terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Mais médicos, mais enfermeiros, mais paramédicos.


Resultado de imagem para cruz vermelha              O governo Bolsonaro nem começou, mas a ânsia de sentir como seria uma administração de direita no Brasil é tão grande que há laivos de empoderamento bolsonárico em todas as partes. O mais gritante foi a retirada dos médicos cubanos do programa mais médicos.
                É sobre isso que tratarei aqui.
                Não vou me ater às denúncias de que é um projeto com o intuito de financiar a ditadura cubana, ou que seria um caso de exploração que beira a escravidão. Meu foco será a questão da saúde pública no Brasil. O SUS e não apenas ele.
                Um pouco de história.
                Antes da constituição de 1988 ninguém tinha assegurado tratamento médico gratuito no Brasil. Havia o INAMPS que era uma autarquia do Ministério da Saúde, com o intuito de assegurar algum tratamento humanitário a mendigos, indigentes, vacinação a todos e saúde pública a quem contribuía para o INPS.
O que era o INPS? Seria o que é hoje o INSS. A querida previdência social e pública.
Assim: quem contribuía para a previdência tinha assegurado o tratamento público gratuito em hospitais do governo. Isso foi criado em 1974. Não pesquisei como era antes, mas fiquei curioso, vou dar uma olhada e acrescento algo aqui quando tiver um tempinho.
Então o governo federal assegurava saúde pública a quem trabalhava com carteira assinada.
Hoje é bem diferente. À luz da constituição cidadã de 1988 assegurou-se o atendimento de saúde gratuito e universal no território brasileiro, o SUS (Sistema Único de Saúde), que não é único porque não existe outro no Brasil, já que em território brasileiro é livre a venda de planos de saúde privados, Amil, Unimed, e vários outros.
Pois bem. O SUS é um dos maiores avanços civilizatórios da sociedade brasileira. E sua instauração assegurou a todos os tupiniquins um tratamento para qualquer doença que nos afete. Sem carências, sem questionamentos. Gratuito. E então começam as confusões.
O Sistema Único brasileiro sofre o mesmo que todo plano de saúde por não poder aumentar a mensalidade. Não à toa muitos planos particulares estão falindo, saindo do mercado, pois são proibidos de aumentar as parcelas como gostariam, ou como deveriam.
Não dá pra falar desse assunto de forma tão breve. Minha intenção aqui é ser panorâmico, o que dará a impressão de que concordo com os convênios privados quando aumentam as mensalidades. O que não é verdade. Sou a parte mais sensível do processo. Não quero pagar a mais, entretanto é visível ao longo dos últimos vinte anos os planos particulares sendo obrigados a cobrirem cada vez mais procedimentos, cirurgias complexas e caras, restando aos planos particulares abrirem um abismo entre os convênios premiums e os dedicados ao povão. 
Sim. Está cada vez mais difícil aprovar alguma cirurgia em hospitais particulares, mas se você paga três ou quatro mil reais por mês talvez não tenha problemas para ter um coração transplantado no Albert Einstein, por exemplo. Não conheço ninguém com essa sorte, quer dizer, este plano.
Outra questão é que ao criar problemas para seus pagadores, os convênios particulares empurram seus clientes para o SUS. Que por natureza não pode e nem deve discriminar ninguém. Rico ou pobre.
Então se você tem uma gripe, uma virose, o melhor lugar do mundo é um hospital particular. Te oferecem até um carinho na saída. Mas se o caso é mais complexo, como um câncer, uma cirurgia vascular, o melhor lugar no Brasil ainda é o SUS. Os convênios sabem disso e economizam às nossas custas, dificultando liberações de procedimentos. Incorrem em ilegalidades e quase sempre são processados, quase sempre perdem os processos, o que parece ser mais benéfico para a saúde financeira dessas empresas que arcar com todos os custos de um tratamento moderno, caro e funcional.
Do outro lado o SUS padece por sua grandeza. É o sistema federal com maior alcance, lembrando que a educação é repartida com estados e municípios, assim como a segurança. A mesma carteirinha do Sus é válida nos confins do Mato Grosso e nos sertões paraibanos. Sim, o SUS é muito bom. Não existe sistema de saúde público universal nos Estados Unidos, por exemplo. O Obamacare é a tentativa yankee de algo do tipo, obrigando a todos os americanos o pagamento de uma cobertura mínima.
No SUS brasileiro acontece a maior parte dos transplantes, tratamento contra o câncer tuberculose, ossos quebrados, gripes, resfriados, coquetel antiviral para o tratamento do HIV e vacinas. Eu mesmo posso falar da vez que quebrei um braço (ainda criança) e tive todo o processo de reestabelecimento gratuito. O SUS não discrimina.
Mas qual o problema com este sistema tão bom que retrato acima. Tão bom que chega parecer ridícula a comparação com os parceiros particulares Brasil afora?
O problema é o preço.
Com um real gasto com educação é possível comprar um lápis e uma criança pode escrever durante quinze dias, ou mais, numa escola em qualquer ponto do país. Um real em saúde não compra um dipirona pra reduzir a febre desta mesma criança quando sai pra brincar na chuva e toda criança adora brincar na chuva. Isso no caso de um simples resfriado, imagine o custo do tratamento caso tenha leucemia, por exemplo.
Quando escrevi alguns parágrafos acima que o SUS é público e gratuito eu menti descaradamente. Público sim. Gratuito nenhum pouco. O sistema público brasileiro é mantido com o dinheiro dos impostos, algo em torno de 12 e 13 por cento da receita das esferas federal, estaduais e municipais. O mínimo.
É como ter uma casa com o orçamento de mil reais e ser obrigado a gastar 130 com a compra de remédios, tratamentos, vacinas. Para toda a família.
E se o dinheiro não der pra cobrir as despesas? E se o filho mais novo da família contrai uma pneumonia, o mais velho torce o tornozelo jogando futebol e a mãe tem um cisto no ovário?
A péssima notícia é que esta família é o Brasil. A boa é que nem todos os membros da casa estão tão doentes.
Resultado de imagem para enfermeiras inglesasJosé Sarney era o presidente quando da sanção da última constituição brasileira e ao saber dos direitos todos que ela garantia, ficou desesperado como membro do executivo sem conceber de onde retirar verba para tantos gastos. O problema se resume muito a dinheiro, mas como disse no parágrafo anterior os problemas brasileiros não são tão complexos, de fato não são.
Cerca de setenta por cento das pessoas que procuram um médico no Brasil busca um tratamento para uma doença chamada de baixa complexidade: resfriado, diarreia, virose, febre, cefaleia, etc.
No Reino Unido existe a cultura das enfermeiras cuidadoras. Elas dão o primeiro atendimento se responsabilizando pelo cuidado do paciente. São treinadas para perceber situações mais sérias e encaminhar, se for necessário, ao médico responsável.
Nos Estados Unidos a rede Wallgreen (uma mistura de lojas americanas, farmácia e supermercado) disponibiliza atendimento com farmacêuticos para a indicação de medicamentos para tratamentos mais simples, como ouvido entupido, cortes e queimaduras superficiais, e outros entreveros menos urgentes, passíveis de um tratamento sem a necessidade de um profissional hiperqualificado.
Isso no Brasil é permitido quando se autoriza parte dos remédios serem comprados com receita e outros não. Eu acho que poderíamos ir mais longe.
Há no Brasil um sistema público que deveria atender a todos, mas não atende por diversos motivos. O governo Dilma alegou que o principal era a falta de médicos. O que eu discordo enormemente.
Talvez a falta de especialistas em diversas áreas: neurologistas, geriatras para assistir as novas demandas da sociedade, o envelhecimento da população é urgente.
Se fosse dada a liberdade a enfermeiros prescreverem receitas simples, atendimentos básicos, aliado a uma orientação mais especializada, com certeza se esvaziariam os ambulatórios, seria dado um atendimento mais de pronto levando aos médicos os casos mais graves e aqueles que fugissem da expertise de um profissional de enfermagem.
Sem medo. No meio do caos é necessário ter coragem para algumas atitudes que podem mesmo salvar vidas. Uma pessoa que retorna ao ambulatório reclamando de dor duas, três vezes seguidas precisa se consultar com um médico. Uma outra que virou a noite na rua e bebeu até cair precisa de um cuidado menos acurado, qualquer enfermeiro sabe o que fazer e problemas assim lotam as enfermarias de todo o Brasil.
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Em cidades mais afastadas, com problemas de doenças tropicais deveria ser feito um estudo mais aprofundado, assim como em locais sem saneamento básico, alto índice de acidentes de trânsito, quedas de motos como em São Paulo. Tudo isso otimizaria o atendimento, desburocratizando a figura do doutor.
É claro que muita gente vai reclamar. Se sai de casa é porque quer ver um médico e isso não vai se alterar no curto prazo. Para tal se faz urgente a informação. Isso e um olhar à realidade. Toda vez que fui a um ambulatório buscando atendimento médico passei por uma triagem: medem pressão arterial, temperatura, uma breve entrevista e em caso de gravidade passam na frente para o atendimento imediato. Enquanto isso situações menos complexas esperam por seis, sete, dez, doze horas na fila em busca de atendimento. Quantas vezes não vemos pessoas desistindo de esperar, se levantando e partem. Deixaram de ficar doentes? Um pouco mais de inteligência, por favor.
Que tal se na triagem já houvesse medicação, aliviando o peso do trabalho do médico. Ele poderia assim cuidar melhor da velhinha que volta pela quarta vez reclamando de dores no pescoço.
Seria a perfeição? Claro que não. Mas entupir os hospitais de pessoas com problemas pouco complexos, fomentando automedicação e a venda de medicamentos sem prescrição não me parece ser um caminho saudável (trocadilho obsceno).
Os farmacêuticos estudam tanto para atender atrás de um balcão? Por que não podem prescrever?
As enfermeiras estudam por quatro, cinco anos? Por que não podem atender, prescrever, cuidar de fato?
O médico especializado em complexidade, por que passar o dia inteiro receitando remédios para prisão de ventre e diarreia?
Enquanto isso crianças morrem com surtos de dengue, malária, leptospirose, verminose e várias outras doenças ligadas ao simples fato de serem pobres e viverem muito perto das próprias fezes.
Mais médicos? Talvez.
Mais profissionais da saúde com mais autonomia? Com certeza.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente que demais profissionais de saúde tivessem mais autonomia, seria bom para as pessoas e para o sistema de saúde em geral.

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    1. Verdade. Confiar na inteligência das pessoas é fundamental.

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