quinta-feira, 11 de abril de 2013

Carta ao José da Silva

       
         Caro José da Silva, me desculpa se me intrometo assim na sua vida, mas fiquei sabendo de algumas coisas sobre você e não me contive, não posso me furtar a dizer-lhe nestas mal traçadas linhas alguns pensamentos que me passam pela cabeça.
          Isto porque primeiro não acreditei, mas vendo bem, percebi que tudo não passava da mais absoluta verdade.
          Não vai me levar a mal, eu sempre te defendi, mesmo quando diziam que você falava errado, que era ignorante, não gostava de trabalhar, machista e folgado. Agressivo e violento. Demorei pra perceber que era tudo verdade. E agora José?
           Desculpa.
           Mas vou falar.
        Que negócio é esse de dar mais atenção pra futebol que pra saúde das crianças? Onde já se viu? Gastar tanto em jogo. E se eles precisarem de médico, hospital; e se os meninos ficam doentes?   Com criança não se brinca.
           Ainda mais  agora ganhando um dinheirinho. Podia fazer algo com essa grana, tipo um curso de informática pros meninos, guardar pra faculdade quando todos crescerem. Mas você prefere comprar um aparelho celular pra cada um. Não vê que eles ainda não têm idade pra ter um telefone só deles, vai distraí-los das aulas, vão acabar se imbecilizando, esquecendo os livros, desrespeitando os professores.
           Não adianta falar que os filhos do vizinho têm e que os seus precisam ter também, isso é papo de novo rico idiota e você nem é novo rico, está parecendo idiota.
             José, muito me admira essa marra toda.
            Também, o que esperar de alguém que votou no Tiririca na última eleição, e não só, elegeu o Enéias na outra, vota no Maluf, aceita o Feliciano na Comissão de Direitos Humanos e ainda diz que isso tudo não tem nada a ver com você.
           Prefere ficar vendo novela, tomando cerveja, torcendo pro seu time, organizando festa pras visitas e esquecendo seus filhos sem médico e semi analfabetos. Tudo bem, desde que eles possam acessar a internet e tomar coca cola, comendo big mac. O que vai ser deles daqui a cinco anos? Daqui a dez? Vinte?
           Você nem se importa.
            Joga lixo no chão no inverno e reclama quando sua casa inunda no verão.
         Paga propina pro fiscal e diz que o mundo é injusto quando a sua casa desmorona e mata o cachorro, o gato e o rato. 
          O pato?
          Acho que pode ser sua pouca cultura, ou falta de educação, talvez a culpa nem seja sua, mas preciso te questionar, quem sabe começa a pensar a respeito, eu me importo mesmo contigo.
         Mesmo você não se importando com nada. Nem com a caixa do supermercado que te deu trinta reais a mais no troco e você nem devolveu.
         Eu lembro desse dia, chamou a moça de idiota, mas (desculpa falar) o idiota foi você, o dinheiro não te faria a menor diferença e a moça do caixa não ganha o salário mais justo do mundo. Acho que você tomou uma Brahma, ela tomou o rumo da saída, foi demitida.
             Assim como o salário que você paga pra seus empregados, agora você tá fazendo reforma na casa e nem se importa em pagar aquém do mínimo e exigir o máximo. Acha que pode explorar, pode exigir, vive dizendo que o dono do dinheiro é o dono da vontade. E essa reforma bem que poderia ser no quarto das crianças, mas prefere reformar a churrasqueira, a piscina, o quarto de visitas. Já consertou aquela goteira no quarto das crianças? Duvido muito.
           E agora que já falei tanto, queria falar mais, mas duvido que que você tenha chegado a ler até aqui: passa o dia inteiro com os olhos colados no Facebook, cuidando da vida dos outros, mas não consegue correr os olhos num texto com mais de cinco linhas.
             Você está ficando muito raso e vive repetindo: os vizinhos também.
         Cuida sempre do que os outros vão falar de você e esquece de cuidar da sua própria casa. Sua família.
           Mas é assim, estou falando isso porque gosto muito de ti, poderia até dizer que te amo, mas não vou ser tão hipócrita, você me magoa demais e meu amor não é assim, como dizem, incondicional, eu imponho condições.
             Não basta ser bonito. Não se engane. Beleza é inteligência e você é muito raso. Não lê, não escreve, não calcula, não cuida da família e ainda reclama quando vem alguém de fora e joga na sua cara os seus problemas, assim como o Matt fez alguns anos atrás. Mas deixa pra lá, José.
              Pra você está tudo ótimo, muito feliz você. É o que dizem: a ignorância é uma benção. Embora seja o Mestre da sua religião (está bem na porta da sua casa com os braços abertos) que diz que você precisa conhecer a verdade, porque ela te libertará.
          Aqui me despeço, triste por muitos motivos, mas tocando adiante. Só peço uma última coisa, uma última crítica ao seu estilo neo-boêmio: shopping center não é lugar de ser feliz e a frase é "penso, logo existo" e não "consumo, logo existo".
            Infelizmente, você consome demais e pensa de menos.
            Aqui encerro, esperando breves notícias.
            Até!

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