudo o que o governo tucano faz, pro bem ou pro mal. Nunca amei tanto a polícia. E todo Partido da Imprensa Golpista junto. (Três semanas de greve dos professores, 50 mil professores por semana em passeatas e nenhuma notícia publicada, apenas pequenas notas de rodapé) Imprensa livre? Onde? 
          Vocês levaram balas de borracha? Os jovens da periferia não tem essa chance. Foram presos e soltos uma hora depois? Alguns dos meus vizinhos jamais retornaram.
            Há jornalistas que buscam a verdade e, no Brasil, são mortos, silenciados. Ontem mesmo (13/06/2013) morreu um dono de jornal alvejado com 44 tiros à queima roupa. E estão chocados com os protestos?
          A polícia exagerou? É óbvio. Como quase sempre, mas vão ficar ofendidinhos por quê? Ah sei! Porque dessa vez o jato de pimenta foi na cara de um vendido, um playba, um burguesinho segurando uma câmera pra esconder mais que mostrar.
         O transporte público é um direito e não deveria estar nas mãos de grupos privados, assim como estradas, hospitais, portos, aeroportos, linhas de telecomunicação, tudo o que faz um país grandioso e seu povo mais digno.
         Mas prestem bem atenção: essas bombas já estão estourando nas periferias há muito tempo, dentro das escolas, nas vielas escuras das favelas. Há ônibus sendo queimados, jovens sendo agredidos e as balas não são de borracha e nenhum jornalista da Folha aparece pra se pôr entre a bala e o baleado.
          É estranho o que vou dizer, mas o ônibus queimado da periferia é muito diferente do ônibus queimado na Avenida Paulista. Triste.
          Desculpem quem acredita em fadas. Agredidos diariamente dentro de ônibus lotados, com o dinheiro dos impostos gastos aos bilhões em estádios de uma copa feita para ricos ficarem mais ricos a custa de pobres cada vez mais pobres, uma guerra do tráfico acontecendo, "craqueiros" ocupando todo o centro de São Paulo e Rio de Janeiro. E muito, muito mais. Todo mundo quer uma vitrine para 2014. Estou especulando, mas nem falei o nome de ninguém.
          A classe média foi às ruas, acompanhada, mas foi. Isso talvez assuste. Mas é o que ocorre quando alguém se sente injustiçado: protestos. E é o que acontece quando o nível educacional está abaixo do nível financeiro: violência.
          Em suma: o que vi foi uma reivindicação justa, feita por estudantes pequenos burgueses, apoiada por partidos de esquerda e setores outros da sociedade, reprimida violentamente pela polícia e distorcida por quem tem o poder de distorcer. Gostem ou não, é o que acontece.
          Não existe almoço de graça, mas o ônibus deveria ser. Porém não é pelo ônibus que lutam os embriagados, os lideres do partido da esquerda canhota, a imprensa direitista e tacanha, a própria direita, enfim, o pessoal que aprendeu o caminho da Paulista, mas nunca o das bibliotecas.
           Junto ao pessoal que quer um país melhor, luta corretamente. Mas que acaba servindo como lenha da fornalha acesa pela burguesia. Serão queimados com suas boas intenções. 
            Longe de mim querer desconstruir qualquer luta social, repito, acredito nas boas intenções de grande parte dos que protestam, mas falta a mim o convencimento. Também não quero convencer ninguém, somente quero incomodar. Pensar junto, nem sempre igual. Fazer o que qualquer militonto poderia fazer e não faz: "pensar por conta própria e parar de repetir, como um papagaio as faláceas da imprensa, da falsa esquerda, da tosca direita, do Caetano e do Lobão.
             Vamos às ruas. Mas como?                    

Um comentário:

  1. É muito triste, mas muito do que eu disse continuo afirmando pelo desenrolar dos fatos.
    Discordo de partidos políticos na luta, mas eles têm que estar lá, são a via democrátia, o povo deveria se apropriar deles, a classe média agora anseia por uma ditadura, prega uma falsa terceira via, arrombam a Marisa pedindo a Marina...(trocadilho horrível)
    Já surgem "pesquisas" apontando Joaquim Barbosa e marina Silva como os eleitos do povo para levar o Brasil à redenção. Pena.
    Já vi setores pedindo um Obama brasileiro...
    A revolução não será televisionada...

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