https://anchor.fm/mauro-marcel/episodes/Especial-Romantismo-e33smp/a-aa0dho
Quando assistia às aulas sobre Romantismo no antigo Segundo Grau ficava um tanto confuso com as professoras explicando o movimento literário de José de Alencar, Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e outros tantos escritores, poetas artistas que ajudaram a compor um cenário marcante da história da escrita nacional. Mas vamos com calma...
Concordo
com o exposto acima (estes escritores ajudaram mesmo a compor o cenário da
escrita nacional), mas a abordagem, esta sim, estava um tanto equivocada.
Lembro-me das
professoras apaixonadas cantando de cor os poemas de Álvares de Azevedo
morrendo por amor e achava tudo aquilo muito ridículo.
Fui a fundo na
leitura desses autores todos e nem precisei tanto, no próprio livro “Lira dos
vinte anos” de Azevedo em sua segunda parte o próprio poeta satiriza seu
comportamento excessivamente, como direi..., romântico. No poema “É ela, é ela,
é ela”, por exemplo. Vale a pena dar uma lida.
E como é este
comportamento?
Pois
bem. Você é romântico? Romântica? Gostaria de alguém assim ao seu lado?
Imagine
uma pessoa que morre por você, vive por você, manda flores, poemas, doces...
Esta
figura o telefona diuturnamente e no meio da manhã você escuta um carro de som
gritando seu nome “SÔNIA!!! SAIA SÔNIA!!!”
Ao fundo tocando Celine Dion no último volume acordando os vizinhos, sem
você saber onde pôr a cara.
Aí
termina. Não tem mais relacionamento. Mas o seu namorado romântico não entende.
Ele morreria por você. Ele mataria por você. Se não é para ficar com ele então
não ficará com mais ninguém.
Muito
perigoso, porque na vida real isso acontece, pessoas românticas matam, pessoas
românticas morrem e, não sei qual a informação que você tem a respeito, mas o
nome disso é crime passional, assassinato, suicídio, e não é uma coisa bonitinha.
O
romantismo é basicamente a estética da paixão. Paixão pela pátria, paixão por
si, pela pessoa amada, por uma causa.
A
própria palavra paixão tem uma origem pouco afeita ao amor. O Romantismo não
tem muito a ver com coraçõezinhos e beijo na boca. Na verdade, o romântico não
se interessa muito por beijos. Mas estou sendo pouco didático, deixa eu ser
mais claro:
Pesquisando
a palavra “paixão” se percebe que sua origem vem da palavra grega “pathos”, que
deu origem à palavra paixão, mas também à “patologia”, isto é, enfermidade,
doença. Estar apaixonado é estar, de certa forma, doente. E você sabe disso, no
período pascoal usa-se o termo “Paixão de Cristo” para se referir ao martírio
infringido a Jesus.
Conclui-se que
estar apaixonado é estar doente.
Conhece alguém
que ao terminar um relacionamento parou de comer, deixou a barba crescer, parou
de tomar banho, não queria falar com ninguém, se isolou no quarto debaixo das
cobertas?
Gripe?
O romântico é
o apaixonado nesse sentido, pois algo fora do normal acontece na cabeça de
alguém que diz morrer e de fato morre, como nos livros e cito o maravilhoso
“Amor de perdição” de Camilo Castelo Branco, ou Lucíola do já citado Alencar. A
paixão que leva à morte.
Nesses enredos
o que se exalta é um comportamento nada saudável. Note bem, o romântico não tem
interesse na amada em questão, o que lhe interessa é o próprio sentimento, daí
a professora do Segundo Grau me ensinando que o romântico é um egocêntrico.
Este
comportamento tem mais a ver com o prazer que se extrai da dor que da afeição
que se tem à pessoa amada. Então o desejo por amores impossíveis: a mulher
casada, a prostituta, uma promessa feita no leito de morte de alguém, uma
viagem, uma guerra, tudo o que impede o amor de acontecer.
Em suma,
imagine uma linha reta separando o ser amado da pessoa que a ama. O nome dessa
linha é Romantismo. E neste espaço tudo o que couber de sofrimento, dor,
autoflagelos, suicídio, tragédia.
Neste interim o
casamento é o fim da fantasia, o beijo na boca o fim do sofrimento, o happy
ending, o casal pulando juntos no abismo. Nada saudável, por certo.
Muita gente
inteligente traça diversos caminhos de origem para o movimento romântico, eu
prefiro pensar que o Romantismo é uma resposta humana demasiado humana ao
processo de mecanização e industrialização da mão de obra.
Vou tentar ser
mais claro: não havia como um jovem do século XVI pensar em sofrimento amoroso
pois estava buscando água no poço para regar as plantações, muito ocupado em
não morrer de fome. Quando o descendente deste jovem, três séculos depois, foi
desobrigado disso por seu pai que o enviou à escola para assumir o controle da
fábrica que lhe possibilitava passar horas e horas no ócio em frente às
prateleiras da biblioteca, tendo contato com escritores, sonhos, desejos e mais
ócio. Sim, na minha opinião a vagabundagem deu origem ao Romantismo e não há
mal nenhum nisso.
A mocinha em
casa, analfabeta séculos antes, agora poderia ler e, para não ter contato com o
jornal direcionado aos homens, tinham uma folha apenas para elas, o folhetim,
avô das novelas mexicanas e globais.
A palavra romantismo vem de Romance, o gênero textual que se popularizou neste período. Portanto não é redundante dizer romance romântico, pois há romances realistas, naturalistas, modernistas, regionalistas...
A palavra romantismo vem de Romance, o gênero textual que se popularizou neste período. Portanto não é redundante dizer romance romântico, pois há romances realistas, naturalistas, modernistas, regionalistas...
Havia a necessidade
um texto menos prolixo, acessível. A linguagem romântica é coloquial, quase
informal. Aberta aos não iniciados, mesmo cheia de vocativos, pontos de
exclamações. Poemas para serem declamados em alto som, recitados à noite aos
pés do túmulo da mulher amada, no leito de morte de um moribundo quase morto de
paixão.
O Romantismo
para alguns estudiosos da filosofia é a fundação do indivíduo, quando o homem
se interessa mais por ele que pelo mundo que o cerca, mais ou menos isso.
Tendo a
concordar, no Romantismo os livros passam a ter trajetórias mais pessoais que a
das grandes histórias da antiguidade. Não é mais a história de Vasco da Gama
cruzando o Cabo das Tormentas, mas a de Simão que se apaixonou por Teresa ao
primeiro olhar, não mais Dante sendo levado ao inferno guiado por Virgílio, mas
o inferno pessoal de Jorge e Carolina em A Viuvinha.
Infernos
pessoais que abundam ainda no horário nobre dos diversos canais da TV aberta no
Brasil, em telonas de cinema, revistas em quadrinhos.
Chegando a
este ponto é necessário separar duas ideias bem distintas. De um lado o
comportamento romântico: sinônimo que superficialidade, egocentrismo, paixão
doentia. E do outro o ideário romântico dos personagens: um homem que está
abaixo dos deuses, mas acima dos homens comuns, de elevada ética e moral,
pregador do bem e fiel à mulher amada.
Pois uma coisa
é Berta: protagonista, personagem feminina do livro Til de Alencar. Outra muito
diferente são as mulheres reais, alvos de comportamento passional.
O homem
romântico da vida real é impulsivo, apaixonado, egocêntrico, pensa em seus
sentimentos mais do que na mulher amada, como já dito aqui, se preocupa mais
com a paixão que com o objeto de seu afeto, tanto que ao conseguir essa
conquista perde o interesse. O romântico deseja o sofrimento.
Este Inferno de Amar
Este inferno
de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs
aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que
alenta e consome,
Que é a vida -
e que a vida destrói -
Como é que se
veio a atear,
Quando - ai
quando se há-de ela apagar?
Eu não sei,
não me lembra: o passado,
A outra vida
que dantes vivi
Era um sonho
talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão
serena a dormi!
Oh! que doce
era aquele sonhar...
Quem me veio,
ai de mim! despertar?
Só me lembra
que um dia formoso
Eu passei...
dava o sol tanta luz!
E os meus
olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos
ardentes os pus.
Que fez ela?
eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora
a viver comecei...
[Almeida
Garrett]
Sofrer
por amor é sinônimo de uma vida plena para o homem do Romantismo. O que minhas
professoras viam com muito bons olhos eu não consigo entender com a mesma
simpatia.
Já
a mulher do Romantismo tem de ser impalpável. Longe, distante. Quase morta. Quanto
mais perdido o sentimento mais ardoroso o amor.
Pálida à Luz
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores
reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela
dormia!
Era a virgem do mar, na escuma
fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens
d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se
esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo
lindo!
Por ti - as noites eu velei
chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei
sorrindo!
[Álvares de Azevedo]
Quase
um cadáver. Na verdade, o ideal seria que ela morresse de fato, assim o
sofrimento seria sem fim, o amor impossibilitado completamente e o desejo por
dor seria atendido na mente doentia do romântico.
Algumas
informações sobre esses poetas causam espanto, alguns dormiam em caixões,
frequentavam cemitérios, saiam no meio da noite fria enrolados em lençóis
molhados com o objetivo de contrair tuberculose. Mais dor, mais satisfação dos
sentidos.
Alguns
personagens claramente românticos: vampiros (o Conde Drácula), lobisomens,
zumbis, corcundas (o de Notredame de Paris), monstros (o de Frankenstein).
Fagundes
Varela, poeta brasileiro deste período, chegou bêbado em casa e dormiu sobre
seu filho recém-nascido, matando-o. O que lhe rendeu muito remorso, sofrimento
e um lindo poema chamado “Cântico do calvário”.
Álvares de
Azevedo morreu tuberculoso aos vinte anos de idade.
Castro Alves
também morreu jovem dando um tiro no próprio pé em um acidente de caça.
Todos esses
mortos jovens quase me lembram os roqueiros Jimmy Hendrix, Kurt Cobain, Sid
Vicious, Janis Joplin, Cazuza, Renato Russo, Amy Winehouse (não tão roqueira
assim) e outros tantos.
Já
a construção dos personagens dos romances românticos são variações do mesmo
tema: homem e mulher apaixonados e algo que os impede de realizar seu amor. Ao
fim casamento ou morte.
O
homem sempre o herói que luta para levar seu amor à mocinha indefesa que o
espera passivamente, às vezes um pouco menos passiva, mas sempre esperando seu
amado com a boa nova do casamento. Ou com as ilusões destruídas, depressiva até
o suicídio.
Morrendo
de amor. Romanticamente.
Esta
mesma estrutura se percebe ainda hoje no cinema, em filmes de heróis com super
poderes (mais poderosos que os homens comuns, menos poderosos que os deuses). O
Peter Parker com olhos desde a infância para a sua Mary Jane, o Clark Kent e
Lois Lane e apenas ela, sem nunca olhar para o lado, sem nenhum conflito moral.
O herói romântico sabe o que quer, tanto O guarani e Ubirajara quanto Flash
Gordon e Bruce Wayne.
Também
uma outra característica romântica muito interessante é o fato de o espaço
refletir, numa narrativa, os sentimentos interiores de um personagem. Como
naquela cena de “A Branca de neve e os sete anões” em que a mocinha começa a
cantar com os pássaros e todo o cenário se ilumina harmonizando sua felicidade
de ar bucólico, ao morder a maçã o fundo escuro, sombras, a tristeza se
aproxima, morte, luto, beijo na boca, suspense, luzes, justiça feita à mocinha,
final feliz com a tela iluminada.
Nas
cenas finais dos filmes “Homem aranha”, os da primeira trilogia, em que o herói
tem que resgatar a mocinha, sempre à noite, muita tensão, isto é, o cenário
externo ajuda a compor o quadro de sentimentos e dor por que passam os
personagens.
A
segunda metade do filme “Titanic” por exemplo. Na primeira toda iluminada refletindo a esperança em cruzar o oceano e chegar ao novo mundo. Quando o naufrágio: frio, noite, morte.
O
Romantismo é diverso no mundo. Há um jeito alemão de ser romântico com Fausto
entregando sua alma ao demônio Mefistófeles em troca do amor de sua vida, Werther
e sua propensão ao suicídio; um modo
francês hugoano lutando por igualdade, liberdade e fraternidade em livros como “Os
miseráveis” e no Brasil divido didaticamente em três fases: Nacionalista,
Ultrarromântica e Condoreira.
-Fase Nacionalista
Imagine
o Galvão Bueno narrando os gols da seleção brasileira, mesmo levando de sete a
um da Alemanha a culpa nunca é do Brasil, que é um país perfeito. Nos poemas
dessa fase o que existe é uma exaltação sem par dos elementos nacionais, ou
assim percebidos: os índios, a natureza, a própria malandragem brasileira (vide
“Memórias de um sargento de milícias” de Manuel Antônio de Almeida).
Isso
se explica pela proximidade do Romantismo com o processo de afirmação da
independência do Brasil. O maior expoente foi o talentoso poeta Gonçalves Dias,
com o famosíssimo e popular “Canção do exílio” que de tão ufanista chega ser
citado em nosso hino nacional.
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
[Gonçalves Dias]
-Ultrarromantismo
É
o estereótipo do Romântico. O movimento das paixões agindo de forma absurda direcionado
a um objeto feminino impossível de ser alcançado.
Além
do óbvio exagero no uso de bebidas alcoólicas, drogas, também a busca pela
automutilação não apenas metafórica.
O
maior expoente brasileiro desse período é Alvares de Azevedo, autor de dois
livros, um de poesia: A Lira dos vinte anos. E outro de contos: Noite na
taverna. Este segundo conta com cenas esplendorosamente românticas com
assassinato e necrofilia. Exclui totalmente do imaginário de senso comum que
percebe o Romantismo como um estética ligada a coisas bonitas e delicadas.
LEMBRANÇAS DE MORRER
Eu deixo a vida como deixa o
tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
- Como as horas de um longo
pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um
sineiro;
Como o desterro de minh’alma
errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses
tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade - é dessas
sombras
Que eu sentia velar nas noites
minhas.
De ti, ó minha mãe, pobre
coitada,
Que por minha tristeza te
definhas!
Se uma lágrima as pálpebras me
inunda,
Se um suspiro nos seios treme
ainda,
É pela virgem que sonhei. que
nunca
Aos lábios me encostou a face
linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores.
Se viveu, foi por ti! e de
esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho
amigo.
Ó minha virgem dos errantes
sonhos,
Filha do céu, eu vou amar
contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam
nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na
vida.
[Álvares de Azevedo]
-Fase Condoreira
Inspirada
em Victor Hugo, escritor francês autor de “Os miseráveis”, os poetas desta fase
se preocupam com os problemas sociais do mundo e que sempre abundaram em nosso
país.
O
maior problema social do período era, obviamente, a escravidão. Mas ainda assim
o caráter romântico se apresenta, por exemplo quando o autor põe sua crítica num
momento muito anterior ao seu período histórico. Como descrever uma cena do
navio negreiro quando não havia mais este tipo de tráfico. Seria mais real e
incisiva a crítica retratando uma senzala e criticando a sociedade construída a
partir de tal premissa, não o fez, era romântico.
Ainda
nesta fase o amor acontece, porém, um amor já realizado. O sofrimento acontece
pela ausência da amada depois de a já ter possuído.
Navio negreiro (Exemplo de
crítica atemporal)
Era um sonho dantesco... O
tombadilho
Que das luzernas avermelha o
brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do
açoite...
Legiões de homens negros como a
noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às
tetas
Magras crianças, cujas bocas
pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas,
espantadas,
No turbilhão de espectros
arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica,
estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão
resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote
estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios
embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a
manobra
E após, fitando o céu que se
desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos
nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote,
marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica,
estridente...
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as
sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces
ressoam!
E ri-se Satanás!...
[Castro Alves]
Boa-noite (Exemplo de amor
realizado, o eu-lírico sofre por ter de se afastar da amada após uma noite de
amor)
Boa noite, Maria! Eu vou-me
embora.
A lua nas janelas bate em
cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é
tarde...
Não me apertes assim contra teu
seio.
Mas não digas assim por entre
beijos...
Mas não me digas descobrindo o
peito,
– Mar de amor onde vagam meus
desejos.
Julieta do céu! Ouve.. a
calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois
foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito,
divina!
Se a estrela-d'alva os
derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo
d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo
preto..."
É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua
nua –
o globo de teu peito entre os
arminhos
Como entre as névoas se balouça a
lua...
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das
flores,
Fechemos sobre nós estas
cortinas...
– São as asas do arcanjo dos
amores.
A frouxa luz da alabastrina
lâmpada
Lambe voluptuosa os teus
contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés
divinos
Ao doudo afago de meus lábios
mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos
meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao
vento,
Das teclas de teu seio que
harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo
atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e
chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova
aurora?!...
Como um negro e sombrio
firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
– Boa noite! –, formosa
Consuelo...
Por que estudar o Romantismo?
No
dia 13 de outubro de 2008 um rejeitado Lindemberg invadiu a casa de sua
ex-namorada Eloá Cristina fazendo-a refém junto com seus amigos que haviam se
reunido para um trabalho escolar.
O sequestro
durou vários dias e terminou com a morte da moça.
Se você voltar
ao início deste texto e notar a explicação sobre o comportamento romântico,
verá que o sequestrador segue todo o modus
operandi romântico e o fim trágico foi devido ao comportamento também romântico
de polícia, família e mídia.
Pesquise no
wikipedia sobre a tragédia e veja como uma solução mais racional vai ficando
cada vez mais distante a medida que todos os envolvidos vão se deixando levar
por seus sentimentos. (Há o absurdo de autorizarem uma das reféns, que havia
sido libertada pelo sequestrador a retornar ao cativeiro. Tudo sob os
refletores dos canais de TV, internet e segurança pública).
Todas as
pessoas precisam de alguma forma de afeto. O amor romântico é apenas uma das
faces em que ele se apresenta.
Estudos
apontam que a paixão é uma espécie de vírus que invade o corpo humano e tem o
prazo de validade pré-estabelecido em, no máximo, três anos. Uma visão um pouco fria a respeito dos
sentimentos.
Vinícius de
Moraes, grande poeta brasileiro, casou-se oito vezes, dizia querer viver
eternamente apaixonado. Um caso quase patológico, assim como o do cantor Fábio
Júnior e da dançarina Gretchen.
O que estou
querendo dizer é que não se pode tomar decisões definitivas na vida tendo como
ponto de partida um sentimento que embaça nosso raciocínio e que se transforma
com o tempo. Não se pode basear o casamento em paixão. Não é saudável.
Assim como não
é saudável querer controlar a vida da pessoa com quem se está relacionando, ou
aceitar-se controlar. Cada ser humano tem seus desejos e aspirações
independentes do parceiro ou parceira. Ciúmes, desejo, sexo, sonhos, e tudo o
que faz parte de uma relação deve ser vivido intensamente, mas não pode ofuscar
o brilho de cada ser, o impedindo de cumprir de forma plena sua jornada humana.
Estudar o
Romantismo deve servir como uma oportunidade para professores e alunos
discutirem o modo como se estruturam os relacionamentos no mundo contemporâneo,
debatendo o papel da mulher e o do homem na sociedade. Assim como os
relacionamentos abusivos, compromissos prematuros, tribos urbanas nocivas,
vícios, comportamentos românticos repetitivos na sociedade contemporânea que
mostra uma tendência em querer acreditar em fantasias, própria de uma época de
pessoas que se fantasiam de Naruto, sonham ser astronautas e nunca leem um
livro até o fim. Mas que acreditam que “tudo pode ser, se quiser será, sonhos
sempre vêm pra quem sonhar”, porém não conectam seus fracassos às suas ações ou
inações.
No mais, fora
da escola, o movimento Romântico deve ser compreendido como o desejo do ser
humano pelo impossível. A eterna busca demasiado humana da felicidade e uma janela aberta para o
sol entrar iluminando fundo o nosso coração. Ou quem sabe, muito inspiração
para alguns apaixonados beijos na boca.
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