Opinião, conto, crônica, fotografia, poesia, vídeos, humor, crítica e o que mais se passar por esta cabeça. Clique nos links e escute os textos em formato podcast. Autor: Mauro Marcel - escritor, poeta e professor.
domingo, 16 de agosto de 2015
terça-feira, 28 de julho de 2015
segunda-feira, 27 de julho de 2015
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Coreia do Norte, neomilionários e ONGs
Um aluno meu uma vez me perguntou
qual era a minha ideologia. Eu que há tanto não pensava mais nisso, perguntei ao
jovem do motivo da curiosidade, me respondendo que eu tinha fama, entre os meus
pares e demais estudantes, de ser um direitista.
Achei
curiosa a informação. Não tinha noção de ter sido em algum momento alvo de
comentários, aprovação ou reprovação, enfim, estamos no mundo e nele sujeitos
ao julgamento de todos, o que me permite julgar também. Daí escrever em meu
blog, gravar vídeos, fotografar, fazer teatro, cartuns, escrever livros.
Quando
deixar este mundo terei um curto espólio que ficará perdido no imediatismo da
rede, sempre tão propensa a ideias fritas. Aquelas feitas para serem comidas
quentes e nunca provadas depois. A internet é um grande pastel, come-se agora;
sem valor algum no futuro. Vez ou outra, alguém prova-o frio, recuperando
alguma imagem antiga, fatos passados, na internet seis meses é muito tempo, mas
divago. Volto para o meu ponto:
Pedi
que lesse os meus escritos e me dissesse o que pensava de minha ideologia, isso
e a minha postura enquanto professor.
Sabendo
que o efebo não faria o que pedi, uma semana depois separei um espaço de tempo
pra conversar explicando os pontos da minha atitude enquanto pensador. E pra
minha surpresa o rapaz havia pesquisado em meu blog, leu alguma coisa do meu
livro e até reparou em minhas aulas. O que não o levou a tirar grandes
conclusões.
Não
sou de direita, posto que também não sou de esquerda. Me achava um liberal
progressista, hoje não me acho tão progressista assim. Mas fala sério, se me
comparar com a maioria dos que se dizem liberais... deixa pra lá.
Resumidamente
um esquerdista é um alguém que acredita no poder controlador do Estado na
economia, quanto mais influência o governo tiver nos meios de produção, mais
uma economia pode ser considerada de esquerda.
Eu não
acredito nisso, não mais. Um grande exemplo de onde isto acontece no mundo é a
Coreia do Norte. Lá o Estado não controla apenas a economia, mas também cada
aspecto da vida de cada indivíduo, isto é, o esquerdista não acredita no ser
humano enquanto indivíduo, mas enquanto coletividade.
Daí
as organizações como sindicatos, movimentos sociais e ONGs serem, à priori,
grupos de esquerda.
Também
resumidamente um direitista é, obviamente alguém que acredita no oposto ao que
um esquerdista pensa: o Estado deve interferir o mínimo, ou nada, na economia.
Deixando os meios de produção se virarem por conta própria.
Há o termo
cunhado por Adam Smith “A mão invisível do mercado” que deve gerir os caminhos
do capital.
Eu não
acredito também nisso não. É necessário algum grau de controle para que abusos,
principalmente para o lado mais fraco, ou seja, os trabalhadores, não seja
prejudicado nesse processo.
Sem
os “direitistas” não teríamos luz elétrica, celular, computador, automóveis,
penicilina e tudo o que está te cercando neste momento enquanto você lê o que
agora eu escrevo, pasmem roqueiro comunista, sem os direitistas não teríamos
nem o rock’n roll.
Sem
os “esquerdistas” ainda trabalharíamos dezesseis horas por dia, inclusive as
crianças, não haveria férias remuneradas, licença maternidade, segurança no
trabalho, dissídio coletivo, e todos os direitos trabalhistas e outros como o
direito do consumidor, frutos de lutas da população por uma relação mais justa
com os donos dos meios de produção.
Acho
que já dá pra ver onde eu quero chegar. Mas ainda não.
Uma
confusão geralmente feita nos dias de hoje é confundir esquerdista com liberal
e direitista com conservador.
Um
liberal é o fulano que acredita que o mundo deve seguir pra frente e mudar
aceitando ideias novas, às vezes perigosas por falta de teste, como liberação
das drogas, todas elas, ou uma proposta de meio termo como a da liberação da
maconha. Também a questão do casamento gay, muito em voga entre os liberais.
Um
conservador como o nome mesmo diz, é o cara que acredita que as coisas,
justamente por terem sido experimentadas, devem continuar como estão. Daí o
sujeito defender o casamento tradicional entre um homem e uma mulher, às vezes,
(repito: às vezes) não é por mal, o medo do novo afeta a todos, mas o
conservador leva isso para sua vida. Então acredito ser normal um indivíduo que
viveu seus melhores anos de vida no período da ditadura militar querer
conservar o governo ditatorial brasileiro.
Todos
somos liberais em alguns aspectos e conservadores em outros.
Como a jovem
toda descolada pulando a janela para aos bailinhos nos anos 1970 e transando
sem usar a pílula, mas se recusando abortar por estar carregando uma nova vida
em seu útero, mesmo com poucas semanas.
Ou
o grupo que se levanta a favor da liberação da maconha e se ofende com os
cigarros da Souza Cruz.
Não é
hipocrisia como muitos dizem: é o ser humano. Contraditório pela própria natureza.
Ainda: o roqueiro ávido por novidades, mas que odeia as
novidades de agora: “quanto barulho meu Deus do céu, no meu tempo é que a
música era boa, etc. etc.”
Será
tão difícil encontrar alguém que defenda o casamento gay (super liberal) e seja
contra o aborto (conservador)?
O
grande problema de hoje é que o esquerdismo tem um irmão feio (horroroso aliás)
chamado comunismo. Seria o esquerdismo levado às últimas consequências como na
já citada Coreia, ou na extinta União Soviética, entre outros exemplos de
países que deixaram tudo na mão do estado e deixou a população até sem papel
higiênico.
O
problema é que o mundo não está mais divido desta forma. Sabe aquelas aulas
sobre a Guerra Fria? Dois blocos aliados, muro de Berlim e coisa e tal? Pois é,
o mundo não é mais daquele jeito. Mas parece que tem uns esquerdistas
conservadores que insistem na mesma ideia de dividir as pessoas em alinhadas
aos Estados Unidos ou à URSS, porém a URSS não existe mais, o que restam a
elas?
A
resposta é bem simples: cooptar todos os movimentos sociais, as minorias, os
desvalidos e se arvorarem de defensores deste público. Daí os líderes do
Movimento Negro, por exemplo, serem de orientação marxista (Karl Marx o
idealizador do Comunismo nas páginas de O Capital, livro que não conheço um
comunista que tenha lido).
Mas gira uma
confusão na minha cabeça ao perceber que a luta deste movimento não é para que
haja mais intervenção do Estado na economia, mas para que haja ascensão social
do povo negro, típico de um movimento burguês. (Não me levem a mal amigos do
Movimento Negro, sou a favor de todas as políticas de ação afirmativa, apenas
não acredito ser uma luta clássica de esquerda.)
Há
inclusive alguns equívocos, por exemplo, o de acharem todos os líderes de
esquerda iluminados de Deus. Che Guevara era comprovadamente contra os
homossexuais. Foi numa parada do orgulho gay que vi vários participantes com a
famosa camiseta do rosto e da boina.
Ou
de que todo líder de direita seria um fascista. Se não fosse pela liderança de
Winston Churchill na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial o mundo seria
bem diferente do que é hoje. Também não podemos generalizar, basta estudar um
pouco de história: também graças à socialista União Soviética e aos
capitalistas Norte Americanos. É claro, cada um com seu interesse.
O erro é ver
em um lado os mocinhos e no outro os vilões. Não há isso no mundo me querido
amigo, nunca houve, nunca haverá.
O
fato: sem os investimentos, pesquisas e competição do mundo capitalista você
jamais teria esse celular aí no seu bolso, talvez nem a alface cheia do
agrotóxico que insultamos, mas passaríamos fome assim como nos informa Thomas
Malthus em “An Essay on the Principle of Population”.
Como
dá pra ver, respondendo à pergunta do meu aluno: em questão de esquerda e
direita fico com a direita pela organização, pesquisa, tecnologia, mais anos de
vida. E com a esquerda pela conquista dos direitos trabalhistas, lutas sociais
e busca do bem estar coletivo.
Odeio
a direita quando trata o ser humano como apenas uma máquina de produzir
riquezas, um escravo moderno. Ojerizo esquerda quando esquece que todo ser
humano é um indivíduo autônomo e capaz de decidir seu próprio destino, em suma,
odeio ideologias coletivistas.
Que
fique bem claro: nenhum país é inteiramente socialista (esquerda) ou
capitalista integralmente (direita). Há, por exemplo, nos Estados Unidos o
ensino público gratuito. E em Cuba Hotéis particulares. A China com seus
neomilionários, inclusive com times de futebol contratando jogadores
brasileiros a peso de ouro.
Quanto
a conservador ou liberal, como descrito acima, não acredito que haja um ser
humano totalmente um ou outro. Mas de acordo com os meus posicionamentos sou
mais progressista que conservador: sou a favor do casamento gay e consecutiva
adoção de filhos, liberação da maconha, sou contra a redução da maioridade
penal, a favor de política de ações afirmativas, mas não acho que o aborto seja
uma boa.
Fico
pensando que o corpo pertence à mãe, mas o corpo do feto pertence a quem? Para
um ateu é questão saúde, para um religioso é assassinato. O Brasil é laico, mas as pessoas não.
Porém
o que me difere de uma topeira de esquerda ou direita, conservadora ou liberal,
é que se me perguntarem sobre qualquer um destes assuntos daqui há uns dias
posso ter mudado completamente de opinião. Isso enquanto os que pegam o
discurso emprestado de professores proselitistas leitores de orelha de livros
posam de libertários com suas frases prontas.
O
ser humano é muito mais que dois lados, é o que quero dizer. Como o Clarion diz
num dos seus vídeos no Youtube: a ideologia é como uma caixa de bombons em que
você escolhe os que te agradam e deixa para outra pessoa comer o que não é de
seu gosto. Ninguém é obrigado a engolir goela abaixo todas as premissas de
livro algum. Há muito de religioso na forma como muitos líderes de partido
tratam sua ideologia.
Conheço
muito liberal que pensa ser de esquerda quando na realidade é apenas liberal,
conservador em alguns aspectos, odeia os Estados Unidos, mas não larga o
celular e não tira o All Star do pé. Assim que é o mundo assim que o mundo é.
Tem
muita gente por aí tendo que ficar pensando no que seu guru diria antes de
responder a qualquer pergunta que exija um pouco mais de raciocínio. Gente que
pensa por slogans e gritos de guerra. Fazem isto quando deveriam consultar as
próprias convicções.
Mas é muito
perigoso pensar sozinho, há de se ter muito mais argumentos, porque uma
multidão faz absurdos, para um lado ou para outro. Os linchamentos físicos e
morais estão espalhados por toda parte.
Entretanto
o que vejo hoje é apenas um bando de canhotos, ambidestros, pseudo
intelectuais, semianalfabetos, um monte de gente que não tolera o contraste.
Como o PT subindo ao poder com o discurso de que os que pensam diferentes deles
são inimigos da nação, um absurdo sem tamanho e repetido ad nauseam tornando-se
verdade como ensinado por Goebbels o propagandista da Alemanha Nazista.
Ou
a bancada religiosa, que não é de direita, é conservadora justamente por ser
religiosa. Toda religião é à priori conservadora, os cultos liberais não se sustentam.
O problema é discutir questões econômicas (direita e esquerda) em meio a
questões sociais (conservadores e liberais) sabendo que em certo momento tudo
isso se mistura, mas que não se pode discutir a sério pensando que basta alguém
ser diferente, pensar de outra forma, olhar o mundo com outros olhos que tem aí
um inimigo de morte pronto para destruir suas convicções. O mundo é mais que
isso.
Não
acredito que todos estejam certos, o que equivaleria dizer que todos estão
errados. Mas independentemente de qualquer coisa, é necessário haver tolerância.
E quando passarmos a ensinar isto nas escolas, dentro de nossas casas, nas
igrejas, templos, sindicatos, clubes, pastorais, centros espíritas ou de
candomblé, quando enfim passarmos para a frente a marca da tolerância, o mundo
será muito mais que uma coisa ou outra, será o local da diversidade tão sonhada.
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