sábado, 29 de dezembro de 2012

Ditadura, matemática e recordações


        
Era fim de ditadura, ou era o início de outra? Mas não tínhamos noção disso naquele ano, naqueles anos, era 1985, 1986, 1987 e a ditadura não existia. Não existia dentro da escola.
          Vinte anos depois a lembrança me traz à cabeça recordações de professores ditadores que não discutiam o sentido vocabular, ou histórico, talvez filosófico da palavra ditadura. Meu sonho era o de ser um professor naquele tempo, ao menos era.
          Hoje não tenho mais sonhos e nem sou um professor igual àqueles: que insultavam, batiam, castigavam. Professores donos de um saber enciclopédico que tinham como única função manter os alunos em silêncio e escrevendo muito no caderno. Escrevendo o que diziam ser importantes sem nunca dizer o porquê de tal importância. Uma matemática obsoleta, uma geografia bizarra, uma história mais bizarra ainda, nem as aulas de língua portuguesa se salvavam trazendo uma literatura descompromissada com o texto e mais próxima da falsa aula de história.
          Havia no meu tempo de escola falsas aulas, falsos professores, alunos alienados. Isso tudo ainda há.
          Mas hoje, conhecendo o sistema educacional por dentro, percebi que não há e nunca houve falsos professores, falsas aulas ou alunos alienados.
          O que há e sempre houve foi o ser humano em determinado contexto histórico-social, o que há são intenções sendo desenvolvidas, sonhos sendo iniciados, revoluções pessoais interagindo. A educação é uma fase da vida de alguns, uma missão para outros, salvação para muitos, desejos de outros tantos.
          Mas o que ficou daquela época foi a certeza de que não importa a época, se mais ou menos libertária, se mais ou menos ditatorial. O que importam são as pequenas tarefas e a maneira como são apresentadas e desenvolvidas. O ser humano acima de tudo, num momento especial de sua vida, descobrindo o mundo, trabalhando seus potenciais com maior ou menor intensidade.
  Tenho esperança de que a educação continue este organismo vivo que é: pessoas construindo e desconstruindo, “afinado e desafinando”.
          Pois tive uma educação da pior qualidade no meu tempo, mas quando reencontro um dos professores daquela época só vem a minha cabeça ótimas recordações. Quando me olho em meu interior percebo reflexos daquele tempo e vejo que a escola sempre será boa, mesmo quando ruim.
          Imaginem como será quando ela for boa de verdade.

2 comentários:

  1. E eu que ganhava livro por bom comportamento em sala de aula? "Bom comportamneto" era ficar calado, escutar calado e mesmo calado estar errado... Valeu, Mauro!

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  2. E você ainda ganhava livro...
    Que inveja!!!!!!!!

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