Se o estádio estiver em São Paulo, há a possibilidade de vinte destes cem mil torcedores serem assassinados no período de um ano.
Se o estádio for em Maceió, cem seres humanos em cem mil seriam assassinados.
No Afeganistão 19 em cem mil.
Na Inglaterra 7.
A média mundial por mortes violentas no mundo é de dez por cem mil habitantes, no Brasil é de vinte.
Isto significa o que está posto: em uma multidão com cem mil pessoas, no Brasil vinte seriam assassinadas em média, em Maceió cem pessoas em cem mil.
Em um único ano.

Em um único ano.
Me repito?
Um dado diferente:
No Brasil de cada cem assassinatos apenas 10 assassinos são presos. De cada cem presos menos da metade é condenada. Dos condenados a média do tempo na prisão é de menos de dez anos.
Nos Estados Unidos de cada cem assassinatos metade é desvendado, na Inglaterra 92% dos assassinos são presos.
A vida vale muito pouco por aqui.
A vida vale muito pouco por aqui.
No Brasil há algumas verdades inconvenientes que não estão no horário nobre, enquanto o discurso policial é exaltado.
As estatísticas apontam que negros, com baixa escolaridade, moradores de periferia, são as principais vítimas. É a nossa guerra civil particular. Assuntos pouco tratados por especialistas, mais interessados em se especializar, enquanto a voz é dada aos programas vespertinos, com o pobre chegando em casa ao fim do dia e assistindo às pessoas sendo assassinadas em Full HD, quase ao vivo, repetido à exaustão, comentado à sofreguidão.

Nesse momento há punições, prisões, mostram o bandido algemado, humilhado, típico de tempos piores com Gil Gomes, Afanásios Jazadjjis, Aqui e Agora. Notícias populares que escondem a verdadeira verdade que poucos sabem, poucos se interessam em saber e muitos querem mesmo esconder:
"O Brasil é o país da impunidade, mas não o país da impunidade pra menores, políticos e ricos. É o país da impunidade para todos. Ricos e pobres, altos e baixos, gordos e magros." E é claro, nesta impunidade extrema os pobres são os que sofrem muito mais, não temos dinheiro pra pagar segurança particular.
Se todos os mandados de prisão fossem cumpridos teriam que construir o triplo dos presídios que existem por aí.
Se todos os crimes fossem solucionados e levassem os criminosos à prisão teriam que multiplicar por trinta o número de celas.
"O Brasil é o país da impunidade, mas não o país da impunidade pra menores, políticos e ricos. É o país da impunidade para todos. Ricos e pobres, altos e baixos, gordos e magros." E é claro, nesta impunidade extrema os pobres são os que sofrem muito mais, não temos dinheiro pra pagar segurança particular.
Se todos os mandados de prisão fossem cumpridos teriam que construir o triplo dos presídios que existem por aí.
Se todos os crimes fossem solucionados e levassem os criminosos à prisão teriam que multiplicar por trinta o número de celas.


Por isso que quando a caixa do banco te dá dinheiro a mais você não devolve e se devolve te consideram babaca, por isso que quando ninguém está olhando você passa o sinal vermelho, estaciona na vaga pra deficiente, joga papel na rua, desrespeita o professor, compra a juros e não paga, nem pensa no que comprou. Por isso que fazemos gatos na rede elétrica, compramos softwares piratas, roubamos internet e TV a cabo do vizinho, votamos em quem rouba mas faz. Pior do que tá não fica. Por isso deixamos a cargo da escola a educação dos filhos, pagamos pra não sermos multados pelo guarda de trânsito, estupramos e não matamos, queimamos índios e dentistas e não somos presos porque a lei está do nosso lado.

Acredito ser a diferença entre país e nação. Falta-nos muito pra sermos uma nação.
E polícia aliado a punições, apenas, não transforma territórios em nações, se fosse assim a Somália, que é um dos países mais punitivos do mundo seria o melhor lugar pra se viver.
A nossa doença social passa por uma reformulação completa da constituição aliado a massivo investimento em educação e formação, inclusive dos que já saíram da escola há muito tempo.

Vivemos em um estado de completa alienação ao futuro ou ao passado, num eterno momento presente, sendo que este nunca está isolado, assim como não estamos sozinhos no planeta, muito menos no universo segundo sérios cientistas.
Nossa falta de respeito pelo outro é fruto do nosso caldo de cultura. Levará séculos pra amadurecermos, ou décadas, dependendo das atitudes que tomarmos hoje.
Deveríamos começar descriminalizando a venda, porte e consumo de todas as drogas que existem. Desta forma acredito que mais da metade dos presos seriam soltos, ficariam presos os traficantes assassinos, deixando espaço para bandidos de verdade cumprirem pena. E isto não se trata de apologia ao crime, trata-se de justiça
Começaríamos por retirar da prisão quem não deveria estar lá.



Os estadunidenses resolveram esta questão de forma exemplar, tanto que venderam a ideia para o resto do mundo: investiram maciçamente na indústria do entretenimento e esportes e policiaram o consumo de drogas; resultado? os debates mudaram, deixaram de ser sobre o patrão que não dava aumento para ser sobre quantos pontos o rebatedor fez no último jogo, se foi ou não impedimento, se foi ou não falta, quando será a visita à Disney World, o novo carro (esporte), o novo telefone (com internet), a nova conexão (4G).

E mesmo que você discorde de muito ou tudo o que digo neste artigo, é óbvio que estamos em perigo: balas perdidas, assalto, sequestro, estupro, furto, alguém pode nos atropelar e levar nosso braço pra jogar num rio (e nem ser punida por isso).
Mas o que fazer? Faltam culhões aos que se importam com a questão, falta educação aos que sofrem e falta honestidade aos que têm o poder de mudar algo. Falta o Brasil como nação.
Porque enquanto uma pessoa é morta a cada cinco minutos no Brasil, os presidenciáveis discutem a próxima eleição. Não há projetos de governo no Brasil, há projetos de poder. Temos nomes para os próximos mandatos e não projetos claros para resolver questões básicas como a nossa própria segurança, a dos nossos filhos.

Infelizmente ainda não somos uma nação. Falta muito, e nos falta muito, do pequeno ao grande, do exterior ao centro, e esta mudança não virá de fora pra dentro, tem que ser urgente, firme, corajosa, ousada e tem que incomodar. E disto nasce minha descrença, desacredito e muito.
Queria acreditar um pouco mais. Mas está chegando a copa e deixe-me torcer em paz pelo meu Brasil pentacampeão do mundo, o melhor de todos, inimigo da Argentina, mais poderoso que a Itália, mais vitorioso que a Alemanha.
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