Em mim um tumulto
No meu sonho um mundo
Dentro de ti: tudo
Opinião, conto, crônica, fotografia, poesia, vídeos, humor, crítica e o que mais se passar por esta cabeça. Clique nos links e escute os textos em formato podcast. Autor: Mauro Marcel - escritor, poeta e professor.
domingo, 24 de março de 2019
quarta-feira, 13 de março de 2019
Não foi naufrágio
ou a partida
o meio
o tédio
o enjoo da viagem
o começo, a despedida...
a ida
nem foi naufrágio
o passo
o porto
foi tão perto
foi tão certo
foi o gosto
agosto o gosto do seu gosto
e foi tão frágil.
Foi tão denso
tão intenso.
Foi seu doce em meu começo
O seu verso em meu reverso
Foi veloz e foi tão lento
Foi a calma deste barco contra o vento
Foi o vento.
terça-feira, 12 de março de 2019
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
Dez livros que você não vai ler, mas deveria. (Escute o podcast clicando no link)
https://anchor.fm/mauro-marcel/episodes/Dez-livros-que-voc-no-vai-ler--mas-deveria-e37ik2/a-aahmrg
O
problema das listas não são os livros que entram, mas os que ficam fora. E este
é o lugar comum dos lugares comuns de quando se elaboram listas não importando
o conteúdo. Eis as premiações de cinema e música: Oscar, Golden Globe, Gramy,
Emmy e tantos mais.
Mas
esta será uma lista com um tipo específico de conhecimento humano, o próprio
conhecimento arquivado em texto, lombada, sinais gráficos conhecidos como
letras, acentos, sinais, tudo muito bem organizado em bibliotecas que hoje
passam pela maior crise da história das bibliotecas. Infelizmente.
Nunca
se leu tão pouco e nunca se leu tanto. E não raro passamos a vida como cegos,
tateando o mundo visível sem nos ater ao invisível dos livros saltando aos
olhos, linha após linha, parágrafo por parágrafo. Pois bem. Há os livros que
deveriam ser lidos por todos e não são lidos por ninguém. E esta generalização
é pelo impacto, mas muito pela realidade que os fatos impõem.
Quantas
pessoas você conhece que já leram os dez livros desta lista? Quantas pessoas
você conhece que leem?
E
se você é do meio acadêmico, meu caro, estou falando de vida real: ônibus
lotado, trem atrasado, trânsito congestionado, almoço em vinte minutos, sexo
mecânico, amor enlatado.
Eis
os dez livros que você não vai ler, mas deveria.
1º Os Sertões, de Euclides da Cunha
Há
muitos livros de formação e exaltação de povos, o nosso é este. Muito mais de
formação que exaltação é um livro que descreve pormenorizadamente o Brasil
profundo, abandonado, o que nas palavras do autor “seres humanos deixados para
trás”.
Por que você deveria ler este livro?
Se
você está lendo este texto, provavelmente é um brasileiro, e se você é
habitante do sertão ou do litoral (como são chamados os que habitam as
metrópoles segundo o livro) tem a obrigatoriedade moral de entender como se dão
os processos de manipulação, opressão e pauperização de uma, assim chamada,
nação.
Em
tempos, o Nordeste brasileiro era a região mais rica do Brasil e o Sul/Sudeste
região de abandono. Como se deu a reviravolta é muito explicado pela forma como
se trataram os seres humanos pobres daquela região.
Por que você não vai ler este livro?
Por
um motivo muito simples: é um texto enorme. Algumas edições contam com mais de
oitocentas páginas. Dividido em três livros: O homem, A terra e A luta, muitos
dos que dizem tê-lo lido apenas leram a terceira parte narrando os eventos da
campanha militar que massacrou o povoado de Canudos, na Bahia.
A
falta de tempo será o grande discurso que permeará as desculpas da falta de
leitura dos clássicos. Mas sempre há espaço para aquela conferida no Facebook.
Impactante.
“O coração das trevas" é um livro que chegou ao grande público através do
filme "Apocalipse now" de Francis Ford Coppola. Mas não é por isso
que você tem que lê-lo.
Na África
durante a colonização, (diferente do filme que se passa no Vietnã) o autor
apresenta um dos personagens adentrando o continente através de um rio e à
medida que avança neste rio metafórico vai se deparando com o que há de mais
torpe no interior do ser humano.
Por que você deveria ler este livro?
O coração das
trevas é no fim o coração de nós mesmos. Desta forma perdemos um pouco a fé na
humanidade, mas aprendemos muito mais sobre a natureza humana. Assim nunca mais você se surpreenderá com as
notícias das maldades apresentadas nos jornais de direcionamento popular.
Por que você não vai ler este livro?
As escolas
brasileiras ainda não descobriram a importância de se ensinar a literatura
universal e também pelo fato de o filme ter sido adaptado para o cinema de
forma tão genial que ofusca um pouco do interesse pelo livro, o que na minha
opinião deveria ser o contrário.
Muita gente se
encanta pelo livro após o filme e o abandona poucas páginas depois. Uma pena.
3º Em busca do
tempo perdido, de Marcel Proust
Uma
viagem pelo subconsciente do autor, que não raro se confunde com o seu
personagem protagonista. Em busca do tempo perdido é a própria história do
tempo e de como este se relativiza. Lê-lo é descobrir a vida na vida da vida.
Quanto tempo contido dentro de cada segundo. A existência assim, de qualquer
pessoa, de qualquer ser, seria eterna.
Por que você deveria ler este livro?
No
século XXI fomos acostumados aos filmes de Holywood, que nos capam as reflexões
empurrando ação após ação. Desta forma todas as narrativas que assistimos,
lemos ou escutamos estão repletas de perseguições em alta velocidade,
explosões, efeitos sonoros e visuais e não paramos pra pensar que o tempo da
reflexão é o tempo humano. O nosso tempo.
Por que você não vai ler este livro?
Porque
você vai se perder ao longo da narrativa, buscando uma história pra seguir e ao
final da vigésima página vai se dar conta de que o livro é isso do começo ao
fim e que não acaba nele. Existem outros seis, no total de sete volumes de uma
história simples repleta de digressões. Muito pouco interessante para a geração
Millenium – pra não chamar de geração ejaculação precoce.
Um
livro eterno. Dom Quixote é mais vivo do que qualquer um de nós que temos data
de nascimento, RG, CPF e no futuro atestado de óbito. Sua figura é eterna e
estará eternamente no imaginário popular, ele e seus companheiros Sancho Pança
e o cavalo Rocinante.
Um
leitor voraz de histórias de cavalaria enlouquece e galopando um pangaré, luta
contra a realidade, dura realidade imposta pelo mundo. E não é tão simples
assim. Há tantas camadas de leitura deste livro que talvez um dia escreva um
texto apenas sobre algumas destas interpretações.
Porque você deveria ler este livro?
Porque
é um texto sobre sonhos impossíveis, imaginação, busca, amizade, crença no
espírito humano, crença na ética e moral do indivíduo. Dom Quixote, por exemplo,
não enxerga a prostituta no prostíbulo, o que há ali é uma donzela linda, uma
estalagem elegante, o ser humano em potência. O olho do observador Quixote é,
talvez, o legado mais eloquente de Cervantes.
Por que você não vai ler este livro?
Dom
Quixote é aquele livro tão lugar comum, mas tão lugar comum nas listas de
melhores livros da literatura mundial que sempre acabamos por deixá-lo pra
depois. Isso quando não nos satisfazemos na leitura de adaptações infanto
juvenis no período escolar, algumas montagens teatrais horrorosas, outras nem
tanto, cinema, paródias. No fim, o texto acaba ficando soterrado nesse grande
entulho pós contemporâneo.
5º A revolta
de Atlas, de Ayn Rand
Livro
fundamental para entender o século XXI, assusta o modo como o colapso da
sociedade ocidental é visto com décadas de antecedência. O que na época era
especulação acontece aos nossos olhos cotidianamente.
Numa
distopia bem provável as maiores mentes do planeta se recusam a trabalhar, são
o Atlas do título em português, os que sustentam o mundo. Sem estas cabeças o
mundo se colapsa.
Por que ler este
livro?
As
maiores mentes se recusando a trabalhar é apenas um mote que em si já renderia
muito assunto, mas os motivos que os levam a tomar essa atitude e perceber como
personagens, os dois protagonistas especificamente, lutam para não desistir.
Eis algo grandioso. Merece muito ser lido por todos.
Por que você não vai ler este livro?
Por
alguns motivos básicos. Seu professor de esquerda vai dizer pra você que é uma
obra de doutrinação direitista, o livro por vezes é muito teórico, quando por
exemplo de um capítulo de mais de cinquenta páginas sobre a importância do
dinheiro. E a falta de ação, sempre ela, afasta os leitores, quase eles todos.
Ok,
devo admitir. É um livro bem chato, tão chato quanto a medida de sua
relevância.
Desde
quando vivíamos em cavernas e começamos a compartilhar nossos sonhos criamos
crenças, sistemas religiosos e até explicações artísticas e filosóficas para o
significado seu significado. Tudo para dar relevância ao que entendíamos como
parte do mistério. Estar do outro lado da vida, um pouco morto todo dia.
Mas
aí chegou Freud e mudou tudo.
Por que você deveria ler este livro?
Um
sonho pode ser a extensão de um pensamento iniciado quando acordado, (estar
acordado é chamado por Freud de estado de vigília), um sonho pode ser uma
lembrança, uma resposta do organismo a uma recepção direta de nossos sentidos,
como sonhar que está nu quando a coberta descobre nosso corpo. Ou pode tudo ser
muito mais que isso. O que não pode ser é diálogo com espíritos, conversas
telepáticas e outras crenças que trouxemos conosco desde as cavernas e enfrentamos
graças às pesquisas do pai da psicanálise.
Por que você não vai ler este livro?
Em
geral este tipo de livro é lido apenas por estudantes de psicologia, algo
escrito no próprio prefácio da obra, mas devido a sua relevância, ora, todo
mundo dorme; é um assunto que deveria interessar a todos.
Mas
estamos muito mais preocupados em sonhar com um número, jogar na mega sena e
torcer pra que seja uma intervenção divina.
7º A origem
das espécies, de Charles Darwin
Somos
o resultado de um processo ininterrupto de adaptações ao meio. Somos a resposta
do universo a uma pergunta que nunca saberemos qual.
Darwin
não nos disse de onde viemos, mas explicou como chegamos até aqui a partir de
certo ponto do caminho.
Por que deveríamos ler este livro?
Devemos
saber as respostas. Devemos fazer as perguntas. Não devemos temer as respostas.
Não devemos calar as perguntas.
Se
você pensa que aquela imagem de hominídeos em fila até o homo sapiens é tudo o
que Darwin tem a dizer, meu caro, você está completamente enganado.
Porque você não vai ler este livro?
Por
incrível que pareça é de leitura fácil e não tão extenso, se contar o barulho
que faz desde a ocasião de seu lançamento. Embora seja uma teoria comprovada,
com sólidas bases científicas, ainda há os que se recusam a acreditar, agindo
como o avestruz da fábula que nem existe, pois, avestruzes não agem como os
avestruzes da fábula e nem há fábulas sobre avestruzes.
Shakespeare
é o que há de melhor para ser lido no mundo desde que foi escrito. E nem foi
escrito para ser lido, mas para os palcos. Hamlet é simplesmente o melhor texto
do melhor escritor de todos os tempos.
Por que você deveria ler este livro?
Mesmo
assistindo às peças, e temos de as assistir sempre, não podemos nos furtar de
nos debruçar sobre os textos, se possível no original e nos embasbacar, deixar
nossa boca abrir de admiração ao longo de cada cena, cada ato, cada frase
entrando no pensamento popular.
O
enredo de Hamlet é famoso: a vingança devido ao assassinato do pai. A dúvida de
Hamlet também é famosa: “to be or not to be”. Por que então não ler
Shakespeare?
Por que você não vai ler este livro?
É
a maior peça de Shakespeare em extensão, o que não quer dizer muita coisa,
ainda é uma peça, portanto um teto curto. Mas não há uma cultura em nossa
sociedade brasileira na leitura de textos dramáticos. Há pessoas que não sabem
nem o caminho para o teatro mais próximo. No Brasil, pobre de nós, não lemos nem o Nelson
Rodrigues.
9º A Bíblia
Sagrada
O
que todo inteligentinho (parafraseando o
Pondé) o que todo inteligentinho faz pra se afirmar como inteligentinho numa
pseudo vida adulta é se definir como um ateu. Isto sem nunca ter passado pelo
livro mais vendido do mundo. Ler a Bíblia, hoje em dia, parece que leva seu
leitor a um universo de obscurantismo e senso comum. Muito errado pensar assim
Por que você deveria ler este livro?
É
antes de qualquer coisa um livro histórico. Também o livro que mais influencia
decisões no mundo. É citado, parafraseado, e se você já assistiu ao Porta dos
fundos sabe que o texto bíblico é até vilipendiado.
Conhecer
a Bíblia pela boca do pastor, do padre ou de uma paródia não é mais necessário
desde Gutemberg, o inventor do livro como o conhecemos. Não à toa o primeiro
livro impresso por ele foi a Bíblia. E de lá pra cá é sim o livro mais
consumido no mundo.
Por que você não vai ler este livro?
Você
reparou que eu assinalei livro comprado e consumido, mas não escrevi que era o
livro mais lido do mundo.
Sei
que serei polêmico agora, mas não me furtarei a isto. Ler a Bíblia sendo o
pastor, ou o padre, ok. Sei que é uma leitura pop entre os religiosos,
profissionais da fé, por assim dizer.
Mas
o povo popular médio, apenas se atém a trechos, os assim chamados versículos.
Seria excelente uma cultura de leitura e estudo da Bíblia do seu começo ao seu
fim. Da Gênesis ao Apocalipse.
Infelizmente
é um livro mais idolatrado que lido.
10º A Odisseia,
de Homero
A
Odisseia é o livro que narra o retorno de Ulisses a Ítaca depois da guerra de
Tróia.
Após
desafiar os deuses, mostrando-se um mal-agradecido, é punido e tem que passar
por muitas e péssimas, não poucas e boas até retornar pra sua família.
E
não é o que fazemos todo dia quando saímos de casa para o trabalho?
Esposa,
filhos em casa, um monstro a cada meia hora. Seduções que nos tentam a ficar
por ali e dizer adeus o cotidiano. No fim, voltamos e mais um dia nos espera
amanhã.
Há
milhões de interpretações para cada passagem desta epopeia que merece ser lida
por todos em todas as épocas.
Por que você deveria ler este livro?
É
simplesmente o livro fundador da literatura ocidental. Um dos pilares da
cultura do ocidente. Um gigante literário apenas acompanhado por sua irmã epopeia
a Ilíada, com o enredo da guerra de Tróia com o herói na figura de Aquiles.
Por que você não vai ler este livro?
Aí
já tem um monte de desculpa clássica: é difícil, é longo, é lento, é em versos,
não entendo, é antigo.
Mas
saiba que assim como todos os livros desta lista, os personagens desta obra
estão mais vivos que muitos seres humanos que conheci na minha vida. E estarão
respirando ainda cem anos após a morte de pessoas que você e eu conhecemos. Cem
anos e muito mais.
Acabo
de me lembrar de outro livro: O cem anos de solidão, do Garcia Marques. Mas
deixa pra encaixá-lo em outra lista, num outro momento.
Por
ora, estes são os dez livros que você não vai ler, mas deveria.
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Análise do disco "Sobrevivendo no inferno" - Leitura Obrigatória para o vestibular da Unicamp 2019 (clique no link para ouvir o podcast)
O
Brasil não existiu desde o descobrimento e se alguém disser pra você que Pedro
Alvares Cabral descobriu um país gigante e continental estará fazendo uma
leitura anacrônica da história, o que vale dizer que estará vendo o
descobrimento de uma maneira equivocada.
Cabral não
descobriu o Brasil, mas uma faixa de terra que pensou ser uma ilha, isto como
extensão da expansão imperialista do Reino Português do período que seu
professor de história costuma chamar de Mercantilismo.
Cabral
deu à terra descoberta o nome de Ilha de Vera Cruz. O caráter religioso da
empreitada está claro, nunca ignorando todos os motivos que fizeram os portugueses
aportarem por aqui.
A invenção do
Brasil é uma pergunta complexa e temos que tomar muito cuidado com as respostas
simples para as perguntas complexas. (É muito comum, por exemplo, nos
referirmos aos primeiros brasileiros como colonos, índios (indígenas por conta
do politicamente correto) e negros. Mas nenhuma dessas raças se reconhecia como
tal. Os portugueses que nasciam por aqui se entendiam como portugueses, apenas
no século XXI começaram a utilizar o termo populações indígenas e quanto aos
negros, bem, quanto aos negros vamos desenvolver ao longo deste texto).
Dito isto
posso afirmar que quando descobriram que o litoral daquela terra não tinha fim, e
que era tudo muito mais vasto do que previam, trataram de mandar mais e mais
gente pra cá. (Não ignoro a visita dos franceses, holandeses e espanhóis por
estas paragens, mas não dá pra aprofundar por aqui, fica pra uma outra
oportunidade) Os portugueses sempre aliados à Igreja Católica na figura dos
padres jesuítas, que sempre foram meio padres meio guerreiros trataram de vir
para a agora Terra de Santa Cruz fazer o que os posseiros fazem quando
encontram uma terra sem uma cerca. (Isto e a catequização, obviamente)
De
lá pra cá os católicos portugueses e os também católicos jesuítas tiveram de se relacionar com os
índios, com os estrangeiros que teimavam em aportar por estas paragens e com a
mão de obra escrava que começou a ser trazida desde o primeiro século de
colonização, num êxodo sem precedentes na história da humanidade a população
africana foi levada como mão de obra escrava para todas as colônias
portuguesas, incluindo o Brasil obviamente, mas também levados por outros
povos, houve escravidão negra em diversas partes do mundo, no mundo inteiro. Os ingleses ficaram marcados na história como abolicionistas, mas competiam por cativos nos portos africanos junto a espanhóis e também holandeses.
Mas nunca se
engane, a escravidão no nosso senso comum se refere à população da África, mas
havia escravos na Grécia, Egito, Império Romano; o próprio termo em inglês
“slave” se refere aos eslavos, povo que foi escravizado pelos bretões em certo
período da história.
No
que tange ao Brasil das três raças, como se dizia antigamente, os negros foram
escravizados com a conivência e o suporte do governo português, Igreja e
comunidades africanas da África (comunidades (tribos, reinos, governos, impérios) que em certa medida viam
com naturalidade a venda de inimigos para o mercador de um país distante,
comércio obviamente lucrativo devido ao longo período que ocupa em nossa
história).
Em
países como os Estados Unidos não houve mistura significativa de raças, havia
os brancos junto aos brancos e os negros com os negros, em países como o Haiti
de população majoritariamente negra ocorreram eventos traumáticos, como a luta pela independência tornar-se um massacre étnico com o poder nas mãos dos afrodescendentes agora donos de um país independente.
De uma ou
de outro a forma como o Brasil deve ser olhado é muito diferente, pois aqui não
houve apenas a mistura, mas a construção de uma verdadeira sociedade calcada na
escravidão. E este é o ponto nevrálgico do processo de formação cultural
brasileiro.
É
comum falar que no Brasil houve a miscigenação, mas uma leitura mais aprofundada
da história, História bem estudada, com H maiúsculo, leva a perceber o quão
difícil foi para uma sociedade alicerçada nesse modelo se livrar de algo mais
que vergonhoso para a sua formação.
Aqui
não houve apenas escravidão, houve uma sociedade escravista com todas as
relações afetivas, humanas, econômicas, de trabalho, enfim, todas as relações
sociais eram pedradas na concepção de que pessoas tinham a obrigação de
trabalhar de forma compulsória para outras que não tinham a obrigação nenhuma
de trabalhar para a conquista do próprio pão.
A
escravidão está no DNA do nosso tecido social, o que vale dizer que todos nós
brasileiros somos, em certa medida, escravistas. Mesmo os negros, os que mais
sofrem com as consequências da construção deste modelo social quiçá único no mundo.
Digo isso por conta do incrível número de pessoas trazidas compulsoriamente para as Américas e em específico para o Brasil. De todos os cativos sequestrados na África, segundo dados alfandegários da época, cerca de quarenta por cento desembarcaram no Brasil. Isso sem levar em conta o número de mortos durante a travessia; o Oceano Atlântico é um verdadeiro cemitério onde foram enterrados homens, mulheres (grávidas inclusive) e crianças.
Digo isso por conta do incrível número de pessoas trazidas compulsoriamente para as Américas e em específico para o Brasil. De todos os cativos sequestrados na África, segundo dados alfandegários da época, cerca de quarenta por cento desembarcaram no Brasil. Isso sem levar em conta o número de mortos durante a travessia; o Oceano Atlântico é um verdadeiro cemitério onde foram enterrados homens, mulheres (grávidas inclusive) e crianças.
A
literatura da época, a de melhor qualidade como o Manuel Antônio de Almeida
narrando as aventuras de Leonardo Pataca e seu filho em “Memórias de um
Sargento de Milícias. Notem como neste livro o trabalho é visto como algo relegado
às classes inferiores, o sonho de todos ali é arranjar-se, se dar bem, deixar
de trabalhar, o próprio título da obra se refere a isto, um sargento de
milícias é alguém que recebe uma pensão vitalícia sem que para isso tenha que trabalhar, obviamente.
O Brás Cubas
de Machado de Assis se orgulha de ao final da vida nunca ter precisado
trabalhar, sua família esconde as origens humildes, como se o trabalho
honesto tivesse manchado as origens aristocráticas de uma família que deveria
se orgulhar do posto alcançado na escala social através de muito suor.
No Brasil o
trabalho nunca enobreceu, somos um país de preguiçosos e é muito perigoso falar
isto em voz alta.
Não
à toa é tão difícil fazer a reforma da previdência social, todos aqui sonham com
o dia de aposentar-se para enfim deixar de trabalhar, tornando-se assim um
sargento de milícias, um Brás Cubas; se arranjando, se aristocratizando, como o João Romão de "O Cortiço" explorando até o fim sua escrava barra concubina Bertolesa.
Aposentar-se o quanto antes, se possível agora.
Aposentar-se o quanto antes, se possível agora.
O que você
faria se ganhasse na mega sena, 100 milhões de reais, você brasileiro, onde
trabalharia?
Os negros
legitimados como propriedades não se reconheciam em certa medida como seres
autônomos. Não dá pra ensinar de uma hora pra outra que certas pessoas, todas
elas, tinham e têm o mesmo direito, pois independentemente da cor da pele, da
condição de nascimento somos todos seres humanos. (E isto é a coisa mais óbvia
que você lerá hoje).
A sociedade
brasileira se constituiu, na sua origem, de pessoas que trabalhavam e de outras
que escravizavam os que trabalhavam. Mas o tecido social daqui era tão complexo
que era a coisa mais comum ex-escravos possuírem escravos. Escravos comprarem
escravos com dinheiro que conseguiam juntar em trabalhos extras que faziam não
para seus senhores, mas para outras pessoas que se recusavam a realizar
determinadas tarefas. Alguns negros juntavam dinheiro para comprar sua
alforria, mas preferiam comprar um escravo para realizar tarefas para si.
Também muito
comum a defesa da escravidão por muitos: fazendeiros, donos de escravos. Estes
não viam lucro nenhum em ter de pagar por uma mão de obra que tinham
gratuitamente. Desde que a mantivesse viva com algumas refeições e local de
dormir. Havia muita gente pobre mantendo cativos como investimento, explorando o trabalho sem o menor escrúpulo, pois no Brasil isso era o natural, era a vida tal qual se concebia.
Gente muito
“ilustrada” defendeu a escravidão com o argumento de que a economia brasileira
era baseada nela, ou a defesa da autonomia das decisões nacionais que não
podiam se subjugar aos desmandos de Inglaterra, Estados Unidos ou Portugal.
O fim da
escravidão aconteceu paulatinamente, ao longo de décadas, de forma conservadora e desorganizada no que tange aos direitos dos antigos escravos, agora seres humanos livres, mas muito longe de serem cidadãos de primeira classe. Após ela (a escravidão oficial) não houve
nenhum processo de inclusão, apoio, suporte às populações de ex-cativos. Pelo
contrário, varreu-se tudo o que foi relativo a isto para debaixo do tapete e ao
longo de todo o século XX os descendentes dos escravos, ou qualquer
afrodescendente teve de viver num país que se recusou a refletir sobre seus
quase quatrocentos anos de escravidão de populações vindas da África.
É
neste ponto que o disco“Sobrevivendo no inferno” entra nessa história.
Nos
anos 1960 houve nos Estados Unidos a luta pela igualdade de direitos civis, a
independência norte americana e a guerra de secessão deixaram a questão racial
muito mal resolvida, segregação que permitia que uma prefeitura construísse
escolas para negros e para brancos separadas, e é claro que se sabe qual era a
de pior qualidade.
Universidades
que proibiam o ingresso de negros, postos de trabalho vetados para esta
população.
Lanchonetes
com cartazes de “não servimos negros”, ônibus onde negros sentavam na parte de
trás e deveriam levantar-se para nenhum branco ficar em pé enquanto estes
estivessem sentados, na Segunda Guerra Mundial não havia um único oficial negro
no exército. No Vietnã o questionamento de os negros serem enviados para morrer
enquanto os brancos viviam o sonho americano.
Há um filme
idolatrado por muito americano classe média chamado “O nascimento de uma
nação”, nele o fundador da klu klux klan é o grande herói que apenas torna-se
herói após criar a klã (que me recuso a escrever em letras maiúsculas). Este
filme é uma verdadeira obra de arte em termos de apuro técnico, revolucionou o
modo de fazer cinema no mundo, muito por conta da forma inovadora com que a
edição se dá, porém seu conteúdo é altamente nocivo, o triunfo da cultura wasp em detrimento do esfacelamento de
outro povo.
Pois
bem, após Luther King, Malcom-X, movimento Hip Hop e empoderamento da agenda
pela luta pelos direitos civis (não se engane, os Estados Unidos continuam extremamente
segregados: há bairros de negros, de brancos, casamentos inter-raciais são
raros e é preciso tomar muito cuidado com a polícia de alguns estados, vira e
mexe acontece algum protesto contra policiais que mataram jovens negros desarmados
na frente de sua própria casa), e esta luta por direitos civis chegou ao Brasil
vinte anos depois na esteira do Hip Hop; um movimento cultural artístico
extenso que teve sua origem nos bairro negros segregados de Nova York: Bronx,
Harlem, Queens.
No
Brasil as periferias das grandes cidades, em especial São Paulo foram as que
receberam de forma mais prolífica as vozes de grupos como Run – D.M.C., Public
Enemy, Sugarhill Gang, Beast Boys e muito mais.
O discurso
confrontador da realidade alcançou o jovem Mano Brown, morador de um bairro
paupérrimo da periferia paulistana. Neste ínterim a música dos Racionais MCs,
banda de Mano Brown, serviu como válvula de escape para as vozes que não
tinham, por vezes, a mínima noção da realidade pela qual passavam. Milhares,
milhões de jovens brasileiros morreram sem saber que eram vítimas de uma
construção social secular, que as levou a mergulhar cada vez mais fundo na
miséria, no subdesenvolvimento e, não raro, na criminalidade.
O
disco “Sobrevivendo no Inferno” data de dezembro de 1997 e é das poucas
unanimidades da música brasileira, é sem dúvida o disco mais importante do rap
nacional. Uma obra prima.
Faixa
por faixa os problemas trazidos pelo tecido social racista brasileiro são desvelados.
Em pleno fim
de milênio ainda não se resolveu no Brasil a questão racial.
Ao contrário
dos Estados Unidos onde os negros são, de fato, minoria, no Brasil negros e
afrodescendentes passam de 51% da população, mas são minoria em universidades
ditas públicas, em profissões de maior prestígio social como medicina, direito
e engenharia.
Afrodescendentes
são maioria em presídios, favelas e periferias; também são maioria em escolas
públicas apenas nos anos iniciais já que são forçados à evasão ao longo dos
anos escolares devido às condições de vida geradas pelo abandono histórico de
que são vítimas.
Na pirâmide
social os negros são maioria na base e na base da base está a mulher negra,
solteira com filhos.
Não à toa um
discurso tão forte é necessário.
A
leitura e não apenas audição deste disco é fundamental.
Nele se
percebe o que quinhentos anos de mestiçagem fez ao brasileiro, uma população
religiosa, pobre e segregada.
Em
sua capa a imagem da cruz remete toda a obra ao cristianismo, mas o primeiro
texto é uma canção de Jorge Ben Jor: Jorge Capadócia. Santo sagrado para as
religiões católicas e candomblé. O disco pede proteção a Jorge e diz que “Eu
estou vestido com as roupas e as armas de Jorge para que meus inimigos tenham
pés e não me alcancem para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem".
O que haverá
ao longo da obra é este discurso pedrado no sincretismo religioso, palavra um
tanto em desuso, mas que significa aqui, resumidamente, a mistura das religiões
católica e candomblé.
A segunda é
uma música instrumental chamada gênesis, novamente a relação com a cultura
cristã. E a primeira música com texto inédito surge, não sem antes o antológico
discurso:
"Sessenta por
cento dos jovens de periferia sem antecedentes criminais
Já sofreram
violência policial
A cada quatro
pessoas mortas pela polícia, três são negras
Nas
universidades brasileiras
Apenas dois por
cento dos alunos são negros
A cada quatro
horas, um jovem negro morre violentamente
Em São Paulo
Aqui quem fala
é Primo Preto, mais um sobrevivente"
Ninguém
nunca pediu as fontes de tais afirmações, mas não está dizendo nenhuma
novidade, ao menos para os moradores dos bairros mais pobres da cidade.
A
própria formação das periferias brasileiras, de norte a sul, se deve ao
abandono que grande parte da população pobre brasileira sofreu ao longo de toda
a sua constituição enquanto povo. Na periferia paulista negros, nordestinos e
seus descendentes lutam para a conquista de um dia a dia ao menos digno.
Enquanto crescem
o tráfico de drogas, o descaso, a violência e falta de tudo. Muito do protesto
contido no discurso ao longo de todo o disco é a presença do poder público
apenas na figura da polícia, tida como inimiga da população negra “não confio
na polícia raça do caralho” (verso de uma canção de outro disco da mesma banda
e presente como incidental aqui)
A
primeira letra chama-se “Capítulo 4, versículo 3. Nela Mano Brown se apresenta
e diz que suas intenções não são boas. Vale notar que o coloquialismo, a
linguagem ao longo de todo o disco atinge um outro nível de regionalismo. Mano
Brown mais de uma vez diz que não falava gírias, mas um dialeto. Talvez um
pouco difícil para moradores de outros estados, outras classes sociais. Em certo
momento desta canção alguém diz que não valeria a pena “dar ideia” em certos
tipos, no que a voz principal de Brown responde que “quem era ele pra falar de
quem cheira ou quem fuma, nunca teve porra nenhuma’.
A primeira
canção pra valer do disco é uma pedrada das grandes e fala do próprio criar
artístico e do poder que tem pra mobilizar de alguma forma a sociedade, não com
essas palavras, é claro, mas nas de Brown: “Quatro minutos se passaram e ninguém viu / O
monstro que nasceu em algum lugar do Brasil” e termina com os icônicos e
profundos versos “Eu sou apenas um rapaz latino americano /Apoiado por mais de
cinquenta mil manos / Efeito colateral que o seu sistema fez / Racionais
capítulo quatro versículo três".
“Tô ouvindo
alguém me chamar” tem toda a característica de um conto, embora seja uma letra
de rap, obviamente construída em versos, narra a história em primeira pessoa de
um jovem que se aliou a um assaltante e ao longo da narrativa conta suas
experiências, as infâncias pobres dos que se tornam assaltantes, as opções de
vida que poderiam ter caso houvesse a possibilidade, o Guina (antagonista, que
chama o narrador e ao final ordena sua execução) tinha liderança, poderia ter
trabalhado numa multinacional.
O verso refrão
“tô ouvindo alguém me chamar” pode ser traduzido aqui como o chamado da
bandidagem, chamado sedutor para jovens que são obrigados a ir pra escola com
roupas doadas, ditas de esmola pelo narrador. Que nunca são ninguém em momento
algum, mas que se sentem poderosos com uma arma na mão. Alcançam o poder que a
sociedade nega. (Ao longo de todo o
disco o termo utilizado é “sistema”).
O narrador é
morto a mando do Guina, o mesmo que o chamou para a vida do crime, uma metáfora
clara de qual seria e será o destino dos que se envolvem na criminalidade. Uma
vida curta, um destino violento numa
vida violenta. A cena da camisa colando em seu corpo é narrada de forma
arrebatadora e triste, sensibilidade poucas vezes percebida em altos textos
literários:
“mas depois do
quarto tiro eu não vi mais nada
Sinto a roupa
grudada no corpo
Eu quero viver
não posso
estar morto!
Mas se eu sair
daqui eu vou mudar
A
canção “Rapaz comum” é quase que um tratado descritivo de um jovem negro
morador da periferia, sua proximidade com as armas, seu destino também trágico,
assim como em “Tô ouvindo alguém me chamar” a morte para os que se envolvem com
o mundo do crime.
Neste
momento me ocorre que a capa do disco pode estar dizendo muito mais que uma
cruz, pode ser a sepultura dos jovens negros mortos, subtraídos de suas vidas
neste ambiente insalubre.
O
rapaz comum também ouviu alguém chamá-lo, a presença da mãe na sepultura do
filho é uma das mais fortes ao longo do disco, e olha que há muitas mortes ao
longo de toda a composição.
Após
um interlúdio que reforça o caráter temático do disco o que aparece é a canção
de maior sucesso da obra e talvez de toda a carreira dos Racionais MCs: “Diário
de um detento”
Canção
que tem como motivo o conhecido massacre da Casa de detenção do Carandiru
ocorrido no dia 3 de
outubro de 1992, em nenhum momento as palavras detenção, presídio ou
Carandiru são mencionadas.
O
desejo de fugir (não é segredo pra ninguém o número de túneis cavados pelos
presidiários ao longo dos anos) “de um a cem a minha chance é zero”.
Um
ambiente quase naturalista é pintado: o policial vigiando, a vida na
coletividade, o metrô passando (o presídio era localizado na Estação Carandiru
do metrô, a menos de meia hora do centro de São Paulo, nesta estação o metrô
passa por sobre viadutos e era possível a quem passasse ver o interior do
presídio), as calças bege, mais religião “Graças a Deus e à Virgem
Maria./Faltam só um ano, três meses e uns dias.” O cheiro de Pinho sol, famoso
desinfetante que deveria dar o tom acre do local, o destino dos estupradores, o
futebol como distração.
É
a canção menos conotativa de todo o disco, de letra bem objetiva narra a
entrada da polícia, a forma como se tornaram alvos, a índole dos que morreram e
antes disso a relação dos presidiários com a família.
A
canção começa localizando o leitor na narrativa em relação ao período
histórico, 1º de outubro de 1992 e termina com os famosos versos: “Mas quem vai
acreditar no meu depoimento?/Dia 3 de outubro, diário de um detento."
Algumas
cenas fortes são narradas, como ao citar o papel dos cães da polícia, ou ao
comparar a ação que culminou com o massacre a de um Robocop: “O Robocop do
governo é frio, não sente pena. / Só ódio e ri como a hiena.”
Mas nada perto
de uma história que sabemos ser verídica. Neste dia morreram oficialmente 111
presos.
Na
sequência a canção “Periferia é periferia (em qualquer lugar)” a descrição do
local onde a maioria das histórias narradas no disco acontecem. Um tema muito
recorrente na obra dos racionais, mas que já havia sido trabalhada de forma
genial em uma canção de outro disco “Fim de semana no parque” com a qual esta
parece conversar, ao menos incidentalmente escuta-se: "Milhares de casas
amontoadas" no ritmo da de “Fim de semana no parque”.
“Em
qual mentira vou acreditar” narra a história de um jovem saindo à noite para se
divertir e os entreveros que têm de passar, como por exemplo a polícia que o
para para uma revista alegando que racismo não existe: "Escuta aqui: o
primo do cunhado do meu genro é mestiço/Racismo não existe, comigo não tem
disso. É pra sua segurança".
E
a cada nova intromissão o refrão “Tem que saber curtir, tem que saber lidar/Em
qual mentira vou acreditar?”
A
canção acaba por ser a mais alegre do disco, mesmo quando um falso evangélico
aparece e pede drogas com um óbvio disfarce para algum projeto ilícito no
futuro, nesse caso estou apenas especulando, mas “Tem que saber curtir, tem que
saber lidar/Em qual mentira vou acreditar? ”
Na
última canção “Mágico de Oz” os Racionais fazem um resumo de tudo o que foi
dito, e após tanto falar de religião aponta para um mundo de fantasia, quem
sabe o desespero, “queria que Deus ouvisse a minha voz/E transformasse aqui num
Mundo Mágico de Oz".
Não
sei se a citação tinha este objetivo, mas o Mágico de Oz da história era um
falso ídolo. Dorothy persegue o mágico ao longo de toda a história e a solução
para a saída daquele lugar horrível que se encontrava eram seus próprios
passos. Bater os sapatos e dizer “não há lugar melhor que o lar”.
Uma
esperança em meio a tanto sofrimento na vida dos que vivem na periferia?
Como
sair de um lugar assim?
“Tudo dentro
de casa vira fumaça, é foda
Será que Deus
deve estar aprovando minha raça?
O refrão
lembra muito uma oração cristã, e não deixa de ser digno de nota esta oração
pedir que transforme o local num mágico de Oz, um local com fadas, bruxas e
magia, de um falso mágico, mas com esperança. Pois é o que menos existe na vida
dos jovens negros moradores de periferia. A esperança, mesmo a tênue, mesmo
aquela que se encontraria no final da estrada de tijolos amarelos.
domingo, 20 de janeiro de 2019
NOVIDADE - Podcast A Cabeça Do Objeto
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