Como tudo no Brasil a Saúde não funciona como deveria funcionar, mas não faz parte de um conjunto de ignorâncias e falta de talento para gerenciar negócios e serviços públicos. Nem se trata de falta de consciência dos gestores públicos. A questão é simples: escolhas.
Isto se inicia já na forma como encaramos a saúde, a minha, a sua, a nossa.
A educação da população para prevenção é pífia, no Brasil se privilegia o tratamento, não porque nós gostemos de sofrer carregando vírus e bactérias, não é maldade, sai mais caro tratar e as empresas que vendem remédios, tratamentos, hospitais e planos de saúde lucram (e muito) com doenças. Afinal, prevenção não gera dinheiro, o contrário, o economiza.
O sistema de saúde público é administrado por entidades privadas e no mesmo hospital, não raro, percebemos realidades diferentes. Tratamentos diferentes. Escolhas.
Não se abrem novos cursos de medicina. Falta de interesse governamental? Talvez. Mas o lobby dos conselhos de medicina impedem que a profissão de médico se popularize. Eles têm o poder de vetar a criação de novos cursos, reduzindo ao máximo o número de médicos, tornando raros esses profissionais, aumenta-se o salário.
Saiba: você não ganha pelo seu valor, ganha pela sua raridade. Existe apenas um Neymar, seu salário é enorme. Milhões de professores: salários medíocres. Médicos? Se houver mais, os salários cairão e a profissão perderá seu elitismo.
Todos deveríamos ganhar mais: professores, médicos, engenheiros, arquitetos, faxineiros, padeiros, todos. Os professores recebiam melhores salários no Brasil há vinte, trinta, quarenta anos. Mas não havia escola para todos, hoje tem. Assim como não há médicos para todos. O raciocínio não é tão difícil de acompanhar. Daí porque os médicos, cursos de medicina, conselhos e etc. são contra a contratação de mão de obra médica estrangeira.
Ninguém está interessado no bem estar da população, estão interessados em mais grana.
As empresas farmacêuticas também fazem lobby para a utilização de remédios e perpetuação de doenças. Desde os anos 1970 não se descobre um novo antibiótico. De lá pra cá desenvolveram-se remédios de uso contínuo, que geram benefícios e (principalmente) lucros: anticonceptivos, antidepressivos, anti brochismo, cocktail anti HIV, etc.
A sanha por lucro não esquece os pobres e miseráveis que estão nas filas e corredores de hospitais, ignora-os.
Os mortos, os aleijados, as crianças que recebem ácido sulfúrico na boca, as senhoras que recebem café com leite na veia, os infartos nas portas fechadas dos hospitais, os miseráveis que precisam viajar por mais de 200 quilômetros para marcar uma consulta simples são apenas subprodutos desta situação.
Vemos este subproduto nos jornais, e torcemos por mais hospitais. Como se um prédio novo resolvesse toda a questão da saúde pública: nem prédios, nem aparelhos, nem remédios. Para o sistema funcionar é necessário uma mudança de foco: investimento em saúde preventiva, médicos de família, educação (nas escolas e fora delas), investimento em pesquisas de saúde preventiva e, a curto prazo, a contratação de médicos estrangeiros e criação de cursos de medicina nas periferias e interior do Brasil, popularizando a profissão de médico e com salários maiores aos que trabalham em locais de acesso complicado.
Um caminho para isso seria o voto em pessoas que defendem este tipo de proposta, pessoas sem rabo preso com indústrias farmacêuticas, conselhos de medicina, vendedores de tomógrafos (verdadeiras vedetes em hospitais públicos em momento de inauguração ou nas propagandas de planos de saúde).
Mas há mais motivos. Fico pensando neles. Quais seriam?
Mas há mais motivos. Fico pensando neles. Quais seriam?
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