Eu gosto da experiência
cinematográfica em todos os seus aspectos: leio críticas antes e após assistir
aos filmes, vejo filmes cabeça, de ação, terror trash, gore, comédias
besteiróis, cinema cult europeu, cinema bollywoodiano, coisa nova, coisa velha,
indicados ao Óscar, injustiçados pela Academia e por aí vou. Desde muito jovem,
sempre em grande quantidade.
Uma
vez houve que assisti a três filmes em sequência no cinema, pasmem, não
recomendo nenhum dos três. Talvez escreva sobre esta experiência em outra
crônica. Por hoje me atenho ao que me trouxe à pena, saindo da introdução dos
dois primeiros parágrafos em que deixo muito claro que sou um conhecedor do que
vou falar e que não aceito réplicas, pois quero minha crônica um tanto quanto
axiomática. Apenas um pouquinho evidente me bastando por mim, humildemente é o
que desejo.
Pois
bem, amo os filmes ruins. Adoro-os.
Os excelentes, os grandes
clássicos são fáceis, são evidentes assim como meus axiomas.
Sempre entro pelos clássicos de
Scorsese sabendo que terei das experiências cinematográficas o que há de
melhor. E tome Taxi driver, Os bons companheiros, Casino, Touro indomável, Irlandês
e o oscarizado Os infiltrados. Mas quero ver degustar com o mesmo apetite um
New York New York de um toxicômano Scorsese e um desengonçado e ridículo de
Niro.
Vamos
de Hitchcock, Coppola, Spielberg, Truffaut, Antonioni, etc. etc. etc. Com
alguns deslizes dos gênios. (Quem nunca fez aquela cagada? Com a melhor das
intenções, mas uma bela e grandiosa cagada.)
Assim
é a arte, assim a arte é. Nem toda pintura de Picasso é Guernica, nem apenas de
Chega de saudade é feito João Gilberto. Quem dera toda banda fosse Beatles e
tudo em Beatles fosse Álbum Branco e que no Álbum Branco não houvesse a
horrorosa, odienta e salafrária Revolution 9. (Pra ser sincero em Beatles eu
gosto de tudo até da revolução número 9, mas quis deixar claro meu ponto,
portanto, mantenho: Revolution 9 sucks...)
Vamos
falar então do direito que todos têm de falar mal do que é ruim a partir do seu
ponto de vista.
Óbvio,
não? Nenhum pouco.
Experimenta
falar algumas verdades sobre determinadas obras de arte, filme, música, gênero
musical, artistas... chato. Chaaaaato...
Assim com o aaaaaaa esticado ao
infinito. Seguido de reticências que é pra ser bem emblemático.
Quer dizer que eu não posso
falar que não gostei de Bacurau? Sim. Este é o motivo desta crônica.
Reivindicar o meu direito constitucional, humano, cinefilico, sim, o meu
direito de cinéfilo de falar mal de um filme que achei um monte de baboseira em
cima de um monte de baboseira. Para dizer pouco. Para não aprofundar, porque
“em minha singela, humilde e axiomática opinião” o filme não vale o
aprofundamento.
Veja
só, não tenho nada contra o longa. O que me deixa um tanto quanto agressivo das
ideias não é o filme em si, mas a rede de proteção ao redor da película
impedindo qualquer um de criticá-la por razões políticas, ideológicas, sei lá,
o inferno.
E já que falei vou esticar o que
disse do Bacurau a Parasita, Pantera negra, toda a saga Star Wars a partir do
terceiro e horroroso filme chamado O retorno de Jedi.
Uau.
Deu até uma desopilada no fígado.
Repetindo
incorrendo no perigo de ser repetitivo: não vejo grandes problemas nesses
filmes, mas me cansa gente defendendo filme “porque sim”.
Meninos.
Meninas. Todo mundo tem direito de gostar e desgostar da obra de arte que
quiser e criticar sem entender é tão errado quanto elogiar sem ter achado
mérito algum para tal, apenas porque determinado grupo, crítico, famosinho de
nicho (chamo assim, me recuso a escrever influencer). Apenas porque um
famosinho de nicho disse que é bom, que é ruim. Que é isso. Aquilo. Outras
coisas mais.
Conheci
tanta gente que só diz gostar de algo para estar perto das pessoas, eu fui
assim com o heavy metal por muito tempo, tanto que acabei por gostar
legitimamente. Gosto até hoje e muito mais que na adolescência. Mas sei de
pessoas que não suportam cerveja amarga, cinema europeu, filme de arte, Ted
talks, literatura alemã, verdadeira filosofia... mas quer parecer cult, cool,
legalzinho descolado. Escrevi sobre isso há alguns anos: o hipster babaca.
É
difícil estar sozinho e às vezes posicionar-se a favor de algo que um grupo defende
é uma forma legítima que as pessoas encontram para fazer amigos. Mas há um
momento na vida de todo mundo em que se faz necessário crescer, viver cercado
por menos pessoas e mais próximo de si mesmo: os próprios valores, construídos
ao longo de uma vida de aprendizado, acertos e erros. Gostos peculiares ou não.
Reconhecendo a história que cada
um construiu e que permite a si o direito de gostar ou não do que for. Empatia
enfim. Empatia consigo próprio.
Nada demais. Não uma ideia muito
nova: o Moço que morreu na cruz já dizia isso, mas vamos chamar de empatia
então, mesmo consigo mesmo, a empatia inversa. Há aquela em que você se põe no
lugar do outro e uma que também não é nova, a que você se põe no lugar de você
mesmo, ouvindo suas próprias dores, valores, desejos e se permitindo falar o
que pensa, o que sente, o que sabe, o que não sabe sobre arte, filme, música, a
rebimboca da parafuseta e até sobre a ideologia política do amiguinho.
Momento de parar de mentir para
si mesmo e dizer o que você realmente achou de Bacurau.
Mauro Marcel
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