sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Irã, Marx e um país tropical

 A Revolução Islâmica do Irã é uma daquelas histórias que provam que o diabo gosta de se vestir de santo. Em 1979, milhões foram às ruas para derrubar o xá Reza Pahlavi, convencidos de que estavam abrindo a porta da liberdade. Abriram, mas quem entrou não foi a liberdade — foi o aiatolá, trazendo na bagagem a censura, a polícia religiosa e um manual de como transformar o país numa prisão com tapete persa.

As mulheres, que antes podiam estudar, trabalhar e se vestir como bem entendessem, foram obrigadas a usar a burca — não como roupa, mas como uniforme de submissão. Não era tecido: era corrente. A opressão não ficou só na roupa. Veio junto a perseguição estatal, onde falar errado significava sumir da noite para o dia, e, pior, a delação partia muitas vezes do próprio vizinho. O regime conseguiu terceirizar a tirania: cidadãos denunciando cidadãos, irmãos traindo irmãos, tudo em nome da “verdade” oficial.

No Brasil, o roteiro foi menos dramático, mas igualmente perverso. Não tivemos clérigos, mas tivemos sindicalistas com vocação para papa vermelho. No lugar de mesquitas, sindicatos; no lugar de versículos, discursos de palanque. Luís Inácio não usa turbante, mas se comporta como aiatolá tropical: infalível, intocável, sempre cercado de discípulos prontos a beijar-lhe o anel — ou a mão que assina o próximo decreto.

Aqui, a burca não cobre o corpo, mas a mente. É a censura que se veste de “regulação da mídia”, é a autocensura ensinada nas salas de aula por professores que confundem educação com catequese ideológica. No Irã, o silêncio é imposto pela polícia moral; no Brasil, é imposto por influencers, jornalistas militantes e acadêmicos que transformaram a universidade num mosteiro marxista, onde heresia é pensar diferente.

O marxismo, como o islamismo radical, é uma religião disfarçada de política. Tem seus livros sagrados (O Capital é o Alcorão vermelho), seus profetas (Marx, Lenin, Gramsci) e sua própria versão de paraíso, sempre prometido e nunca entregue. Não promete céu, mas garante o inferno para quem ousar duvidar.

No Irã, as mulheres escondem o rosto para sobreviver; no Brasil, as pessoas escondem opiniões para não serem linchadas virtualmente, demitidas, processadas. Lá, a denúncia é feita ao mulá; aqui, ao tribunal das redes sociais, ao Ministério Público, ou a qualquer blogueiro com fome de like e fidelidade partidária.

No fim, o mecanismo é idêntico: criar medo. Medo de falar, de pensar, de respirar sem pedir permissão. E o medo é a ferramenta preferida de todo tirano — seja ele um clérigo com barba longa ou um ex-metalúrgico com fome de eternidade no poder.

O Irã dos aiatolás e o Brasil dos petistas parecem histórias diferentes, mas têm a mesma moral. Não importa se a cela é feita de pedra ou de hashtags; se a mordaça é de pano ou de medo. O final é sempre o mesmo: uma nação inteira ajoelhada, olhando para o chão, enquanto os donos do poder escrevem a última página — e assinam com sangue.

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