sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Amor, No e Star wars

        
           Demorei, mas terminei de assistir à lista dos filmes indicados ao Oscar 2013. 
          Não que ser indicado ao Oscar seja um pré requisito para a qualidade de um filme, mas me permiti este pequeno Everest a escalar. 
          Posso não assistir à entrega do prêmio mais chato da indústria cinematográfica em paz.  
       Claro que não assistirei, hoje em dia a tecnologia me permite ver tudo no dia seguinte, sem precisar varar a noite para que às duas horas da manhã se revele a melhor atriz. "Às duas horas da manhã toda mulher é uma melhor atriz."
          Engraçado notar que antigamente eram cinco os indicados, hoje eles perceberam que alguns idiotas fazem o que este idiota aqui fez: gasta seus mirrados centavos pra assistir aos indicados.
          Permitam uma pequena correção na afirmação acima: nem fui tão idiota, me diverti muito assistindo aos nove indicados (isso mesmo, pra quem não sabia, saiba agora, aumentaram bem a lista, mas os indicados já foram cinco e foram dez). 
          Outra correção é que não gastei centavos, gastei reais inteiros. E nem me perguntem o modo como consegui assistir a alguns títulos antes dos mesmos serem lançados no Brasil. (Não, não viajei para os Estados Unidos pra ver cinema, sim, utilizei métodos ilegais, mas perdi algum dinheiro com isso, o que saiu mais barato que assistir honestamente).
          Antes de entrar especificamente no mérito de cada filme gostaria de explicar o motivo que me levou a assisti-los: tirando o fato de eu ser um cinéfilo louco, na realidade um apaixonado por boa ficção e um pouco de arte, não sou nenhum quadradão, porém fico triste com lançamentos do tipo "final feliz - dublagem  - pipoca - coca cola - lanche feliz"; é o que se encontra, tanto nas salas de cinema perto da minha casa, quantos nas mais distantes. 
          O público de cinema do Brasil mudou, o 3D veio tentar mobilizar as pessoas da inatividade, causar alguma emoção às retinas mortas, assassinadas por hordas e mais hordas de filmes explosivos: duros de matar (e de engolir), avatares, Titanics que afundaram o bom gosto e os roteiros de qualidade.
             Recomendo um filme chamado "Idiocracy" que descreve bem a nossa distopia.
          Portanto, passei oito meses sem assistir a filme algum. Lia, estudava, assistia à teatro, via uma ou outra série de TV e me mantive longe de longa metragens. Não por desinteresse ou desgosto, mas por falta de títulos de qualidade. 
          Percebi que havia um problema muito sério quando o único filme que me interessava da lista  em cartaz era "Os mercenários II" do Stallone. 
          O divertido em afirmar isso é que fã de cinema é como torcedor de futebol, vai dizer que estou falando heresias, que esqueço este ou aquele filme, apontar produções de qualidade ao longo de todo o ano de 2012, mas pouco me importa o que pensam os cinéfilos. Este cinéfilo aqui ficou de saco cheio de roteiros mal feitos, salas com filmes dublados e filas enormes inclusive no auto atendimento.
          Calma crianças, não sou tão ranzinza assim. Gosto de filmes pirotécnicos, mas odiei o último Batman do Nolan (faltou um coringa, pena), detestei o reset do do Homem aranha (paguei por um deja vu), gostei muito de "Os vingadores" (por ser fã de quadrinhos, porque o roteiro é mais vazio que a cabeça da Paris Hilton). 
          Deixei pra trás o tempo em que acreditava que era necessário assistir a tudo, se vi a todos os indicados a melhor filme do Oscar, foi mais por sede de qualidade que por cinefilia. Me permito agora poucas filias... prefiro ser um bibliófilo.
          O futuro me possibilitou coisas do tipo, o filme mais legal que assisti ano passado foi um canadense  chamado "Incêndios" dirigido por Denis Villeneuve, era um filme de 2010. 
          Não é como nos idos anos 80 em que ao perder o filme no cinema poderia assisti-lo apenas um ano depois em VHS e dois ou mais  na TV. E se perdesse era só esperar passar de novo. Lembro que a minha escola dispensou os alunos da aula noturna quando o SBT passou em TV aberta a "Lista de Schindler" do Spielberg. Coisas do passado. 
          Com todas as comodidades dos anos dois mil, não vou perder meu tempo e meu suado dinheiro assistindo a filmes de tão baixa qualidade se posso ligar o computador e ver pela internet toda a coleção de filmes da história do cinema.
          Mas e a experiência de entrar na sala escura, concentrar-se, ter uma luz propícia, a experiência coletiva?
          Fica para os momentos certos. Eu costumo assistir a muitos filmes, poderia ver muitos mais se não precisasse pagar estacionamento, ingresso (que está um absurdo, a meia custando inteira), gasolina, tempo, congestionamento, stress, (não serei tão burguesinho e elencar aqui a violência, embora seja um dos pontos a ser levantados). 
          Na minha casa eu posso viver a minha experiência cinematográfica, que não é a mesma da sala pública, mas que é a minha: silenciosa, voltando trechos, sem legendas, sem dublagens, reassistindo, no horário da novela da globo, depois do jantar. Qualquer tela de TV propicia uma experiência cinematográfica melhor que as que meu pai teve assistindo "Star wars" no cinema.
              Foi assim que vi os indicados. Metade deles assisti no cinema, não farei distinção aqui. Apenas um breve relato pessoal da minha trajetória por nove produções:
          Comecei com "A vida de Pi" do Ang Lee. Filme que me causou profunda emoção, não pela fotografia maravilhosa, efeitos especiais sensacionais, mas pelo roteiro abordando questões religiosas e filosóficas que me são caras e pertinentes. Deu vontade de ler o livro e pensei que não precisava assistir aos próximos, já tinha o vitorioso. O filme do tigre era o melhor com certeza.
          Depois assisti ao "Amor" de Michael Haneke. Fiquei inquieto e como tenho medo de envelhecer e mais medo ainda de morrer me angustiei com aquele casal preso naquele apartamento. Lar que deve ter lhes dado muita alegria, mas que claustrofobicamente me fazia querer parar de assistir. A atriz que faz a senhorinha (Emmanuelle Riva) foi indicada a melhor atriz, mas é o marido (Jean-Louis Trintignan) o grande ator do filme. Adorei. Não quero vê-lo nunca mais. Me deixou triste, Recomendo a todos.
          Depois assisti ao "Argo" do Ben Affleck. Confesso que fui sem vontade, Há muito que o filme estava em cartaz e eu o ignorava, Mas como estava na lista corri assisti-lo. Descobri o meu favorito ao Oscar. Não pelo roteiro, que é simples. Nem pelo Affleck que está apenas contido como ator (o que exigia o papel), mas é um filme que impacta pela construção. O teatro é o espaço do ator, o cinema é o do diretor e percebemos a mão do Ben Affleck em cada centímetro de fita. Humor, suspense, tensão, crítica à própria indústria do cinema. O que me incomodou foi o final com cenas da realidade pra mostrar o trabalho de pesquisa da produção, mas eu estava tão satisfeito pelo ótimo momento que nem me importei. me senti assistindo um Hitchcock.
        
           Tendo escolhido meu vencedor caminhei  com mais vagar pelos filmes. Tinha largado o Pi pra lá, sabia que um francês não ganharia àquela altura. Decidi assistir ao "Adorável sonhadora". Filme excelente, pensei que seria difícil, mas tem um enredo ágil, diferente, com uma protagonista que causa assombro por sua interpretação que não podem estragar concedendo a ela o Oscar. Vide o que fizeram com a moça do "Lua de papel".
          Assisti ao "Django" do Tarantino com toda a pompa que merece. Duas cenas valem o filme: um negro chicoteando um branco e os membros da KKK sem conseguir enxergar através dos capuzes. Nunca tinha pensado nisso, mas como é que eles não caem  sem conseguir ver por aquele negócio pontiagudo. O grande defeito deste filme foi ter ido longe demais. Odeio filmes que acabam e se arrastam por mais meia hora. Mas o Tarantino acha que pode, e o pior é que pode mesmo.
          "Os miseráveis" é um musical bacana, mas odeio musicais em que tudo é cantado, pelo menos ir ao banheiro poderia ser sem notas musicais. Questão de gosto,  como diria o popular "cada um tem o seu". Bonitinho o filme e só.
          Assisti ao "Lincoln" por obrigação. Se ganhar vou ficar chateado. Filme chato. Monólogo do presidente que é endeusado e posto de perfil ao extremo. nem o Day Lewis deveria ganhar o oscar de melhor ator, mas que se há de fazer, um ano é a dama de ferro dos britânicos, no outro o lorde de aço dos americanos. chato.
          Fui ao "Lado bom da vida" esperando a renovação das comédias românticas e o que vi foi mais do mesmo. Filme normal que será esquecido, Apesar de o Robert de Niro em ótima forma.
          Terminei minha viagem pelos indicados com "A hora mais escura". Filme que conversou com outro que assisti no mesmo dia e que foi indicado a melhor filme estrangeiro "No". 
        Ambos falam sobre eventos que foram utilizados politicamente por líderes de seus países como alavanca para o poder; no caso do "A hora mais escura" o assassinato de Bin Laden e de "No" o plebiscito chileno que encerrou com o período ditatorial daquele país. Ambos apresentam os protagonistas das ações cumprindo objetivamente seu papel e no fim caindo no ostracismo, Deixando para a história seu trabalho e os líderes populares se apropriando dos frutos da obra. 
        
         Talvez "Argo" não vença, mas é o melhor filme. Mas aceitaria se o vencedor fosse a "A hora mais escura". qualquer um, menos o Lincoln, que é o filme que se eu tivesse que apostar dinheiro poria meus trocados.
          Mas cinema é mais que prêmios, há filmes que nunca ninguém assiste e doem de tão bons, como o brasileiro "A febre do rato". (Espetacular). Mas que ninguém viu na telona: cinema de qualidade, pra se ver em casa.
          

Um comentário:

  1. Pra mim ainda faltam 2 filmes. A Hora Mais Escura e Os Miseráveis. Eu adoro essas premiações. Gosto de assistir a todos e de escolher um para torcer. Quase sempre termino extremamente decepcionado. Neste ano concordamos em dois pontos importantes: Lincoln me deu até ressaca de tão chato (é pra americano que adora transformar os presidentes em heróis) e meu favorito, até agora, é Argo. Mas sabemos que ele não vai ganhar. De qualquer forma vou estar ligado no dia (inclusive na sua casa viu!!!) e apenas me divertir com a festa DELES pra premiar o cinema DELES. Se pensarmos pelo lado positivo, caso não houvesse a premiação nós não teríamos no cinema muitos filmes de rara qualidade que passariam despercebidos por aqui, então, dos males o menor.
    Abraços.

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