Lendo o livro do Jorge amado "Capitães da areia" me deparei com um personagem figurante que é descrito como o homem do sobretudo. O narrador onisciente intruso tece uma opinião muito peculiar, diz que o sobretudo chama a atenção, diz que a vestimenta tem mais personalidade que o dono.
No século XXI onde não existe mais a questão "melhor ser do que ter" porque hoje somos o que temos. Assim seremos julgados.
Nossas coisas têm mais personalidades que nós e as experiências que deveríamos acumular ao longo da vida, que nos dariam a nossa personalidade, jeito de ser, pensar, amar, odiar, viver em comunidade, se esvaem.
Todos os filmes o mesmo filme, todas as viagens a mesma viagem.
Confesso que me chocou ver uma menininha dançando funk com a camiseta do Ramones, mas também me choca um Papai Noel no meio do nosso calor tropical.
Me choca mais saber que aquela camiseta do Ramones tem mais história, mais personalidade, muito mais a dizer que a garota. (Isso de uma banda punk, que a priori não quer dizer muita coisa - mas diz).
As coisas falam. Todos estão preparados para auscultar o pulsar das coisas, mesmo os frequentadores de camarote que sabem do poder da Ferrari, de um Armani, um Rolex. A Champagne. Tudo com maiúsculo, já vi Brasil escrito em minúsculo em vários lugares oficiais...
Os objetos falam. As pessoas calam.
E no meio de tudo ninguém decidindo nada, sendo decidido. Todos pensando que falam quando são falados, que pensam ao serem pensados. Uma neoescravidão, onde tudo é vendido, inclusive as boas coisas.
Em propaganda ideológica isso é chamado cooptação, que nada mais é que trazer tudo para a economia de mercado, todos.
No Brasil do salário mínimo e de fome um tênis pode custar mil reais e encontra compradores que o parcelam em dez, quinze, vinte vezes, acumulando prestações ao longo da vida. Tudo numa mesma dívida, que é óbvio, será paga com a vida.
O nome no SPC, Serasa e afins é a liberdade, assim não se pode mais comprar. É a liberdade. mas ninguém quer a liberdade do nome "sujo".
Tudo ultrapassado antes de ser pago.
Um novo modelo dever ser vendido, parcelado, quitado.
Um novo produto.
Novos mercados.
Todas as culturas a mesma cultura.
Por Mauro Marcel
Por Mauro Marcel
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