Gasto um pequeno espaço do meu
dia e um ainda menor do seu para declarar em alto e bom som o meu voto. Antes
deixando claro que a democracia é o pior de todos os regimes e melhor que todos
os demais.
A nossa democracia funciona num
país republicano. Nossa república é democrática representativa. Nosso
regime é presidencialista. Nosso
regime republicano prevê o equilíbrio entre os três poderes.
O que eu não entendo é como
alguém pode ir à urna e votar num alguém sem saber no mínimo o que cada uma
dessas coisas do parágrafo acima significam.
A República no Brasil tem como
paralelo o regime anterior: o monárquico. Numa República tudo o que não
pertence ao privado é público, o que não quer dizer que não tem dono, numa
República o que é público pertence ao público: a mim, a você, a nós. No caso, a
todos os brasileiros. O público.
Numa democracia (no caso
republicano) o poder pertence ao povo. Se ela é representativa são eleitos os
representantes que nas esferas múltiplas de poder representam este caldo: o
povo.
Somos – o Brasil –
presidencialistas. Quer dizer que o presidente, que representa o povo na esfera
federal, organiza o governo e responde pela administração do país. Seu paralelo
seria o parlamentarismo, regime em que o presidente indica o primeiro ministro
e este responde pela administração, com pontos pré-aprovados pelo parlamento.
Há várias formas de parlamentarismo, pesquise.
Já quando falamos em poderes,
lembro da tia da quarta série me contando sobre o executivo que executa as
leis, o legislativo que elabora as leis e o judiciário que as fiscaliza. E fico
pensando no quanto isso é limitador. Na minha formação escolar básica este foi
o único contato que tive com a questão dos três poderes.
A coisa mais importante numa
república democrática é o equilíbrio entre os poderes e o respeito às
instituições.
Os senadores e os deputados são
o legislativo, que impedem o presidente (executivo) de tornar-se um ditador.
O judiciário organiza legalmente
toda essa bagunça, através de um livro aprovado pelos três poderes chamado Constituição Federal, também conhecido
como Carta Magna.
Quanta coisa né!
E complica mais ainda quando sai
da teoria e entra a prática.
Isso porque no cotidiano as
pessoas não se preocupam muito com as outras, talvez com os membros da própria
família, amigos próximos. Daí entra a figura de Deus, pecado, crime, punição,
cadeia, etc. Alguns instrumentos de controle da sociedade que impede seus
membros de agirem em contradição ao que foi aprovado no livro supra citado.
Desta forma há poderes não
oficiais a dar com o pau: igreja e mídia são os mais influentes. Mas poderia
citar outras dezenas: máfia, agronegócio, partidos políticos, países vizinhos,
ONGs.
Que seja.
A vida é muito complicada na
prática e precisamos buscar o ideal. Se algo está escrito naquele livro é
preciso que se ponha na prática, do contrário é ilegal. Por exemplo quando diz
que todo brasileiro tem direito à saúde, moradia e emprego e vemos ao largo
pessoas doentes sem hospital, morando na rua e desempregadas. Isto é, você
ficar sem hospital é ilegal, assim como não ter escola, segurança, etc.
Dito isso tudo, cheguei onde
queria: declarar meu voto.
Antes.
No Brasil dá-se muita
importância ao executivo e se esquece que o legislativo o equilibra e que sem o
apoio deste um presidente não governa. Em todas as esferas: município, estado e
Brasília.
A eleição numa democracia
representativa deve levar em consideração essas e outras tantas. Como a
ingerência de um poder no outro, ou a completa falta de fiscalização no
financiamento de campanhas eleitorais, apoio de meios de comunicação a certos
candidatos, suporte de igrejas a outros, doações de grupos esquisitos como
latifundiários, megacorporações empresariais e assim por diante.
Um candidato que recebe milhões
de uma certa empresa de celulares leva os professores a uma palestra onde serão
orientados de como utilizar os aparelhos em sala de aula, mesmo sendo o uso
proibido por lei e mesmo isto prejudicando o rendimento intelectual das
crianças. Resultado: a empresa vende mais celulares, a Carta Magna é pisoteada
e o candidato se perpetua no poder porque terá sempre o suporte da empresa que
viu nele um grande investimento.
Muitas mentiras são ditas numa
democracia. Por exemplo: o horário eleitoral não é gratuito, é financiado com
dinheiro público, lembra o que significa público numa república? É mesmo, o
desenho do Aerotrem foi pago por mim e por você, assim com a Brasília amarela
da propagando do palhaço escroto líder de votos em São Paulo.
Escolher em quem votar é muito
difícil. Como existem influências de toda sorte é preciso perceber coisas do
tipo: quem doa dinheiro para determinado candidato e com quais partidos o fulano
está coligado.
É um pouco, ou muito, hipócrita
o candidato defender o meio ambiente e receber financiamento de empresas
automobilísticas, empreiteiras e corporações ligadas à produção de pesticidas.
Ou o partido socialista barra
comunista aceitar doações de bancos.
Também o que defende a ética e
se coliga com o Paulo Maluf, aperta sua mão e sobe no mesmo palanque. (Obs. Maluf
nunca foi santo e é senso comum seu pouco apreço ao cumprimento das leis).
E tem mais: quociente eleitoral,
legendas de aluguel, acordos obscuros, interesses escusos: exemplo o deputado
dono de escolas particulares que diz acreditar e buscar investir prioritariamente
em educação pública. Mentira. Ou o dono de hospitais particulares, empresas de
segurança, e mais, mais e mais.
Nós cada vez menos. A coisa cada
vez menos pública por estar sendo vilipendiada pelo mau uso da
representatividade.
Minha mente caminha por estes
rumos quando penso em eleição.
E vai além. Outro exemplo: votei
na última eleição ao senado na candidata Marta Suplicy e qual não é minha
surpresa quando ela ganha a eleição e não fica senadora, mas ministra. Quem
fica em seu lugar no senado? Ela vai ter a cara de pau de voltar a pedir voto a
este cargo? Assim como a cara dura de José Serra que quase nunca termina os
mandatos porque sempre utiliza-os como trampolins para um cargo mais alto na
esfera de poder.
Muito além disso: altos
salários, assessores desnecessários, cargos de confiança, aparelhamento do
estado, controle da mídia.
Tudo pelo partido, tão assim que
se confundem os interesses do partido e os do Estado. Há empresas, secretarias,
ministérios e até organizações não governamentais que mantém durante todo o
mandato do cidadão eleito outros cidadãos com posturas nada republicanas como
funcionários muitas vezes fantasmas. Os cabos eleitorais não querem eleger o
vereador, mas sim o próprio emprego na teta do governo que querem continuar
mamando por mais alguns anos. Ou pra sempre.
Mas por que votar? Somos, como
já disse, uma república representativa, o que é bom, me sobra tempo pra cuidar
da minha vida e buscar meus sonhos. Numa democracia direta tem que se preocupar
a todo instante com a coletividade – o que é bom – mas cansa; enche o saco.
Afinal, eu tenho o direito de ser egoísta se eu quiser – não é um país livre?
Ninguém nunca foi preso por ter
opiniões equivocadas, este é o belo do regime democrático. O direito que eu
tenho de estar errado, e poder arcar com as consequências dos meus atos se
assim for. Há advogados, promotores, juízes. Leis que devem garantir minha
segurança, inclusive o de estar escrevendo neste blog o que agora escrevo.
Todos temos o direito a uma opinião, inclusive o direito a não tê-la.
Quando as opções são execráveis,
como é o caso da eleição de 2014 não há muito o que fazer: salvo algum eventual
problema não importa quem vença a eleição majoritária para a presidência, o grupo
que governará será o de banqueiros, empreiteiros, redes de comunicação,
latifundiários, grupos privados sem interesses republicanos e todos
representados pelo que há de mais atrasado no ocidente. Tudo representado numa
sigla: PMDB.
Desde os primórdios da Nova
República que este grupo governa, direciona e cacica o Brasil. Sempre escolhi o
menos pior, desta vez eu voto Nulo.
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